Vou tentar escrever um post mais técnico explicando o porque graças a obra do Monotrilho da linha Ouro do Metrô é que iremos ganhar uma Ciclovia de 8 quilômetros e mais dois acessos a Ciclovia da Marginal Pinheiros. No final do texto farei uma coletânea de posts interessantes sobre o mesmo assunto.

Obras do Monotrilho e impactos no funcionamento da Ciclovia

No final de setembro de 2013 surgiu a notícia que, devido ao avanço das obras do Monotrilho que chegaram a Marginal Pinheiros, como o trajeto do mesmo passaria por sobre a Ciclovia, desde a Ponte Estaiada, até a Estação Granja Julieta, por questões de segurança o acesso a Ciclovia, nesse trecho, seria interrompido por dois anos.

Essa decisão causou um rebuliço enorme entre os ciclistas que rapidamente organizaram uma manifestação de protesto. Ao saber disso a Secretaria de Transportes Metropolitanos suspendeu a interdição e imediatamente convocou diversos ciclistas e entidades para discutirem alternativas a interdição total da ciclovia mesmo durante a obra. Eu fui um dos convidados para essas reuniões.

A primeira reunião aconteceu no dia 03 de outubro de 2013, nela técnicos do Metro e do consórcio responsável pela obra simplesmente não sabiam o que fazer para resolver a questão, mas que estavam abertos a soluções. Nesse momento percebi a oportunidade de fazer uma limonada com esse limão azedo. Mostrei a todos presentes um post publicado em meu blog em Fevereiro de 2012 onde cito várias sugestões para melhorarmos a Ciclovia e a partir de então surgiram as sugestões que resumo logo abaixo:

Sugestões apresentadas para não interromper o tráfego de ciclistas na Ciclovia

O complexo viário da João Dias tem 3 pontes, dei a sugestão deles usarem a ponte antiga, hoje usada como uma via de acesso (exclusiva para os carros) a pista expressa da Marginal Pinheiros (sentido Castelo), construindo uma rampa ou uma escada para o ciclista chegar até a ponte. A partir dali ele poderia atravessar o rio e acessar a margem oeste, onde seria construída uma nova Ciclovia nessa margem, sobre uma pista de terra já consolidada, sem a necessidade de fazer grandes obras.

foto16

Já na margem oeste, o ciclista seguiria até a Usina da Traição, como a passagem do ciclista pelo meio da usina seria algo complexo, dei a sugestão da construção de uma travessia sobre o Rio Pinheiros de madeira assim o ciclista poderia voltar a margem leste do Rio Pinheiros e sair da ciclovia pelo acesso da Vila Olímpia. Como eles teriam que criar uma solução imediata teria que ser em curtíssimo prazo, sugeri que eles construíssem uma ponte flutuante sobre o Rio Pinheiros, pelo menos até concluírem uma obra mais complexa de travessia sobre o Rio.

Caso eles aceitassem nossas sugestões, além de ganharmos uma nova Ciclovia de 6 quilômetros na outra margem do Rio Pinheiros, poderíamos usar a Ponte João Dias como mais um acesso a Ciclovia, pois hoje há uma forma tosca, mas segura, do ciclista acessar aquele pontilhão da foto acima. Em breve publicarei um novo post falando sobre a Ciclovia da Carlos Caldeira Filho onde detalharei melhor a questão desse acesso.

A proposta final do Metro para resolver o conflito dos ciclistas com a obra do Monotrilho

Depois dessa primeira reunião realizamos diversos contatos com a equipe do Metro onde discutimos várias possibilidades, até que no dia 30 de outubro de 2013 fomos convocados para a apresentação da solução final que o Metro irá adotar, abaixo segue o detalhamento.

Uso da Ponte João Dias para o ciclista transpor o Rio Pinheiros

O Metro considerou essa minha sugestão de usar a Ponte João Dias, junto a margem leste (onde está a atual Ciclovia), construirão uma escada de ferro com canaletas para que o ciclista consiga subir até a ponte. Prometeram também nos consultar antes de começarem a projetar essa escada, assim poderemos indicar a melhor forma de fazê-la, de modo que facilite o acesso do ciclista sem maiores riscos para o mesmo.

AcessoJoaoDiasAcesso a Ponte João Dias

Já na margem oeste não será necessário fazer uma escada, lá há espaço suficiente para fazer um acesso em rampa.

