A Rota Márcia Prado

Bicicletada Interplanetária

Nessa página você vai entender o que é a Rota Márcia Prado, quem foi Márcia Prado contada pelo amigo dela e também responsável pelo site, como surgiu a ideia da Rota e como percorrê-la.

Importante, se você chegou aqui via o QRCode das placas, não as arranque, não cole adesivos e ajude a mantê-las.A sinalização da Rota Márcia Prado É UMA OBRIGAÇÃO DO GOVERNO DO ESTADO, mas como os ciclistas tem ciência em relação ao descaso com que o governo trata as políticas públicas que estimulem o ato de pedalar, ciclistas dos grupos do DBM (Desafio Bicicletas ao Mar) se uniram e investiram nessa sinalização.

Portanto ao depredar a sinalização, você estará prejudicando não só os ciclistas que investiram na mesma, como colocando em risco outros ciclistas que irão percorrer a Rota. Nos ajude a manter a sinalização.

Como percorrer a Rota Márcia Prado

A Rota Márcia Prado tem um trajeto considerado oficial por nós e algumas variações. Como no momento o governo ainda não cumpriu a lei e sequer determinou o seu percurso de forma oficial, nós enquanto sociedade civil vamos ajudar vocês ciclistas a percorrerem a Rota com segurança.

O percurso foi feito com base no trajeto que aquela turma fez em 2009, mas na época não conhecíamos toda a região e algumas pistas mudaram, receberam asfalto e definimos dessa forma o caminho que consideramos ideal.

O Percurso Oficial da Rota Márcia Prado

 

O trajeto se inicia no Estacionamento da Ciclovia da Marginal Pinheiros, junto a Avenida Miguel Yunes, abaixo o local exato do ponto de partida.

Você pode ver o percurso no Strava logo abaixo, você pode também baixar o arquivo GPX do percurso oficial da Rota Márcia Prado.

Rota Márcia Prado Evitando as Balsas

 

Essa opção de percurso tem o mesmo ponto de partida da Rota Oficial, mas aumenta o trajeto em cerca de 8 quilômetros, evitando a travessia das Balsas do Bororé e reencontrando a Rota Oficial na Estrada do Capivari, junto ao acesso da Ciclovia da Rodovia dos Imigrantes.

Você também pode baixar o GPX do percurso da Rota Márcia Prado sem as Balsas clicando aqui.

Rota Márcia Prado via ABC

Para o pessoal da região do ABC, ou que não queiram pedalar a partir da Ciclovia da Marginal Pinheiros, você tem a opção de iniciar o pedal a partir da Estação Ribeirão Pires da CPTM, seguir pela Rodovia Índio Tibiriça até o Riacho Grande e lá encontrar o ramal principal na Estrada do Capivari.

Você também pode baixar o GPX do percurso da Rota Márcia Prado via ABC clicando aqui.

Quem foi(é) a Márcia Prado

Bicicletada Interplanetária

Por volta de 2008, a Bicicletada, a versão paulistana do Critical Mass, encontro de ciclistas que ocorria na última sexta feira do mês na Praça do Ciclista, também funcionava como um fórum onde ciclistas discutiam como tornar mais seguro o simples ato de pedalar. Nessas discussões surgiu um consenso que mais importante do que entregar panfletos aos motoristas pedindo para que eles seguissem as leis de trânsito, era trazer mais ciclistas para o movimento, principalmente aqueles ciclistas que usavam a bicicleta diariamente como meio de transporte.

Então que nossa querida Márcia, uma fisioterapeuta que pedalava pela cidade com um colchonete enrolado no bagageiro da sua bicicleta, cruzou o caminho de dois amigos da Bicicletada e foi convidada a participar daquele encontro mensal.

Não demorou a Márcia entrou na lista de emails de discussão da Bicicletada e passou a participar também de pedais e encontros informais do grupo.

Bicicletada Interplanetária

Dá para dizer que a Márcia Prado era uma Cicloativista? Dá sim, até porque uma das coisas que uniam todos ali era a luta para poder pedalar em segurança, sem literalmente correr risco de não chegar viva em casa. Cada um lutava de um jeito, alguns eram mais atuantes, uns gritavam mais, outros debatiam mais, outros eram pontuais, alguns nunca diziam nada mas estavam sempre apoiando tudo que fosse feito pela nossa luta.

