foto01

Nenhum evento que eu irei organizar em toda minha vida será perfeito, por mais que 99.99% do que eu tenha planejado se confirme, sempre haverá algumas falhas, algumas claras e perceptíveis, já outras que só serão vistas pelos meus olhos e nem serão consideradas falhas pelos demais.

Organizar o DBM é um desafio monumental e o principal motivo é que não existe nada paralelo que eu possa me basear. Organizar uma corrida de rua, uma corrida de aventura, um rally, há centenas de fontes de informações e até profissionais especializados, agora o que não encontrei em nenhum lugar do mundo uma proposta de treinar ao mesmo tempo, centenas de pessoas inexperientes durante mais de um mês, para que elas se condicionem e consigam vencer pedalando uma longa e difícil distância.

Conversei com alguns organizadores de grandes eventos e todos foram unânimes em me chamar de maluco, ainda mais pelo preço que estava cobrando. Para se ter uma ideia, o Big Biker cobra um preço médio de 110 reais por etapa e olha que eles tem vários patrocinadores e apoiadores. Já nós no DBM sequer fomos atrás dos patrocinadores, pois sabendo se tratar de algo inovador, preferimos organizar algo com um número limitado de pessoas pois ainda estamos na busca de um formato ideal que possa atender o máximo de pessoas ao mesmo tempo. Apesar de ser meu trabalho e dentro do Kit incluir uma parte que irá garantir o leite das crianças, (quantia que sequer tenho noção de quanto será e se existirá ao final do DBM), ao determinar o preço dos Kits, tentei chegar num valor que cobrisse a série de gastos que previ e que não impossibilitasse as pessoas com menos possibilidades de participar. Nem preciso dizer que já começaram a surgir gastos que não previ.

Toda essa introdução é para dizer que o Desafio Bicicletas ao Mar, desde sua primeira edição, vem sendo construído a cada etapa não apenas por mim, mas por todos os participantes e com o único objetivo de atender um número cada vez maior de pessoas de forma efetiva, portanto todos os participantes desse Desafio fazem parte dessa construção permanente.

O primeiro Desafio nada foi cobrado, no começo eram apenas treinos de domingo nos quais eu ia guiando os ciclistas, mas éramos grupos de no máximo 15 pessoas. Ainda no primeiro Desafio surgiram os treinos noturnos, o que ajudou a acelerar esse ganho de condicionamento. No segundo DBM os treinos noturnos, quando bombavam, éramos cerca de trinta ciclistas, mas os de domingo, logo no primeiro foram oitenta. Fomos num único pelotão e merdas começaram a acontecer, por causa disso surgiu a ideia de planilhar os roteiros. Dessa forma bastava um ciclista zerar seu velocímetro e com uma planilha em mãos iam se auto-guiando, formando diversos grupos com ritmos diferentes. A não necessidade de seguirmos num único pelotão viabilizou os treinos dominicais do Desafio.

Para o 3º DBM, a principal inovação foi a sinalização do trajeto de todos os treinos dominicais com placas, mas o primeiro contratempo surgiu quando demos início a sinalização no sábado de manhã. Estávamos de carro, paramos na Praça Panamericana e ficamos imaginando como parar o carro na Pedroso de Morais e fazer uma sinalização junto ao canteiro central. Foi quando decidimos na hora que começaríamos a sinalização as 4h00 da manhã de domingo, de bicicleta e com um carro nos dando apoio para carregar quilos de placas e abraçadeiras.

Sabia que haveria grandes chances do pessoal do primeiro pelotão me encontrar no caminho ainda sinalizando, até porque seria nossa primeira sinalização e não tinha a exata noção do tempo que gastaríamos para sinalizar a rota inteira, portanto eu torcia para que os encontrasse apenas na Ciclovia da Radial Leste, o trecho mais longo e fácil de sinalizar.

Sabia também que até a Ciclovia da Radial haveriam vários cruzamentos e quebradas com uma necessidade maior de placas, mesmo com tantas possibilidades de dar merda, as 4h00 da manhã lá estávamos nós saindo para a sinalização.

