Minha tentativa de pedalar 600 kms direto acabou com 100 quilômetros percorridos.
Pessoal, vocês não tem noção de como esta minha cabeça, um parafuso só. Me peçam para eu falar para mil pessoas, enfrentar a polícia numa manifestação, levar mil ciclistas para uma viagem, mas não me peçam para tentar controlar o meu coração.
Quando estava ainda em casa, muito mal, com depressão, uma amiga minha que também é psicóloga disse algo óbvio. Primeiro eu tenho que estar bem e só depois disso tentar retomar minha vida.
Essa viagem tinha esse objetivo, colocar a cabeça no lugar e fazer algo por mim. Mas não era isso que estava acontecendo. Enquanto pedalava aqui minha cabeça estava longe, todas minhas ações eram esperando a reação de outra pessoa, a viagem em si por diversas vezes ficava em segundo plano.
Eu sei que estou fazendo tudo errado, que agindo assim não vou reconquistar ninguém, muito menos tocar uma nova vida, mas como é complicado domar esses sentimentos, como é difícil agir com a razão.
Devo ser um dos cicloturistas mais experientes do Brasil, mas mesmo assim eu consigo cometer erros infantis. O maior deles é que a gente viaja um dia de cada vez. Não adianta pedalar o amanhã sem antes percorrer o hoje. Chegando amanhã a São Paulo ou daqui a 20 dias, o máximo que irá acontecer é que perderei 20 dias de viagem, pois em São Paulo não irá mudar quase nada a minha situação, pelo contrário, pode até piorar.
Vou tentar pedalar e curtir o resto da viagem, ontem eu vim beirando a Serra Geral de Goiás, o trajeto é bonito, o visual imponente, parece com a Chapada dos Guimarães e só mostra o potencial que esse país tem e o quanto nosso turismo é precário.
Hoje vou passar pelos Azuis, um rio de águas cristalinas que fará eu reviver um pouco das belezas do Jalapão. Vou tentar absorver a energia do local e ver se consigo melhorar o meu astral.
Vou tentar resgatar o meu humor de volta que sempre me fez bem e me aproximou das pessoas. E vou começar a fazer também uma coleção de Mutucas. Descobri que nesse país temos uma enorme variedade de Mutucas e elas variam de tamanho, forma e cor de acordo com a região do país.
Temos Mutuca verde na Amazônia, amarela no Jalapão, umas mais magras em Tocantins, no Pantanal tem as “bambolês”, que ficavam dando voltas em mim, zunindo como um avião, enquanto arrastava minha bike no areião.
Basta pegar uma subida, ou parar para tomar água que lá vem elas. Quem vê eu pedalando numa subida pensa que eu estou tendo um ataque. Mas na verdade eu sofro um ataque e fico tentando contra-atacar dando tapas no ar.
No começo ficava neurótico, agora até deixo elas pousarem em mim e se alimentarem um pouco. Dou de lambuja sua última refeição, então lá vai um tapão na coxa e pronto, caem como um avião abatido. Daqui a pouco vai aparecer alguém dizendo que não sou amante da natureza pois isso é instinto de sobrevivência delas. Não sou mesmo, me picou vira paçoca.
Bem pessoal, vou continuar pedalando normalmente, devo chegar em Brasília só na sexta e vou pedalar um dia por vez. Ainda assim terei tempo de sobra para chegar em Paraisópolis até o dia 24.
Espero que vocês continuem me acompanhando, espero retomar meu humor e principalmente espero não surtar novamente até o meu retorno. Antes de fazer ou escrever alguma besteira, vou tentar respirar fundo, pensar e se possível mudar minhas palavras.
É isso aí, vou vivendo um dia de cada vez e tentando espantar a depressão de vez. Abraços a todos e até amanhã.
Aê, André. Curti as imagens da viagem. Cada local bacana!
Fica de boa, aproveita a paisagem. Relaxa e aproveita mais umas cachoeiras.
Vou te esperar em Brasília. Pode ficar uns dias e descansar por aqui, sem pressa. Podemos dar uns giros nas redondezas.