E a Márcia podemos dizer que era uma dessas ativistas pontuais, não se manifestava muito, mas quando fazia era de forma certeira, como direi mais para frente. Isso porque agora vamos falar da paixão pelo Cicloturismo que a Márcia encontrou quando conheceu essa “galera da Bicicletada”.

Isso porque no ano de 2008 alguns ciclistas da Bicicletada começaram a estimular os demais na prática do Cicloturismo e num desses pedais a Márcia resolveu ir. A galera estava tentando ir para Sorocaba mas acabou desistindo no meio do caminho por causa de uma chuva, então falei para o pessoal encontrar nosso grupo em Embu das Artes. Ela fez um belo relato por email que vocês podem ler nesse link aqui, vale a pena a leitura, mas abaixo vou colar só um parágrafo que descreve essa aventura e um pouco do espírito de grupo que ela encontrou nessa turma.

Desde antes da bicicletada estava olhando os grupos de pedal, tenho uma 
cliente que pedala e ficava trocando ideias com ela, mas o que mais gostei 
desse grupo, que conheci na bicicletada, é essa mistura de prazer com pedal. 
Já “passei da idade” da performance, quero sim superar meus limites mas com 
prazer, não de olho no relógio ou em metas absurdas. Óbvio que pretendo 
pedalar com vcs “com minhas próprias pernas”, mas não me senti diminuída pelo
reboque, pelo contrário, achei de um companheirismo ímpar que só me fez 
gostar mais do grupo.

Mas ela não precisou mais ser rebocada, pelo contrário. Não demorou e lá estava ela pedalando com a gente rumo a Ubatuba, se mostrando uma grande e forte cicloturista, poucos meses após entrar no grupo da Bicicletada.

Bicicletada Interplanetária

A história da Márcia começou a se misturar com a Rota em dezembro de 2008 quando tentamos organizar a 1ª Bicicletada Interplanetária. Ela não pode ir nesse pedal, mas foi responsável por esse email que foi lido para os PMs que tentaram impedir a gente de chegar na praia, confira a situação bizarra no vídeo abaixo.

Naquela mesma tentativa frustrada de chegar na praia, um amigo posteriormente relatou na Lista da Bicicletada que havia pego uma estrada de terra perto do pedágio da Imigrantes e acabou saindo lá no Metro Grajaú. Na mesma hora pensei,

“Se a gente encontrar uma rota que pegue o mínimo de Rodovia, aí o governo não terá desculpas para nos impedir de chegar na praia”

Então durante a semana pesquisei o percurso nos mapas disponíveis na época (Google Maps era bem incipiente), encontrei a rota e fiz um convite na lista da bicicletada para percorrermos a rota e sinalizar com bicicletinhas no chão a Estrada de Manutenção da Imigrantes.

Assim no dia 11 de janeiro de 2008 um grupo de 15 ciclistas se encontrou em frente ao Bicicletário da Estação Grajaú e seguiu pela rota, entre eles lá estava ela, nossa querida Márcia Prado com seu Capacete Vermelho.

Bicicletada Interplanetária

O grupo de 10 homens e 5 mulheres pedalaram até a cidade de Santos pelo percurso que futuramente serviria como base para a Rota Márcia Prado, no vídeo abaixo é possível conferir como foi esse pedal, que se encerrou lá no Canal 1 da cidade de Santos, onde a Márcia chamou as demais mulheres do grupo para repetir o percurso no final de semana seguinte, só que sem paradas para sinalização pra dar tempo de chegar em Santos e “pegar uma praia”.

No dia 14 de Janeiro de 2008, nossa amiga Márcia Prado pegou sua bicicleta e foi trabalhar por volta das 10h30, mas antes enviou para a lista da Bicicletada duas mensagens. Na primeira ela reclamava de uma Campanha Nacional de Trânsito que debatíamos no grupo.

Também não gostei. Principalmente do clima de fantasia para falar de “acidentes” de trânsito. Além de concordar que a campanha transfere a responsabilidade para o pedestre…

Sou a favor de campanhas impactantes, como aquele vídeo que alguém postou mostrando “acidentes” e questionando se eram acidentes mesmo.

E que aquele lindo texto da resolução 166 saia do papel e tenhamos educação para o trânsito nas escolas.

Abs,

Márcia

Já a segunda mensagem era justamente no email onde conversávamos sobre a maravilhosa experiência do domingo anterior.

Alguém reparou que nas balsas temos 18 ciclistas e seus veículos, além de cerca de 7 carros com 7 motoristas??

