Sim, isso é uma doença que assola muitos estabelecimentos comerciais, prédios residenciais e até mesmo instituições públicas. Todos são reféns dessa doença, mas uma pessoa ou “entidade”, uma vez curada, dificilmente será novamente contaminada por esse vírus, ou seja a cura é praticamente completa.

A Bikefobia foi um termo criado pela Renata Falzoni para tentar compreender essa dificuldade de algumas pessoas de compreenderem que a bicicleta é um meio de transporte e que tem que ser tratada como tal.

Pedalo a quase 20 anos e adoro chegar de bicicleta em certos estabelecimentos (principalmente aqueles que me receberiam de braços abertos se estivesse de carro) e sentir a reação dos mesmos. Já passei por tudo, é segurança desesperado correndo atrás de mim pelo estacionamento, tentativas de agressão e até deslumbramento, pessoas achando o máximo eu chegar ao local de bicicleta. Várias vezes recebi tratamento Vip em restaurantes por exemplo, quase sempre arrumam um canto para minha magrela, experiências não faltam.

Mas a regra é que raramente um estabelecimento está preparado para receber um ciclista, a galera do pedal deve lembrar daquela ação que ocorreu logo após a inauguração do Shopping Vila Olímpia (São Paulo), uma ciclista (a Aline Cavalcante) foi até o Shopping pedalando e questionou  sobre a falta do Bicicletário, que deveria existir caso a Lei Municipal 14.266 de 2007 fosse respeitada. Dias depois a Bicicletada de São Paulo acabou fazendo uma visita ao Shopping, como resultado instalaram rapidamente um bom Bicicletário.

Mas enquanto em alguns locais temos tratamento vip, em outros nossas bicicletas são tratadas como artefato terrorista. No Shopping Bourbon, por exemplo, o ciclista tem que empurrar a bicicleta ao lado dos carros. Alegam que o ciclista pedalando traz risco aos carros e a ele mesmo, só uma pessoa que não pedala para achar mais seguro o ciclista empurrar a bicicleta ao lado dos carros do que pedalar. Segundo comentário do Valdson aqui no blog, parece que as coisas melhoraram lá.

Há outros Shoppings que nos recebem sem maiores problemas, mas não necessariamente tornam nossa vida mais fácil. No Pátio Higienópolis o ciclista entra normalmente pela entrada de carros. O único detalhe é que ele tem que descer até o segundo sub-solo para encontrar o Bicicletário. Até aí normal, o problema é a saída, o ciclista tem que subir uns três nessas rampas circulares, com uma inclinação que chega próximo aos 20%.

Da última vez que fui ao Higienópolis, descobri a Chopperia Braugarten que a partir das 16h00 tem Double Chopp. O preço é caro, mas quando em dobro fica bem em conta e um chopp que dá de 10 em qualquer Brahma que temos por aí. O lado bom é que ser você conseguir chegar a saída do Shopping depois de uns três chopps, você chegará sóbrio lá em cima pois queimou todo álcool na rampa.

Mas nesse post foi motivado por uma experiência triste que tive num Shopping muito conhecido dos ciclistas, que comumente há reclamações e que eu sempre procuro evitar, o Shopping Center Norte, um dos mais antigos de São Paulo. Estava na Rodoviária do Tietê, nosso destino era a Decatlhon do Lar Center e o caminho mais óbvio seria passando por dentro do Center Norte.

Já sabia que teríamos problemas, mas fomos assim mesmo, apesar de saber pela internet que o ciclista não é bem tratado no Center Norte, também queria conferir para poder publicar algo mais fiel em meu blog. Entramos (obviamente) pela entrada de carros, estava eu, o Thiago e a Glau, entramos eu e o Thiago primeiro e lá veio o segurança tentar impedir as perigosas bicicletas de acessarem o Shopping.

Eu não perco tempo discutindo com segurança e recomendo todos os ciclistas a fazerem o mesmo. Segurança é aquele cara que se o patrão mandar ele carregar o ciclista no colo, ele fará. Em compensação se ele mandar o segurança tratar o ciclista como bandido, ele também o fará. Portanto a culpa do comportamento do segurança é SEMPRE do patrão.

Como a Glau ficou para trás, enquanto ela não acessava o shopping, fiquei questionando o segurança. Apesar de não discutir com segurança, queria muito ouvir seus argumentos, pois sei que não são deles e sim ordens de seus contratantes. Ele disse que não poderíamos entrar pedalando no Shopping, que deveríamos entrar empurrando a bicicleta.

Aqui já vai um detalhe, não existe uma entrada para ciclista e muito menos orientação. Pelo acesso que entramos há uma escada para o pedestre e a entrada de carros. Eu não tenho a obrigação de saber se há uma entrada exclusiva e mesmo se houver, é muita sacanagem obrigar o ciclista a dar uma puta volta entrando numa única entrada, enquanto o motorista tem uns 10 acessos para escolher.

