Vazante são grandes rios sazonais. Podemos dizer que o Pantanal é uma grande mesa. Se você derruba água num canto da mesa, ela demora mas vai se espalhando por toda a mesa.

O Pantanal é um grande plano, desde Corumbá até Cuiabá a diferença de altitude deve variar em uns 20 metros e os trechos mais fundo são as vazantes e baias, onde nessa época do ano, quando está seco, você pode trafegar por onde quiser. Já na época de cheia, as vazantes viram imensos rios.

E o melhor lugar para se pedalar é pelas vazantes, onde a terra é mais firme e não tem tanto areião, trechos onde você só passa empurrando a bike. E arrastar uma bike com 40 quilos de bagagem é mil vezes mais desgastante do que pedalar.

Saí do retiro Piuva e peguei um corredor de boiadeiro, uma espécie de estrada estabelecida para a passagem das comitivas de boiadeiro. Descobri que as comitivas não andam apenas pelo Pantanal, mas eles vão até perto de São Paulo se necessário.

No corredor é um areião desgraçado, segui por 6 quilômetros no “push-bike” até a fazenda Água Viva. Segundo o GPS, eu teria que passar na fazenda Mourrinho e depois Santa Oliva. O problema é que ele mostrava uma volta enorme e me disseram que tinha um caminho direto.

Quase fui por esse caminho, mas um pantaneiro disse para eu seguir pelo marcado no GPS pois eu iria só por vazantes.

E que vazante, geralmente nem pedalo pelo trilho do carro, vou pela grama mesmo, mas estava tão compacto que rendeu. Percorri os 12 kms em 40 minutos.

Na fazenda Morrinho fui convidado parrumar um pouco de água: e a almoçar, primeiro almoço com os pantaneiros e a técnica agora mudou, fui mais direto. “O senhor pode me arrumar um pouco de água? Se incomodaria se eu desse um tempo num canto durante esse sol e fizesse meu almoço?” A resposta foi “Imagina, tem almoço aqui, fica a vontade”. Então almocei enquanto um porquinho dormia na sombra da minha bike.

Almocei e segui em direção a fazenda Donato. Disseram que era só vazante, então achei que iria pedalar uns 60 quilometros hoje, mas que nada.

Mais um areião danado, um sol de lascar, água acabando, cheguei na Fazenda Donato para pedir água, já pensando em dormir na Campo Oliva, a próxima fazenda.

Algumas fazendas do Pantanal já possuem energia elétrica e é coisa nova, pois quando meus amigos vieram em junho, era tudo gerador. Agora o sonho de alguns pantaneiros é chegar logo o freezer para poder tomar o tereré geladinho.

Sem a energia elétrica, eles pegam a água do poço e conservam numa garrafa coberta com um pano para manter fresco. Mesmo assim a água fica apenas fresca e não quente.

Aliás, com esse sol daqui, imaginava que esse povo poderia economizar com o chuveiro elétrico fazendo sistema de aquecimento solar. Piada né! Nenhuma casa tem chuveiro, apenas uma ducha ou um cano e a água sai mais quente do que o chuveiro lá de casa.

Cheguei na fazenda Campo Oliva as 16h00. Dava até para tentar ir para a próxima fazenda, mas agora estou chegando perto do rio Taquari e rio é habitat de onça. Como elas costumam a sair a tarde, pelo menos perto do rio quero encostar as 16h00 no máximo.

Aqui o capataz é meu chará (André) e me liberou o pouso numa cama. Animais vi poucos hoje, veadinhos, emas, araras e na fazenda que posei, tem uns porcos monteiros, animais selvagens, que eles domesticaram e vivem dentro da fazenda.

Nesse dia dormi numa cama macia, bom para se recuperar do desgaste que é pedalar no Pantanal. Já estava muito desgastado e ainda restavam uns 260 kms até o Jofre. Muito chão (e areião) ainda.