E essas foram as duas últimas mensagens que a Márcia Prado enviou para aquele grupo de ciclistas e muito provavelmente devam ser as últimas mensagens que ela enviou para alguém, isso porque horas depois recebi uma ligação de um dos nossos amigos dizendo de forma direta.

“A Márcia morreu”

Como assim? Ela tá no hospital? Sofreu um acidente?

Não, ela está aqui na Paulista coberta por sacos, foi atropelada por um ônibus.

Ghost Bike Paulista - Homenagem a Marcia Prado

E assim se encerrou o ciclo de pedalada da nossa amiga, pelo menos nessa dimensão. No dia 14 de janeiro de 2008 a Márcia acabou sendo vítima daquilo que tanto combatia, a inação por parte do poder público em proteger as pessoas mais frágeis do trânsito e essa ode motorizada que faz com que alguns cidadãos sejam mais “cidadãos” do que outros. Mas mal sabia ela que sua luta se encerraria ali.

A Conquista da Rota Márcia Prado

Pode perguntar para qualquer ciclista que mora na região metropolitana de São Paulo qual é o maior sonho de chegar pedalando. Garanto que 99% irá te dar a seguinte resposta.

Quero chegar pedalando na praia!

Ocorre que há décadas os ciclistas são simplesmente impedidos de realizar esse sonho. Isso porque as formas “naturais”, que também podemos chamar de “formas para quem tem carro” de se acessar o Litoral a partir do Planalto Paulista são as vias Imigrantes e Anchieta, ambas que tem o tráfego de ciclistas proíbido no seu trecho de serra.

Tudo bem, realmente é perigoso pedalar junto com os carros nessas vias no seu trecho de serra, mas existe uma alternativa não? Até o dia 28 de julho de 2024 não!

E era assim, quem se arriscasse pelas vias normais simplesmente seria impedido pela Policia Rodoviária de acessar o trecho de serra. Nas décadas de 80 e 90 eram comuns os relatos de ciclistas que tiveram seus pneus cortados por policiais por tentar tamanha ousadia.

Mas quando o novo código de trânsito promulgado em 1997, pela letra da lei o ciclista passou a ter o tráfego permitido nessas vias, inclusive nos trechos de serra. Tanto é que eu, em 1998, fiz um pedal com amigos até a cidade de Mongaguá, realizando a descida de madrugada pela Estrada Velha de Santos e na hora de subir a serra resolvemos tentar fazer a lei. Fomos parados por dois PMs no meio da Serra, que ao lerem o Artigo 58 do CTB, mesmo a contragosto, permitiram nossa passagem.

Pedalando na Imigrantes em 1998

Mas essa confusão mental demorou pouco, logo tudo voltou ao “normal” e os ciclistas continuaram impedidos de chegar ao litoral de forma não clandestina, até que ciclistas da Bicicletada tentaram fazer valer o direito escrito na regra da lei e convocaram para dezembro de 2008 a primeira Bicicletada Interplanetária.

Bicicletada Interplanetária

Através de emails, panfletos e boca a boca, no dia 06 de dezembro daquele ano, cerca de 500 ciclistas se reuniram na Praça do Ciclista e seguiram em massa rumo ao litoral, mas bastou chegarem ao início da Rodovia dos Imigrantes para serem impedidos pela PM.

Interplanetaria

E foi justamente nessa manifestação que surgiu a ideia de mapear uma rota que evitasse ao máximo a Rodovia dos Imigrantes e deixasse o ciclista o mais próximo possível da Estrada de Manutenção no Parque da Serra do Mar. E como narrado acima, um grupo de ciclistas fez o reconhecimento da rota dias antes da tragédia que veio a ocorrer com a Márcia Prado.

Foto na Balsa com a Marcia Prado

Passado o luto, os ciclistas começaram a se mobilizar, primeiro batizaram informalmente o percurso como Rota Márcia Prado e passaram a pressionar o poder público para que investisse numa infraestrutura que viabilizasse a rota.

Pois apesar do percurso de São Paulo a Santos ter mais de 80 quilômetros e ainda passar pelas cidades de São Bernardo, Cubatão e pelo Parque da Serra do Mar, havia um trecho com cerca de 6 quilômetros que inevitavelmente os ciclistas eram obrigados a percorrer pela Rodovia dos Imigrantes, o que de certa forma inviabilizava a rota, já que o risco de pedalar naquele trecho de rodovia era inerente.