Questionei o porquê, ele disse “Aqui é privado e as regras são essas, tem que aceitar e pronto” – Ah, não posso deixar de relatar o – “Vai insistir?” – que ele mandou pouco antes de descer do carro e, no melhor estilo “Fucking em Sucker”, caminhar de forma imponente em minha direção com o claro objetivo de me intimidar. Tratamento quase Vip, fiquei imaginando a atitude do segurança caso eu forçasse a barra e tentasse entrar pedalando, provavelmente ele faria algo nessa linha do que fez aquele policial a um ciclista em NY. Tinha uma pitada de preconceito ali? Claro que tinha, pois se eu estivesse de carro, por mais que eu estivesse errado, JAMAIS sofreria tal abordagem, mas vamos lá.

Disse – “Mas o Bicicletário é do outro lado, como eu chego a ele?” – Ele respondeu – “Vai empurrando ou dá a volta pela rua! Pedalando aqui dentro você não vai!” – Retruquei – “Empurrando pela pista? No meio dos carros?” – Ele respondeu – “Não, vai pela calçada!” – Novamente questionei – “Pela calçada? Atrapalhando os pedestres?” – Ele fechou com chave de ouro – “É isso ou vou te retirar do Shopping, pois aqui você não entra!”

Nada melhor do que ser tratado com finesse e delicadeza por um funcionário de um estabelecimento comercial onde eu deixo meu dinheiro. Particularmente eu não vou a esse shopping, mesmo quando morava ao lado e por um motivo simples. Me recuso a gastar meu dinheiro onde não sou bem vindo. Mas realizei sim a travessia pelo Shopping apenas para poder escrever esse post.

Atravessamos o Shopping, empurrando a bicicleta entre os carros, levando fina deles a todo o momento, atrapalhando a circulação, bem mais do que se estivéssemos pedalando. O pior é que eles colocam umas correntes para o pedestre não entrar na pista dos carros e consequentemente, nos impedia de acessar a calçada.

Quando finalmente conseguimos entrar na calçada, aí começamos a incomodar o pedestre. Agora me diz qual é o consumidor que vai a um local onde ele sabe que além de ser mal tratado e ainda incomodar as demais pessoas, só porque o estabelecimento é desorganizado?

Sim, é totalmente desorganizado, se realmente tivessem a intenção de botar ordem, facilitariam o acesso do ciclista por TODAS as entradas e o conduziriam através de sinalização, sempre pedalando, até o Bicicletário. Ou melhor, se simplesmente deixassem o ciclista pedalar lá dentro até o Bicicletário já seria ótimo, pois eles têm um Bicicletário (descoberto) junto a outra entrada. Então se você vem pelo outro lado do shopping (e não estiver de carro ou a pé) azar o seu.

Mas o que é mais me impressiona é que no Lar Center (shopping vizinho, do mesmo grupo, onde está localizado a Decatlhon), você pode entrar de bicicleta e pedalar entre os carros e NINGUÉM te enche o saco. Quantos ciclistas atropelados o Lar Center já deve ter tido devido a essa “imprudência”? Creio que nenhum.

Tá, nem lá tem há um Bicicletário perfeito, aliás nem sei se o Shopping Lar Center tem bicicletário, sei que a loja da Decatlhon tem um desses em formato de grelha (também chamado de entorta roda). A pouco tempo o bicicletário era dentro da loja, mas ele voltou a ser instalado na parte de fora. Para usá-lo o ciclista improvisa, como já está acostumado a fazer, um dia esses estabelecimentos irão aprender a instalar um paraciclo decente.

Mas a Bikefobia é uma doença que tem cura, uma vez que o estabelecimento comercial se vacinou contra ela, dificilmente você terá problemas, no Shopping Vila Olimpia há um Bicicletário de fácil acesso, no mesmo piso do estacionamento Vip. O Eldorado tem Bicicletário, o Iguatemi também, até na Daslu dá para ir pedalando e aos poucos vamos vacinando as pessoas e empresas contra esse vírus. De vez em quando a gente até se surpreende, como esse Paraciclo em frente à unidade Delboni da Avenida Luis Dumont Villares na Zona Norte.

Se tiver que deixar uma mensagem ao ciclista eu diria o seguinte. Ciclista, você tem que reclamar uma vez apenas. Depois ignore, leve sua bicicleta só onde você será bem tratado. Mas não aceite passivamente atitudes preconceituosas, utilize as redes sociais e desça a lenha. As empresas sabem que o elogio de uma pessoa se espalha para 10. Mas uma pessoa criticando chega facilmente a 100 pessoas, portanto não deixe barato. Enalteça os bons exemplos, mas não se cale quando se sentir injustiçado.

E aos estabelecimentos comerciais que querem estar a frente, facilite o acesso do ciclista ao seu estabelecimento. Não sabe como fazer? Aqui tem o link do manual para instalação de um Bicicletário da Transporte Ativo, se você seguir as orientações, além de não gastar muito, terá ciclistas felizes e com vontade de visitar o seu estabelecimento.

André Pasqualini

Mais fotos da saga na página do Facebook do Bicicreteiro

Não deixe de conferir a resposta do Center Norte no próximo post.