Nosso último dia de pedal, o destino seria o Parque do Prelado, uma pequena área da Estação Ecológica da Jureia aberta ao público, uma área de proteção que você só pode acessar com autorização e para realização de pesquisas. A Estação da Jureia é a primeira grande barreira que impede continuarmos seguindo pelo Litoral Paulista, uma ótima proteção natural contra a especulação imobiliária.
Sem peso, carregando apenas nosso monopé no bagageiro e uma bolsa de guidão, saímos de Iguape. Seriam exatamente 19 quilômetros até a balsa que faz a travessia até a Barra da Jureia, uma vila que não tem acesso direto de carro. A ida foi até que tranquila, tirando as duas pirambas que tivemos que vencer e alguns motoristas imbecis que “cagam” para a segurança de qualquer ser fora do seus veículos. Nessa estrada minha mulher me disse que agora entendia o porque eu dava tanta preferência a estradas de terra para as asfaltadas.
Detalhe, que o limite nessa rodovia era de 60 km/h e NENHUM motorista respeitou quando passamos por ali. Olha, nem sou tão caxias assim, embora a velocidade ali é muito mais para proteger a fauna, se os motoristas ao menos reduzissem para essa velocidade aos nos avistar, já ficaria feliz.
Levamos pouco mais de uma hora pra chegar na balsa, até ali tudo muito tranquilo, até porque o vento a favor ajudava, já imaginava que o vento deveria estar ainda mais forte na praia e foi exatamente isso que encontramos. Da Barra do Ribeira até a estação são 18 km pela areia da praia e o vento estava absurdamente forte em nossas costas. Mas não fiquei muito feliz por dois motivos, primeiro porque a volta seria um martírio, segundo porque a maré estava subindo e as chances de nos pegar na volta eram ENORMES!
Tentamos ir o mais rápido possível pela praia, passávamos dos 30 km/h facilmente. Fazia uma espécie de “Escalera” bem inusitada. Escalera é como chamamos o revezamento no ciclismo de estrada, mas esse era diferente, eu vinha pedalando forte até alcançar minha mulher, apoiava nas suas costas para a velocidade dela se equiparar com a minha e a empurrava com força, fazendo isso chegamos próximo a barra em menos de 40 minutos.
Mas como nem tudo eram flores, quando restavam menos de dois quilômetros, encontramos uma areia muito fofa e era impossível pedalar, portanto os últimos km apelamos novamente para o “push-bike”.
Chegamos ao final da praia onde há uma estrada que nos levaria até o pequeno Parque do Prelado, uma área aberta ao público, com uma bela cachoeira. Antes da entrada do parque há duas casinhas, uma de madeira e uma pequena de cimento. Essa casa abandonada aqui é a casa do operador do telégrafo, que tem mais de 150 anos.
Ela não é exatamente original, com a desativação do Telégrafo, foi vendida para um cidadão comum que usou a casa como moradia durante muitos anos, chegou a sofrer uma reforma mas a base é a mesma de 150 anos atrás. Pelo que o segurança do parque nos informou, a casa foi novamente comprada pelo estado, só não conseguimos descobrir qual fim ela terá.
Dá pena ver como nossa história é tratada, mas tomara que nosso estado (bem como nosso povo em geral) um dia passe a valorizar nossa história. Não entramos dentro da reserva pois não tínhamos autorização, mas até onde apurei, dentro da reserva ainda há muitos postes conservados. Se tudo der certo, quando começarmos a viagem do Projeto Brasil em Ciclos, vamos tentar passar por dentro do parque, saindo nessa portaria, tomara que consigamos as autorizações.
A viagem tinha acabado, o objetivo inicial cumprido, mas agora precisávamos pedalar quase 40 km até Iguape. O vento contra atrapalhou muito e pra complicar a maré subiu bastante, não conseguimos pedalar nem 10 quilômetros e tivemos que empurrar e ainda levando onda atrás de onda. Com muito esforço conseguimos chegar em Iguape no começo da noite, realizados.
Aprendemos muito nessa cicloviagem, não apenas tudo que contamos nos posts, mas principalmente nos conhecemos melhor, descobrimos algumas fraquezas e cometemos muitos erros de planejamento, ou seja, a viagem vai ajudar ainda mais na nossa preparação para o maior projeto de nossas vidas.
Agora é continuar trabalhando, já temos uma data de partida, e acontecerá no dia 04 de setembro, junto com o Desafio Bicicletas ao Mar. Espero que vocês tenham curtido tanto como nós, pois essa é só uma pequena amostra de como será o Projeto Brasil em Ciclos, viagem que iremos fazer juntos com vocês. Muito obrigado e aguardem que em breve teremos o piloto da nossa Web-série com um mais detalhes dessa viagem que não tivemos tempo de postar aqui. Até breve.
André Pasqualini
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