Estava até que correndo bem, mas quando eu vi uma massa de verdinhos descendo a Rangel Pestana antes das 10h00 da manhã entrei em pânico. Ainda os verdinhos, os ditos “Desafiantes” que haviam saído as 8h00 da manhã da Vila Olímpia! Como imaginar ter tantos verdinhos turbinados no nosso grupo? O lado bom de tudo isso é saber que não será tão difícil termos um alto índice de Desafiantes chegando a praia, mas ficou claro que essa não é a melhor forma de fazermos a sinalização.

Poderia fazer isso durante a semana, mas correríamos um enorme risco de termos as placas vandalizadas e na pior das hipóteses, vandalizadas por pessoas de má fé, alterando os sentidos das placas e guiando os ciclistas para fora da rota, portanto a sinalização deve ocorrer o mais próximo possível da data do treino. Sobre a sinalização eu recebi diversas manifestações distintas, muitos me ligaram dizendo que as placas haviam “sumido”, que estava mal sinalizado e que estavam perdidos, em compensação foram vários os ciclistas que me elogiaram dizendo que a sinalização estava perfeita e intuitiva, mas quem tá certo? Ninguém e vou explicar por que.

Eu errei, sei exatamente aonde e irei trabalhar para corrigir meus erros no próximo treino, mas muitos dos que se perderam sequer se deram ao trabalho de ler o Briefing que enviei a todos os participantes na sexta feira, com detalhes do trajeto. Uma amiga minha (ciclista Master), me ligou dizendo que estavam em “Itaquera” com um grupo e que não haviam visto mais placas. Se ela ou alguém do seu grupo tivesse perdido 10 minutos para ler o email que mandei no sexta a todos os participantes, ninguém teria se perdido, vejam abaixo um trecho desse email.

(…) Depois do Largo da Concórdia, você seguirá por ruas de bairro até o Metro Tatuapé, ao chegar ao Metro, acesse a estação como se fosse entrar no Metro e acesse a Ciclovia da Radial Leste. Tentarei colocar uma sinalização dentro do Metro, mas se não for possível, se informe com os funcionários sobre como acessar a Ciclovia.

Siga por ela até a Estação Artur Alvim e lá novamente faça a travessia por dentro do metro. Novamente tentarei colocar a sinalização lá dentro(…)

Esse é um problema, algumas pessoas ainda não entenderam o real intuito do DBM e principalmente a filosofia que eu adoto e procuro passar a todos. O DBM é um treino para tornar vocês cicloturistas e um cicloturista não pode ser dependente de ninguém, apenas dele e de sua bicicleta. Quanto mais dependente o ciclista for, maiores são as possibilidades de problemas ocorrerem. Um Cicloturista tem que se preparar para uma viagem, estudar o roteiro e estar preparado para os contratempos, isso deve ser uma regra pessoal.

Se quiserem fazer uma viagem cicloturística, com todo apoio do mundo, também vendo esse serviço, tá lá no meu blog. Mas as condições e os preços são outros, nas expedições cicloturísticas que organizo, se for preciso eu até puxo o ciclista numa cordinha por toda Serra do Rio do Rastro. Mas o DBM não é uma expedição cicloturística, é um evento que tem como objetivo mudar a vida de vocês, os tornarem mais independentes, confiantes e elevar a auto-estima de vocês. Qualquer ciclista que venceu os Desafios anteriores, se quiserem podem pegar a bicicleta sozinhos e cair na estrada, da mesma forma que eu fiz durante o Projeto Biomas.

No DBM criamos uma grande estrutura que irá ajudá-lo nesse sentido, mapeamos e sinalizamos roteiros com antecedência e dispomos de uma infraestrutura cara para facilitar a vida do ciclista, mas quem tem que vencer o Desafio “É VOCÊ”! Por mais que a gente se esforce, não conseguiremos fazer com que você vença o Desafio se o esforço maior não for o seu. Se infelizmente você vê o DBM como uma simples relação de consumo, onde você paga e só por isso temos que “servi-lo” e de preferência de forma diferenciada, sinto dizer que você vai sair ainda mais decepcionado.

