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Falo e continuo afirmando, quem consegue pedalar no Pantanal, pedala em qualquer lugar. Acordei cedo mas caía uma forte chuva em Matupa para o meu desânimo. Nem levantei, fiquei enrolando na cama até umas 7 da manhã e fui tomar café.

Matupa foi uma das poucas cidades que eu fiquei em pousada, até porque precisava deixar todos meus equipamentos carregados para poder encarar o Xingu e não ter surpresas desagradaveis.

Acabei saindo de Matupa as 11h00 no meu horario, muito tarde para quem queria sair as 7h00. Já havia parado de chover e até abriu um pouco de sol.

Nos primeiros 10 kms havia sinal de celular, então consegui das varias twittadas. Todo carro que passa eu cumprimento, alguns ficam andando ao meu lado perguntando de onde venho, pra onde vou. Cicloturista não pode ser antipático, temos que repetir a mesma coisa quantas vezes forem necessárias e faço isso com o maior prazer.

Uma pickup passou por mim e parou mais a frente, um senhor desceu e começou a me chamar. Era o seu Zé Vicente, que havia visto minha reportagem no SBT.

Ele disse que tinha uma fazenda perto do Restaurante do Bigode, a 120 kms dali e falou para dormir na fazenda dele.

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Aceitei a oferta, o problema seria pedalar 120 kms nessa terra e chegar de dia. Sabia que havia uma vila a 70 kms de Matupa e depois só o bigode. E no posto antes de encarar a terra, um monte de gente me falava que a estrada estava ruim, lama, areião. Pensei, não vou conseguir chegar nem na vila.

Agradeci o convite e toquei forte para ver até onde conseguia pedalar. A estrada, apesar da lama, estava uma maravilha, conseguia pedalar sempre acima de 20 km/h. No começo era lindo ver aquela mata fechada dos dois lados.

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Mais a frente começaram os clarões e a realidade. Logo atrás das árvores, dava para avistar as vastas fazendas de gado.

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Não demorou e cheguei na primeira vilinha, ali parei e comi algo. Mais a frente, antes de chegar na vila maior, uma serra onde subi quase 200 metros. No alto um rio com a criançada brincando.

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Já estava com uma vontade enorme de entrar na água e não pensei duas vezes. Deixei minha magrela no bike-park e caí na água.

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Lá havia dois homens com uma tigela procurando ouro. Disseram que estavam só testando e que não estavam usando mercurio. Acabei tendo uma pequena aula sobre como o mercurio ajuda os garimpeiros e consegui ver umas graminhas de ouro no meio da terra.

Segui forte, tinha mais 3 horas de sol e uns 60 kms até o Bigode, então passei a me concentrar no pedal. A chuva deu uma trégua, mas pra todos os lados que olhava ela caía.

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Lama eu encontrava sempre que passava perto dos banhados e rios, mas não via problemas em vencer esses obstáculos, era até divertido.

Pedalei forte e consegui chegar no Bigode, consequentemente na fazenda do seu Zé Vicente. Levantei meu acampamento na cozinha e mais uma vez armei a maravilhosa rede do Kampa. Valeu pelo presente Palmas, não imagina o galhão que ela está quebrando.

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A janta foi com o seu Manoel, capataz da fazenda que me deu várias dicas sobre o que eu iria encontrar pela frente. Me disse que devido as queimadas, os animais estão todos fugindo para a reserva indígina e para tomar muito cuidado com as onças que expulsas do território e sem comida, estão atacando até gado de dia.

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Infelizmente é assim, quando o governo incentiva o “pogresso” a qualquer custo, impossível não causar impacto. Agora é esperar todos esses animais expulsos morrerem para a natureza tentar se ajustar novamente.