Boas pedaladas!
André,
Corta essa de Audax no meio de uma puta cicloviagem como essa. Velho, vc pedalou até a Amazônia! Já tem outro livro pra escrever. Então, pode vir de consciência tranqüila direto pra SP. Mas venha um dia de cada vez, e tentando curtir a viagem. Força brother. Acabei de matar um pernilongo paulistano em sua homenagem.
Olha, tinha ficado triste com sua decisão de abortar tudo, pois venho acompanhando seu blog desde o início. Ainda bem que você colocou a cabeça no lugar e saiu do “surto”. Vai na boa, relaxa que esses 20 dias realmente não vao fazer diferença na sua atual conjuntura. E se vale uma dica, aproveita esses dias 20 para realmente colocar a cabeça no lugar e ver o que você realmente quer, porque quando voce voltar para sua rotina do dia-a-dia talvez descubra que sua primeira decisão era a certa. Grande abraço e boa sorte.
Força brother! Abraço foRte e Ânimo! 🙂 ahhh! Falei com a Nádia e a oferta de dormida e rango em casa está em pé! 😀 (São José dos Campos)
André, realmente, a natureza não dá saltos.
Tenho uma vaga idéia do que vc está passando.
Uma frase do Victor Hugo me passou pela cabeça: “alguns pensamentos são como orações. Em dados momentos, seja qual for a postura do corpo, a alma está de joelhos.”
Força no pedal!
Abraço.
André, as visões da natureza, as paisagens que nos encantam, não são assim por acaso, há um “segredo” descoberto por poucos. Na presença do ambiente natural, nosso corpo e espírito sente vontade de se ligar novamente ao que é essencial, à criação. É assim porque os simples elementos da natureza nos agradam e dão prazer. Mas para sentir isso em plenitude ainda maior a ponto de realmente se recompor, se equilibrar e se energizar espiritualmente no contato com a natureza, é preciso se ressensibilizar para o belo, apurar os olhos. Com isso quero dizer que é preciso entender o que é contemplar a natureza.
Uma cicloviagem pelo Brasil é oportunidade de contato absoluto com a “criação”, seja ela qual for segundo o entendimento individual, são lugares com pouca interferência humana que têm um poder não revelado sobre nós, mas que pode ser sentido.
Daí, não caia na armadilha de seguir por seguir, mas sim, vá na velocidade da observação. Se um lugar for muito belo, pare, acampe ali, se tiver um riacho de águas frias, se jogue nele, se atrase mesmo; se tiver uma pedra incrível, tente subir até ela; se vir um animal, se aproxime, pare, espere para ver seu movimento; experimente frutas e sabores todos; observe o céu profundo à noite e pense apenas na vastidão que é isso.
Recompor o mundo interior é ficar imune às pressões e angústias do mundo real, porque a mente quieta e o espírito altivo serão mais fortes e importantes.
Viva cada dia de estrada com amor pela vida, toda essas belezas que te rodeiam existem para nossos olhos, por isso eles são tão apurados, esteja presente em alma aí, velhinho.
Quanto mais você se entregar ao momento presente aí, mais a mente se acalma, se afasta das angústias. Viva o dia, esse é o seu presente hoje. Eu entendo que não é enchendo o dia de “missões” ou atividades corridas que evitam pensar que se consegue esquecer uma ssunto, mas sim, desacelerando o corpo e ativando a contemplação do presente ao nosso redor. Isso é assim aí, isso será assim aqui em São Paulo.
No mais, venha de boa, na volta trocamos um abraço forte.
Márcio Campos
André, é isso ai !! aproveita o finalzinho de viagem, logo vc estará aqui com saudades daí.
Tenha paciência, as coisas não mudam de um dia para o outro, geralmente os processos que a gente gostaria que fossem rápidos, são os que mais demoram. Controlar a ansiedade é coisa muito dificil mesmo, mas respira fundo, da uma olhada na paisagem, e calça os seus pés de novo…Um dia após o outro, com calma e logo os sentidos voltam ao normal…sei o que vc esta passando…experiência própria…Foco no pedal e na natureza !!!