No primeiro dia pedalei 100 quilômetros sendo uns 80 de terra. Encarei o areião sem empurrar e dei risada, pensei que iria tirar os 400 kms de Pantanal de letra. Mas bastou sair da via principal (que é um aterro), começar a cortar pelas estradinhas que ligam as fazendas e os corredores de boi para ver o tamanho da encrenca.

Não dá e nem compensa pedalar na areia, é como tentar pedalar na areia fofa da praia. Quando chega o areião, tenho que ir na grama das beiradas ou entrar no meio do cerrado fazendo uma trilha paralela.

Saí bem cedo, dormi numa casa onde os peões dormem em redes. eles acordam as 4h00 da manhã e acordei as 5h00. Aproveitei o café da manhã deles e cai na estrada.

Detalhe, nada de “paozinho” com “manteiga”. Eles comem arroz, feijão e ovos no café. E aquilo serviu como uma bomba para me manter quase o dia inteiro.

Logo que saí da fazenda, fui seguindo as trilhas do GPS. Aliás, eu fiquei com o Yanko ligando os pontos e vendo o trajeto exato que ele fez para jogar o track da viagem no meu aparelho. Quando fui ver, quem disse que os tracks foram gravados?

Mas só com os pontos já ajuda, meu destino é sempre a fazenda mais próxima e tento chegar em uma por volta das 11h00 para abastecer de água (se rolar um convite para almoço melhor ainda) e as 16h00 para parar e descansar.

Ainda não vi nenhuma cobra nem uma Ararauna (arara azul), mas consegui ver uns bugios. Difícil é fotografar qualquer bicho com meu celular, esses bugios fugiram e não consegui fotografá-los, nem entrando no cerradão. Além de ter que olhar para o chão e para a árvore para evitar cobras, ainda tinha um corvo chato que ficava gritando e me dedurando.

Nessa de seguir até a próxima fazenda, passei pelo Retiro Pindorama e segui para a fazenda Marajoara. Depois de muito trabalho para conseguir entrar nela, não consegui um almoço, mas consegui àgua geladinha.

Resolvi ir direto sem almoço, um erro, tinha que ter parado e feito um miojão, esse almoço fez muita falta. A próxima fazenda era a dos Pimentas, o gps marcava 10 kms de distância, mas o terreno e as curvas da estrada só faziam aumentar .

Nessa hora achei um trilheiro apontando para a fazenda, não tive dúvidas, entrei na trilha e evitei alguns kms de areia.

Com muito custo e passando por vários areiões, cheguei na fazenda Pimenta, eram 15h00 e o retiro da Fazenda Piuva estava a 10 kms de mim.

O destino óbvio é fazer o trajeto que exatamente como o Yanko havia feito, mas sugeriram eu mudar o caminho indo por uma outra estrada com muita areia, mas que tinha várias fazendas sendo a mais perto a cerca de 3 kms e de lá ir para a Morrinhos, um trajeto mais curto. Como o início da estrada era um areião, decidi manter a rota ir para a fazenda Piuva mesmo.

No caminho encontrei uma comitiva com vários tourinhos que vieram da direção da fazenda.

Entrei na trilha e me ferrei, peguei um areião desgraçado, ainda mais detonado por causa da comitivas sofria para empurrar a bike. Como meu clip tá muito apertado, direto o clip travava e caía para o lado direito.

Perdi uma mão da luva e logo depois perdi a outra. Cheguei no retiro da fazenda Piuva as 17h00 hora daqui.

Descobri que esqueci minha toalha na fazenda Vitória estou me virando com uma toalha de rosto. De tanto cair e encher o guidão de areia, apareceu uma bolha na minha mão.

Também apareceu umas feridas na minha bunda por causa do banco novo. Descobri que jamais devemos amaciar um banco numa cicloviagem.

Depois que comer muito aqui na casa do Edinho, o capataz do retiro, armei minha rede e fui descansar. Foram 50 quilômetros nesse dia hoje e se mante-se essa média ficaria feliz. Mas numa cicloviagem, cada dia é uma viagem nova e é assim que temos que encarar pois nunca sabemos quais são as “merdas” que irão acontecer.