Começo de um novo dia onde mais uma vez tivemos uma enorme dificuldade pra levantar. Também calculamos mal o percurso do dia seguinte, teríamos 47 quilômetros até a entrada da Trilha do Telégrafo e pelo menos uma grande subida no dia, todo o trajeto feito em terra. Até daria para fazer o percurso num único dia, mas pra isso seria necessário que saíssemos bem cedo e pedalássemos num ritmo bom, algo que já não vinha acontecendo nos dias anteriores.
Como na pousada não tinha TV(=distrações) e como estávamos muito cansados, caímos no sono pouco depois das 21h00 e só acordamos as 10h00, sem despertador. Naquela moleza tomamos café, arrumamos as coisas e exatamente as 12h30 saímos de Tagaçaba. Pelo ritmo já sabia que não chegaríamos na “porta do Telégrafo” naquele dia, então comecei a planejar onde iríamos dormir. Finalmente estrearíamos nossa barraca.
Dali até a entrada da Trilha do Telégrafo teríamos ao menos um vilarejo a cada 10 quilômetros (o que nos disseram), não esquentamos com levar comida pois acreditamos encontrar algo no caminho, o que foi um erro. Era domingo e a maioria das “vendinhas” estavam fechadas, esse é mais um problema das cicloviagens, com o decorrer dos dias perdemos a noção do dia da semana que estamos.
Quando chegamos a Serra Negra o pneu da bike da Te furou, arrumamos e seguimos rumo a montanha onde tem o Mirante de Serra Negra, a última grande subida antes de chegarmos em Salto Morato, a penúltima vila antes de Batuva, a vila que fica na entrada do Telégrafo. No final da subida havia ainda uma escadaria até o mirante, não poderíamos deixar de subir até lá.
O Mirante está na PR-405, estrada essa que deveria ser a continuação da BR-101, também conhecida como Rio-Santos, aliás a estrada deveria passar por onde é hoje a Trilha do Telégrafo e faria a ligação com o litoral do sudeste com o sul do país. Pelo que pesquisei, esse mirante foi inaugurado em 1970, quando fizeram a ligação por terra de Guaraqueçaba a essa estrada, consequentemente ligando a Antonina, antes disso a conexão era feita apenas de barco. Hoje o mirante está jogado as moscas, mas vale a pena subir as escadas para admirar o visual.
O mirante fica após a subida, ou seja, descendo para quem vai sentido Guaraqueçaba. Voltamos a estrada descendo devagar já que meu amor ainda não tem muita segurança pra descer com velocidade em estrada de terra. Mais uma falha minha pois deveria tê-la levado pra treinar mais em trilhas. Ao final da descida saímos na Vila de Ipanema, onde não encontramos nenhuma venda aberta.
Já eram 17h30, faltavam 20 km pra Batuva e não conseguiríamos fazer o trajeto num único dia, então comecei a ficar atento, procurando algum lugar pra acampar. Apesar do sol, sabíamos que a noite seria bem fria, percebia na expressão da minha mulher um certo pavor por causa da possibilidade do seu primeiro camping selvagem. Passamos em frente a uma placa indicando que a Reserva Salto Morato estava numa estrada a esquerda, 4 quilômetros a dentro. Essa seria a última vila antes de Batuva, não iriamos correr o risco de pedalar até a vila a procura de uma pousada e não encontrar, então seguimos pela estrada procurando áreas próximas a rios, melhores para acampar.
Logo após essa placa havia um rio e ali encontrei um bom local, o problema seria uma cerca (que indicava uma propriedade particular) e que estava a vista de quem passasse pela estrada. Se bem que seria apenas por algumas horas, porque depois que escurecesse ninguém mais nos veria, mas minha mulher ficou com medo e pediu pra continuarmos procurando.
Seguimos pedalando até que achei outro rio, esse bem mais largo, com um espaço embaixo da ponte pra acampar, um local perfeito, teríamos água, abrigo em caso de chuva, mesmo assim ela não gostou muito da ideia. Não podíamos mais esperar, havia uma propriedade do outro lado do rio com um senhor no quintal, perguntei se poderíamos acampar lá e ele disse que tudo bem, então levei bike para debaixo do rio, queria ser rápido pois estava escurecendo e não queria armar a barraca sem luz natural.
O senhor que nos autorizou dormir se aproximou e mostrou onde havia lenha, pois sabia que faria muito frio a noite, nesse momento surgiu do nada um ciclista, o nome dele era Jefferson, perguntou se já havia desarmado minhas coisas e disse que ainda não, então nos convidou a ficar na casa dele. O Jefferson trabalhava na reserva Salto Morato, um cicloturista que inclusive já havia pedalado pela trilha do Telégrafo. Minha mulher na hora disse – “Vamos! Vamos!”. Entre uma noite fria debaixo da ponte e uma noite numa cama quentinha, o que vocês acham que escolhemos? Aliás esse não foi o primeiro “Anjo” que surgiu no meu caminho, cada cicloviagem que realizei, sempre tenho alguma boa história pra contar.
Optamos por ficar na casa do Jefferson, q problema é que teríamos que voltar até aquela placa que passamos e depois pedalar até a reserva, com certeza pedalaríamos no escuro mais uma vez. Depois fui saber que a distância que percorremos foi de 7 km. Mas o que é um peido pra quem está melado? Pedalamos com convicção, pois sabíamos que ao final, com certeza não iríamos nos arrepender, como vocês podem conferir nessa imagem abaixo.
André Pasqualini
Para ver todas as fotos da viagem, visite nosso álbum no Facebook e não deixem de curtir nossa página.