O problema é que ao questionar o Governo do Estado sobre a construção da infraestrutura com ciclovias e passarelas nesse trecho de 6 quilômetros, a resposta que recebíamos era essa.

Construir uma passarela de milhões para meia dúzia de ciclistas?

Portanto para provar que éramos bem mais do que meia dúzia, alguns dos ciclistas se organizaram numa Ong e foram atrás de todas autorizações necessárias para realizar o 1º Evento Anual da Rota Márcia Prado, em dezembro de 2009.

A escolha da data era para manter o caráter de protesto que havia ocorrido na Bicicletada Interplanetária de 2008, mas também tentar dar apoio para que novos ciclistas pudessem percorrer a rota. E logo na primeira edição o evento teve a participação de 1000 ciclistas.

A luta continuou, em janeiro de 2010 foi promulgada a lei nº 15.094/10, de autoria do Vereador Chico Macena, que instituía a criação da Rota Cicloturística Márcia Prado no perímetro urbano da Cidade de São Paulo. e em dezembro do mesmo ocorreu a 2ª edição do Pedal da Márcia Prado, novamente com mil ciclistas.

Ano a ano o evento da Rota Márcia Prado continuou acontecendo até que na edição de 2012 contou com a presença de 10 mil ciclistas.

Ciclistas na Balsa para Rota Marcia Prado em 2012

Foto: Fabio Braga/Folhapress

Um evento desse tamanho, com certeza foi suficiente para convencer o Governo do Estado de São Paulo a investir na infraestrutura que consolidaria a Rota Márcia Prado e estimularia o Cicloturismo no Brasil, não é?

Não. Pelo contrário, após esse mega pedal de 2012, a ofensiva do Governo do Estado passou a ser o de proibir qualquer tipo de evento, o que deu início a dezenas de assédios judiciais, com até pequenos grupos de ciclistas recebendo interditos da justiça e multas que passavam de 100 mil reais!

Acontece que mesmo sem evento, os ciclistas mantiveram a tradição e se organizando pelas redes sociais continuavam seguindo rumo ao litoral.

Descida para Santos de Bike - 2014

Nesse meio tempo, outros ciclistas se reuniram com a Ecovias e passaram a pensar na melhor forma de criar essa infraestrutura, projetando diversas soluções para serem apresentadas ao governo do Estado, sem nenhum sucesso.

Enquanto isso os ciclistas continuavam mantendo a tradição e se reunindo no primeiro domingo de dezembro para seguir até a praia, até que chegamos ao fatídico ano de 2017.

Assim que os ciclistas acessavam a Rodovia dos Imigrantes, eram direcionados via placas e avisos para a Rodovia Anchieta no alto da Serra e lá foram mantidos por horas com sol a pino, sem que fosse dada a permissão de descer a serra, até que finalmente a Polícia Militar do Estado de São Paulo agiu para “resolver” a situação da “melhor” maneira que encontrou.

Cilclistas são dispersados a bomba pela PM - Dezembro de 2017

Após a aberração acima cometida contra os ciclistas que apenas queriam fazer valer o seu direito de locomoção, aproveitando a que essa atitude covarde gerou na população, os ciclistas se organizaram, foram recebidos pelo Estado e entre as várias exigências estava ela, as obras que consolidariam em definitivo a Rota Márcia Prado.

Até que em maio de 2018, o atual governador em exercício Márcio França assinou a Lei 16.780 que Instituía a Rota Márcia Prado e autorizava o governo a dar andamento nas obras necessárias para sua consolidação. 

pedal anchieta 2019 milhares de ciclistas tomaram a rodovia anchieta em 02-12-2018

Apesar da autorização do Governo do Estado, apenas no final de 2022, finalmente a Artesp autorizou a Ecovias a dar andamento nas obras da Rota Márcia Prado, que serão entregues agora no dia 28 de julho de 2024.

Mas a luta não acabou! A Rota Márcia Prado é apenas mais um passo na luta para que o poder público passe a incluir de forma efetiva a bicicleta como política pública de estado, investindo tanto no transporte como no esporte e lazer.

Ainda precisamos cobrar com que o governo cumpra a lei da Rota Márcia Prado e continue investindo na sua viabilidade. O próximo passo é investir numa sinalização eficaz e depois no fomento para seu uso. Apesar de imensa, foi só uma pequena vitória, já que estamos longe do nível de investimento que outros países dão aos seus ciclistas.