Desde que decidi atravessar sozinho o Pantanal só ouço isso: “Cuidado com a onça”, “Não tem medo de onça?”, “Aqui a onça come gente!”, e onça daqui, onça dali e só ouço falar nisso. Até mesmo os Pantaneiros, principalmente o pessoal que toca as comitivas, sempre perguntam se estou preparado para a onça.
Onça é um perigo real no Pantanal, ataca as capivaras, veados, emas, gado e até o homem. Há 3 tipos de onças aqui, a preta com um risco branco nas costas, a parda e a pintada.
A preta e a parda são menores e tem muito mais medo dos homens, já a pintada é maior, mais forte e a mais perigosa. Recentemente uma pintada atacou uma comitiva matando uns 3 bois bem no caminho que iria passar. Há relatos de ataque a humanos, num caso ela atacou uma barraca, tirou o cara de dentro e matou na hora. Recentemente uma pintada pulou num barco e atacou um turista. Fiquei sabendo até que uma pintada comeu um de 3 cicloturistas que fizeram uma viagem pelo Pantanal.
Quero ver muitos bichos mas o único que não faço a menor questão de ver é a onça para isso eu pesquisei muito o comportamento dela. Primeiro porque ela vive na região dos rios e até hoje estava longe deles. Ela também tem hábitos noturnos, portanto evito pedalar a tarde ou bem no começo da madrugada hora que ela está voltando para a toca.
Hoje iria pela primeira vez passar perto de um rio e adentrar na sua região. De madrugada caiu uma forte chuva, o tempo amanheceu frio e nublado. O que significa que o pedal poderia render. Me programei para pedalar 60 kms até a fazenda Aroeiras.
Saí cedo da Mercedinha e encarei a estradeira. Quando faltavam uns 5 quilômetros para chegar no rio, percebo que meu bagageiro estava quebrado. Fiquei uma hora parado ali para conserta-lo. Apesar de estar num local bem descampado, estava sempre ligado.
Depois que consertei o bagageiro voltei para a estrada. Percebi que havia uma trilha bem do lado da mata e outra mais afastada, dei preferência para a segunda e fui embora.
Logo a frente encontrei um Javali,que chamam por aqui de porco “quexada”. Tem que tomar cuidado com esses também, pois eles costumam atacar em grupo as pessoas. Mas esse preferiu fugir, nem deu tempo para fotografar.
Cheguei na ponte e percebi que estava na rota errada, pois não havia simbra ou porteira. O correto seria pegar a estrada que fica ao lado da mata, mas antes ter que pular cerca do que virar isca de onça.
Atravessei a ponte do Rio Taquari, um rio grande mas bem assoreado. Antes da ponte o pessoal atravessava de balsa improvisada, mas agora ficou bem mais fácil.
Do alto da ponte dava para ver os jacares e ainda bem, nada de onça.
No final da ponte há uma casa que era usada pelos trabalhadores da obra. Hoje é a casa da onça. É bem capaz que ela estivesse descansando ali enquanto eu passei. Um pantaneiro me disse que é comum encontrar carcaça de capivara ali dentro. Bem, fiquei só na curiosidade mesmo.
Segui por um areião bravo que estava bem mais trafegável depois da chuva do dia anterior e lá estavam elas, as pegadas da onça que mostrei na foto de chamada do post.
Provavelmente elas passaram por lá antes da chuva, mas o rastro ia longe, as vezes eram dois rastros e dava para notar que uma pegada era maior que a outra.
Mais a frente peguei um corredor de comitiva de boiadeiro. Dentro do corredor é impossível pedalar, mas ao lado do corredor, como tem um pasto, fica mais fácil. Só é preciso seguir o “trilheiro” dos tatus.
O corredor é longo, tem mais de 10 km, parei num acampamento de comitiva e lá fiz meu almoço, um monte de mangas e uns bolinhos que peguei na fazenda Mercedinha.
Mais a frente encontrei uma comitiva com mais de mil bois. Era a Comitiva Nantes de Rio Verde. Chega a ser impressionante ver uma comitiva em ação.
Gosto de tirar fotos mas fico com receio dos pantaneiros reclamarem, então procuro tirar fotos de forma mais natural possível sem chamar muita atenção e sem identificar esse ou aquele. Mas confesso que fiquei surpreso com o pedido para tirar uma foto deles. Na foto, da esquerda para a direita o Ciro, provavelmente o chefe da comitiva, Klebis (Nego) e o Marcos Gurizão.
Vi bastante ninhos de Tuiuius, mas infelizmente eles estavam todos vazios.
Esse é um trecho bem longo e com poucas fazendas, a mais próxima era o Retiro Santa Rosa. Quebrei o protocolo e fui até ela, mesmo tendo que pedalar um pouco de noite.
Lá chegando pedi pouso e deixaram eu ficar na casa dos peões, nada de luz nem comida, mas ao menos um canto coberto para me proteger. Ali tomei um banho frio, um pouco sofrido pois nesse dia não fez sol e esfriou bem. A água não estava gostosa como nos outros dias mas até que foi tranquilo.
Texto longo para um dia longo, 60 quilômetros de Pantanal, tremenda façanha e para comemorar um miojo com molho de tomate e sardinha. Bom apetite e até o próximo dia.
Notei o comentário sobre o javali, no sul do Brasil é invasor, uma espécie européia. Troxeram para fazendas de caça e escapou. Se já chegou aí é preocupante, ele ocupa o habitat do queixada, nosso porco nativo… Ah, ambos não pode dar mole, como disse o cabra do bope antes da invasão cinematografada.
Opa, nao sei se escrevi bem, mas o que eu vi foi um queixada e quis dizer que ele se parece com um Javali. Até porque, apesar do Javali ser um bicho gringo, sei que a maioria das pessoas terao mais facilidade de imaginar como é o bicho citando essa referencia, já que nao consegui tirar foto.
As onças e os causos pantaneiros, rs..
Falta muito pro próximo relato?
Abração!