IMG_20131007_102912_0

Pontos negativos: Não é apenas negativo mas principalmente bizarro, segundo o consórcio, a CET-SP condicionou a aprovação do uso da ponte João Dias a construção de um muro que impeça o ciclista de acessarem a Ciclovia. Ou seja, ao invés da Prefeitura aproveitar a situação e consolidar um novo acesso ela criou mais dificuldades aos ciclistas. Como o assunto é mais complexo, devo marcar uma conversa com a Prefeitura o quanto antes para escrever um post sobre o assunto e detalhar melhor essa questão.

Pontos positivos: Essa solução mostrará que há viabilidade na construção de acessos a ciclovia utilizando as atuais pontes, algo que sempre foi rejeitado pela CET-SP. Vamos ver se até a conclusão da obra a gente faça com que não seja construído esse muro para que a gente possa dizer que o outro ponto positivo é justamente o novo acesso a Ciclovia junto a ponte João Dias.

Construção de uma Ciclovia de 8 quilômetros na Margem Oeste do Rio Pinheiros

Nessa margem o Metro irá construir uma pista com 5 metros de largura e 8 quilômetros de extensão entre as pontes João Dias e Cidade Jardim.

CicloviaMargemOeste

Pontos negativos: O único ponto negativo é que essa nova Ciclovia não terá acessos seguros para o ciclista, mesmo sabendo que em alguns casos (como junto a ponte João Dias), a construção desse acesso necessitaria de uma obra simples e barata.

Pontos positivos: Aqui dá para fazer uma lista, primeiro é a conquista permanente da margem Oeste do Rio Pinheiros, depois dessa obra, a tendência é conquistarmos cada vez mais espaços e avançarmos ainda mais (quem sabe em breve não chegaremos as margens do Tietê?). Essa ciclovia fomentará a construção de novos acessos, lembrando que junto a Estação Morumbi da linha Ouro do Metrô também teremos um novo acesso a Ciclovia pelas duas margens do Rio.

Novo acesso e transposição do Rio Pinheiros junto à ponte Cidade Jardim

Desistiram da ponte flutuante e um dos motivos seria a administração de todo o lixo que essa ponte poderia acumular (vide as cordas de contenção de lixo que vemos sobre o rio). Como precisavam de uma solução mais rápida, adaptaram a solução da Ponte João Dias na Ponte Cidade Jardim mas com uma particularidade, a ponte também funcionará como acesso a Ciclovia que não terá apenas um mas sim 4 acessos conforme a arte abaixo, acessos esses que serão via escadas metálicas nos mesmos moldes que a escada da Ponte João Dias.

AcessoCidadeJardim

Pontos negativos: Diferente da João Dias, que terá uma escada permanente, a princípio, essa estrutura da Cidade Jardim será temporária, funcionarão apenas enquanto ocorrer as obras do Monotrilho. Apesar de ganharmos em breve um novo acesso junto ao Parque do Povo (falo sobre isso mais adiante), perderíamos a travessia para a outra margem do Rio Pinheiros.

Pontos positivos: Depois que a estrutura estiver lá poderemos pressionar a Prefeitura e o Estado para mantê-las lá mesmo com o término da obra, algo que possivelmente irá ocorrer. Depois que toda a estrutura estiver em funcionamento, podemos discutir com a Prefeitura algumas soluções definitivas com base no volume de ciclistas (incluindo acesso nas duas margens e a transposição do Rio).

Prazos e operação da Ciclovia durante as obras emergenciais

O prazo final para entrega dessa nova ciclovia, acessos e transposições é de 3 meses a contar de segunda feira, dia 04 de novembro de 2013. Há a possibilidade desse prazo ser menor, mas irá depender principalmente das chuvas que podem atrasar ou adiantar a obra.

Enquanto essas obras acima descritas ocorrem, o Consórcio do Monotrilho vai começar a trabalhar na atual Ciclovia a partir da próxima segunda (04 de novembro), o que impossibilitará o tráfego de ciclistas pelo trecho em obras. Como plano de contingência, eles colocarão a disposição dos ciclistas 4 Vans com Racks para carregarem os mesmos pelos trechos em obras. Uma solução paleativa que não atrasará a obra e tão pouco impedirá os ciclistas de chegarem aos seus destinos.