Eu sabia que seriam muitos os que iriam se perder, mas isso também foi calculado. Teve um ciclista que me ligou dizendo que estava na Rua Clélia e não havia mais placas. Então eu disse para ele ir para a Rua Faustolo que a rota lá estava. Depois o mesmo ciclista me encontrou no Parque Ecológico e disse que a causa do erro foi que o pessoal simplesmente seguiu a massa, daí os ponteiros erraram e levaram todos para o mesmo caminho. Depois que passaram a prestar mais atenção as placas não se perderam mais. Aí que mora o problema, aqueles que vieram de forma independente, que estudaram o trajeto e foram prestando atenção na sinalização chegaram sem problemas e elogiando a sinalização. Esses ciclistas são melhores daqueles que se perderam? Obviamente não, apenas compreenderam o espírito do DBM e fizeram aquilo que pedimos desde o início. Ou mesmo leram o que foi escrito, acredito que esses ciclistas leram inclusive o termo de responsabilidade, algo que a maioria assinou sem sequer ler. Mal sabem ele que desde o dia 17 sou dono de todos os bens dessa galera… :p

Lembro da primeira vez que percorri o Caminho da Fé, no primeiro dia de viagem nos perdemos 3 vezes, no segundo dia quando chegamos a Águas da Prata, (e nos perdemos mais uma vez), onde fica a sede da Associação dos Peregrinos do Caminho da Fé, responsável pela sinalização da rota, desci a lenha na Iracema, uma das Diretoras da Associação, criticando o trabalho dela dizendo que estava mal sinalizada e com toda a paciência do mundo ela me ouviu e concordou comigo. Juro, que se fosse eu no lugar dela, EU teria ME mandado a merda!

Primeiro porque o Caminho da Fé foi feito para caminhantes, com o objetivo de os levarem em peregrinação até Aparecida do Norte, portanto a sinalização não foi feita pensada nos ciclistas, aliás os organizadores do Caminho da Fé sequer tinham bicicleta e quando bolaram o Caminho mal sabiam que ele seria invadido por ciclistas. Por exemplo, nas situações onde o ciclista tinha que fazer uma conversão no meio de uma descida, quase 100% dos ciclistas iam direto, pois não viam a sinalização porque estavam preocupados com as pedras do chão. Aí depois de um erro, ao invés de tentar corrigi-lo só pioravam as coisas (eu também agia assim). Quando percebiam que não havia sinalização, ao invés de voltar até a última placa para descobrir onde erraram, continuavam seguindo em frente na esperança de que brotasse uma placa do nada.

Não existe um caminho que “você acha que é o correto”, só existe “o caminho correto” e na maioria das vezes que alguém acha algo (isso na vida também), essa pessoa está errada. A partir do terceiro dia de Caminho da Fé já conseguíamos avistar uma placa a um quilômetro de distância e não nos perdemos mais. Depois que cheguei a São Paulo via setas amarelas pintadas em postes de tão condicionado que eu estava. Se quiser ver o vídeo dessa viagem que fiz em 2005 clique aqui.

Os primeiros treinos do DBM são urbanos por esse motivo, é melhor se perder na Lapa do que numa estrada indo para Itu ou São Roque. Tenho certeza absoluta que nos próximos treinos vocês verão as placas com muito mais facilidade. A placa não é pequena demais, ela tem o tamanho ideal para o ciclista e principalmente, está dentro das possibilidades do DBM, pois não tem a menor condição de fazer uma placa de 1 metro quadrado como as de carro, se eu tivesse que fazer assim teria que cobrar umas 3 vezes mais o valor do Kit.

Mesmo assim muita coisa vai mudar, como agora tenho todos os treinos bem definidos, irei planilhar todos os roteiros para disponibilizar no blog e no nosso grupo do Desafio, assim qualquer um poderá baixar e imprimí-lo, mesmo assim não serão todos a fazê-lo, principalmente essa minha amiga que se perdeu. Mas essa é exceção, ela é uma pessoa iluminada que fica feliz até quando se perde, quando leva um capote, quem dera todos os Desafiantes fossem como ela, o MUNDO seria mais fácil e mais gostoso de se viver.

