08Telegrafo01

Nosso último dia de pedal, o destino seria o Parque do Prelado, uma pequena área da Estação Ecológica da Jureia aberta ao público, uma área de proteção que você só pode acessar com autorização e para realização de pesquisas. A Estação da Jureia é a primeira grande barreira que impede continuarmos seguindo pelo Litoral Paulista, uma ótima proteção natural contra a especulação imobiliária.

Sem peso, carregando apenas nosso monopé no bagageiro e uma bolsa de guidão, saímos de Iguape. Seriam exatamente 19 quilômetros até a balsa que faz a travessia até a Barra da Jureia, uma vila que não tem acesso direto de carro. A ida foi até que tranquila, tirando as duas pirambas que tivemos que vencer e alguns motoristas imbecis que “cagam” para a segurança de qualquer ser fora do seus veículos. Nessa estrada minha mulher me disse que agora entendia o porque eu dava tanta preferência a estradas de terra para as asfaltadas.

Graças aos nossos "motoristas" brasileiros, pedalar não é sinônimos de segurança

Graças aos nossos “motoristas” brasileiros, pedalar não é sinônimos de segurança

Detalhe, que o limite nessa rodovia era de 60 km/h e NENHUM motorista respeitou quando passamos por ali. Olha, nem sou tão caxias assim, embora a velocidade ali é muito mais para proteger a fauna, se os motoristas ao menos reduzissem para essa velocidade aos nos avistar, já ficaria feliz.

Levamos pouco mais de uma hora pra chegar na balsa, até ali tudo muito tranquilo, até porque o vento a favor ajudava, já imaginava que o vento deveria estar ainda mais forte na praia e foi exatamente isso que encontramos. Da Barra do Ribeira até a estação são 18 km pela areia da praia e o vento estava absurdamente forte em nossas costas. Mas não fiquei muito feliz por dois motivos, primeiro porque a volta seria um martírio, segundo porque a maré estava subindo e as chances de nos pegar na volta eram ENORMES!

Com vento a favor, tudo é mais fácil... Menos a volta

Com vento a favor, tudo é mais fácil… Menos a volta

Tentamos ir o mais rápido possível pela praia, passávamos dos 30 km/h facilmente. Fazia uma espécie de “Escalera” bem inusitada. Escalera é como chamamos o revezamento no ciclismo de estrada, mas esse era diferente, eu vinha pedalando forte até alcançar minha mulher, apoiava nas suas costas para a velocidade dela se equiparar com a minha e a empurrava com força, fazendo isso chegamos próximo a barra em menos de 40 minutos.

Mas como nem tudo eram flores, quando restavam menos de dois quilômetros, encontramos uma areia muito fofa e era impossível pedalar, portanto os últimos km apelamos novamente para o “push-bike”.

"Push-bike" próximo a Estação Ecológica da Jureia

“Push-bike” próximo a Estação Ecológica da Jureia

Chegamos ao final da praia onde há uma estrada que nos levaria até o pequeno Parque do Prelado, uma área aberta ao público, com uma bela cachoeira. Antes da entrada do parque há duas casinhas, uma de madeira e uma pequena de cimento. Essa casa abandonada aqui é a casa do operador do telégrafo, que tem mais de 150 anos.

Casa do operador do Telégrafo, construída a aproximadamente 150 anos

Casa do operador do Telégrafo, construída a aproximadamente 150 anos

Ela não é exatamente original, com a desativação do Telégrafo, foi vendida para um cidadão comum que usou a casa como moradia durante muitos anos, chegou a sofrer uma reforma mas a base é a mesma de 150 anos atrás. Pelo que o segurança do parque nos informou, a casa foi novamente comprada pelo estado, só não conseguimos descobrir qual fim ela terá.

Dá pena ver como nossa história é tratada, mas tomara que nosso estado (bem como nosso povo em geral) um dia passe a valorizar nossa história. Não entramos dentro da reserva pois não tínhamos autorização, mas até onde apurei, dentro da reserva ainda há muitos postes conservados. Se tudo der certo, quando começarmos a viagem do Projeto Brasil em Ciclos, vamos tentar passar por dentro do parque, saindo nessa portaria, tomara que consigamos as autorizações.

A viagem tinha acabado, o objetivo inicial cumprido, mas agora precisávamos pedalar quase 40 km até Iguape. O vento contra atrapalhou muito e pra complicar a maré subiu bastante, não conseguimos pedalar nem 10 quilômetros e tivemos que empurrar e ainda levando onda atrás de onda. Com muito esforço conseguimos chegar em Iguape no começo da noite, realizados.

A maré nos obrigou novamente a empurrar por muitos quilômetros na volta

A maré nos obrigou novamente a empurrar por muitos quilômetros na volta

Aprendemos muito nessa cicloviagem, não apenas tudo que contamos nos posts, mas principalmente nos conhecemos melhor, descobrimos algumas fraquezas e cometemos muitos erros de planejamento, ou seja, a viagem vai ajudar ainda mais na nossa preparação para o maior projeto de nossas vidas.

Agora é continuar trabalhando, já temos uma data de partida, e acontecerá no dia 04 de setembro, junto com o Desafio Bicicletas ao Mar. Espero que vocês tenham curtido tanto como nós, pois essa é só uma pequena amostra de como será o Projeto Brasil em Ciclos, viagem que iremos fazer juntos com vocês. Muito obrigado e aguardem que em breve teremos o piloto da nossa Web-série com um mais detalhes dessa viagem que não tivemos tempo de postar aqui. Até breve.

André Pasqualini

Para ver todas as fotos da viagem, visite nosso álbum no Facebook e não deixem de curtir nossa página.