VanTransporteCiclistas

Novos acessos e trechos da Ciclovia já em obras

Acesso a Ciclovia junto ao Parque do Povo

Finalmente esse acesso que era uma compensação exigida pela CET a WTorre (devido a construção do Shopping JK) está em obras, inclusive encontramos um funcionário da empreiteira no acesso da Ciclovia, na Vila Olímpia, carregando essa interessante placa. Segundo ele, a previsão é que o acesso fique pronto em 5 meses.

PlacaAcesso

Ciclovia do Projeto Pomar e Ponte da Guarapiranga

Já está ocorrendo uma obra de uma Ciclovia com cerca de 3 quilômetros na margem oeste do Rio Pinheiros ligando a Ponte do Socorro com a base do Projeto Pomar que fica próximo a ponte João Dias, inclusive quem pedala pela Ciclovia da Marginal, em Santo Amaro já consegue observar essa obra da ponte móvel sobre o canal da Guarapiranga.

IMG_20131030_133435_0

O detalhe é que essa obra da ciclovia irá terminar a cerca de 400 metros da Ciclovia que será construída pelo Metro junto a Ponte João Dias. Nesse caso cabe a quem está tocando essa obra (Secretaria de Energia junto com a Emae) unir as duas ciclovias.

mapaPomar

Agora é bom atentarmos a esse detalhe, olhem a foto abaixo, em tese essa é a base da Ciclovia.

IMG_20131030_135055_0

Me parece que estão fazendo a ciclovia com “guias”, como se uma Ciclovia fosse uma “rua” em miniatura. As guias são úteis em relação aos carros pois inibem que eles avancem sobre as calçadas naturalmente, já Ciclovias jamais devem ter guias, pois isso, além de causar poças de água (já que essas ciclovias não devem ter bueiros) podem trazer graves riscos aos ciclistas em caso de quedas.

Ciclovias não devem ter guias, elas devem terminar no mesmo nível do terreno ao lado, de preferência com áreas permeáveis ao lado, pois a água deve escorrer pelo asfalto e penetrar no solo pela grama. É comum ocorrer quedas de ciclistas em ciclovias e uma queda pode levar o ciclista a chocar sua cabeça numa dessas guias, nesses casos o risco de morte é imenso. Portanto se o engenheiro responsável pela obra projetou essa ciclovia como uma “mini-rua”, espero que ele corrija esse erro em tempo. Aliás recebemos dos engenheiros do Metro a garantia que a Ciclovia da margem oeste será nos mesmos moldes da margem leste, ou seja, sem guias.

PropostaMetroPisoCiclovia

Considerações finais: Apesar da trapalhada do Consórcio do Monotrilho, que deveria ter nos consultado uns seis meses atrás para discutir as possíveis soluções que evitassem a interdição da Ciclovia, acredito que essa lambança pode até ter facilitado a conquista da Ciclovia do outro lado do Rio.

Agora cabe a nós acompanharmos as obras e cobrarmos da Prefeitura que negocie com o consórcio outras compensações que beneficiem os ciclistas, dá para incluir aí uma solução definitiva para um acesso junto a Ponte João Dias, uma pequena obra junto a antiga ponte do Morumbi para termos mais uma transposição do Rio Pinheiros e diversas outras pequenas obras simples para eles, mas que trariam um benefício imenso a nós. Aliás a estimativa é que essas obras extras custem 5 milhões de reais, valor ridículo se levarmos em conta os 4 bilhões que o monotrilho irá custar.

É isso, enquanto a nossa cidade não cria um Plano Cicloviário de verdade, vamos comendo pelas beiradas e conquistando espaço graças a compensações aqui e ali. Aliás esse é o próximo passo, agora vamos atrás da Prefeitura e principalmente da CET para saber o porque não aproveitar essa situação para trazer ainda mais benefícios para os ciclistas. Inclusive precisamos que a Prefeitura nos diga como serão as Ciclovias que o Metro terá que fazer junto aos Monotrilhos como parte da compensação ambiental da obra. Vou aproveitar e cobrar da mesma uma mudança de rumos, quem sabe não é agora que a prefeitura vai passar a fazer infraestrutura para bicicleta com base em um plano de verdade e como penduricários dessa ou daquela obra.

André Pasqualini

O que mais ler sobre o assunto?

Texto do Vá de Bike

Videoreportagem da Renata Falzoni