Mas com a planilha e um velocímetro, o ciclista pode chegar ao destino mesmo sem a sinalização, agora com duas ferramentas para poder vencer os treinos sem a ajuda de ninguém. O Desafio é isso galera, vocês tem que percorrê-lo usando o mínimo da nossa estrutura, guias, carros de apoio, estão ali para ajudar quando as merdas ocorrerem, é como a Ambulância, gastei uma puta grana para ela só ficar queimando diesel pela cidade já que ela não foi acionada. Mas não considero um dinheiro jogado fora e ela estará presente em todos os treinos e espero firmemente que continue lá só passeando conosco, sem a necessidade de usá-la, pois tenho certeza que nenhum inscrito está a fim de conhecê-la por dentro, ou está?

No próximo treino começarei a sinalizar os roteiros as 22h00 da noite de sábado e de carro, assim de manhã estarei na saída com vocês. Minha mente pode até estar na cama, mas pelo menos meu corpo se fará presente, eu prometo. Os próximos treinos serão mais fáceis de sinalizar, há alguns trechos de quebradas, onde temos que colocar várias placas, mas há algumas avenidas onde não requerem tantas sinalizações, além de longos trechos de Ciclovias e Ciclofaixas. Tenho certeza que com a prática ficaremos mais ágeis e precisos até o final do Desafio, como vocês podem observar na imagem abaixo.

foto02

Comecei a escrever esse post sem abrir Facebook ou ler meus emails, quis escrever esse texto com antecedência para não me deixar influenciar pelos comentários, sejam negativos ou positivos que, com certeza, devem estar inundando minha caixa de mensagens e bombando de comentários no nosso grupo do Facebook, mas deixa o pessoal se matar para depois eu me manifestar.

Reforçando o que já disse anteriormente, eu também mereço ser enquadrado na categoria “Desafiante”, e tenho certeza que me sentiria mais confortável se eu pudesse de trocar de condições com vocês. Confortável sim, mas muito longe de ser meu desejo, desde o início sabia do tamanho da minha responsabilidade e podem ter certeza que não chutarei o balde, pelo contrário, irei pedalar junto com vocês até o dia 24 de março.

Só um maluco para juntar quase 200 ciclistas, sendo mais da metade iniciantes, ainda com alguns handbikes, para tentar levá-los à praia. Mas quem me conhece sabe que eu não sou nada normal mesmo, em toda minha vida sempre busquei grandes desafios e esse é só mais um que tenho certeza que superarei. Sei que jamais irei agradar todo mundo, mas é foi enormemente gratificante ver dezenas de ciclistas emocionados chegando na estação São Miguel no último domingo. Pensar que a maioria deles, meses atrás, sequer se imaginavam capazes de tal façanha.

Parabéns a todos que completaram o primeiro treino, estou realmente muito feliz por vocês, mais confiante do que estava dias atrás e ainda mais motivado para continuar me dedicando tanto ao Desafio. Mesmo por aqueles que desistiram no meio do caminho, sei que foram poucos mas para todos o treino foi uma vitória, só peço que continuem insistindo pois daqui a uma semana vocês estarão bem melhores. Será importante tentar participar do máximo de treinos e deixar para avaliar no dia se farão ou não o Desafio.

Não posso deixar de agradecer a todos os Guias que tanto me ajudaram nesse primeiro treino, é bom que todos saibam que a maioria dos Guias são ciclistas que venceram os desafios anteriores e que estão trabalhando de graça nesse Desafio. De graça não, estão recebendo sim, estão recebendo uma enorme satisfação de ver vocês chegando ao final de cada treino e satisfação por poder fazer parte dessa enorme façanha em suas vidas. Meu enorme agradecimento a todos eles, sei que mesmo quando chegar o dia que terei condições de remunerá-los, ainda acho que eles vão preferir a época que a única motivação era a de poder fazer parte de tudo isso.

Nessa terça preparei um trajeto bacana para vocês, teremos as primeiras subidas, nada perto do que irão encarar até o dia 24, mas está chegando a hora de colhermos os frutos dos primeiros treinos mais moderados da primeira semana. Domingo que vem teremos um trajeto mais curto, mas com as primeiras subidas de verdade, divulgarei detalhes no próximo post.

Agora é encarar a chuva de emails e tentar responder a todos, com a máxima educação e paciência que eu “não” tenho, hehe. Bora para meu próximo Desafio, alguém quer trocar comigo?

André Pasqualini