Vou confessar, dei muitas risadas quando vi as matérias falando que o Ministério Público de Porto Alegre estava investigando a Massa Crítica da cidade. Para os desentendidos, Massa Critica, Critical Mass, Bicicletada é tudo a mesma coisa, não passa de uma coincidência organizada onde as pessoas se reúnem na última sexta feira do mês e se deslocam pelas ruas da cidade de forma não poluente.
Mas galera de Poa, será que vocês compreenderam realmente qual o significado da Massa Crítica? Quem entendeu, com certeza não está nada preocupado com a interferência do MP (que parece não ter muito o que fazer) e ainda esta rolando de rir com a tentativa do MP e da EPTC em tentar controlar a Massa Crítica. Agora os ciclistas que aceitaram um encontro com o pessoal da EPTC e MP para conversar sobre a Massa Crítica, estão cometendo erros gravíssimos.
Primeiro que nesse momento NINGUÉM tem que falar em nome da Massa Crítica. Se eu fosse de Poa até criaria um email fake e divulgaria a senha nas listas de discussão de vocês. O email poderia ser liderdamassacriticapoa@gmail.com, por exemplo. Então qualquer pessoa poderia usar o email e mandar mensagens para os “órgãos competentes”. Qualquer mensagem mesmo, seja uma sugestão de como deveria ser a ação da EPTC durante a Massa Crítica, ou mesmo mandar umas receitas de bolo da Ana Maria Braga.
A partir do momento em que uma pessoa responde o poder público, já está cometendo uma cagada gigantesca. Se alguém resolve sentar numa mesa com EPTC e MP, essa pessoa esta cometendo uma burrice sem tamanho!
Lembro do WNBR de 2008 em São Paulo, na época era responsável pelo site CicloBR e publiquei nele uma chamada para a Pedalada Pelada. Como muitos canais de mídia divulgaram meu link, recebi centenas de mensagens como se eu fosse o organizador do evento e até um email da PM pedindo mais “informações” sobre o evento.
Na época lembro que “o trouxa aqui” jogou a mensagem na lista da Bicicletada(SP) pedindo conselhos sobre o que fazer. Muitos disseram que era pra eu responder o email, dizendo que não era o organizador, que era um movimento horizontal, bla, bla, bla. “O trouxa aqui” fez exatamente isso. Respondi, troquei vários emails com os PMs, mensagens sem ameaças, bem simpáticas, sentia até que dava para confiar nos PMs (tolinho). Lembro que dias depois, quando já havia respondido o email, outro amigo disse que se fosse ele, teria ignorado, dito que ficou preso no anti-spam, mas jamais responderia. Era isso que deveria ter feito.
O PM pediu até para eu passar meu número de celular para conversarmos melhor e na maior boa vontade do mundo passei meu número. No dia da pedalada, o Major da PM me ligou, viu minha cara, conversou comigo na praça, venho com aquele papinho de puta pra delegado (que estavam lá para nos proteger, blá, blá, blá…) e o trouxa aqui caindo na conversa como um patinho.
Quando iniciou a pedalada, todo mundo começou a tirar a roupa e nada da polícia fazer algo. Já estávamos na Brigadeiro, uns 2 quilômetros da Praça do Ciclista e deveria haver uns 50 pelados no meio da massa. Como percebi que a PM não fazia nada, achei que estávamos em Londres, onde a PM acompanha a pedalada para proteger os ciclistas, então tirei minha tanga ficando como vim ao mundo e o que aconteceu logo em seguida? Não demorou cinco minutos e o Major Tomada aparecer em minha frente dizendo que eu estava preso, mesmo rodeado por uns 20 ciclistas nus. A Falzoni até disse “Se ele está preso eu também estou” e a resposta do Major foi “Você não!” Vejam os vídeos abaixo para entender o que aconteceu.
WNBR Parte 1
WNBR Parte 2
Meses depois a CET de São Paulo ainda mandou uma multa de R$1.200,00 para minha casa, só porque eles consideraram que eu fui o organizador do evento “não autorizado”. Claro que a multa foi cancelada, minha prisão não deu em nada e até que no final das contas, todos esses acontecimentos serviram para a prefeitura se tocar de que o melhor é estar do nosso lado do que ser contra.
Houve também uma tentativa torpe, até com a ajuda de setores da mídia convencional de tentar desqualificar o movimento, mas nesse mundo conectado em que vivemos hoje, as mentiras não duram tanto tempo assim, portanto não vejo isso também como um grande problema. Agora não sei se vale a pena passar por um desgaste tão grande e desnecessário como eu passei. Antes eu seguisse a ferro e fogo a principal diretriz da Bicicletada, a de que NINGUÉM pode falar em nome dela.
Se eu pudesse deixar um conselho para a galera de Poa seria uma só. Tirem onda da cara das autoridades sem dó. Esse povo de mente hierarquizada tem uma dificuldade enorme para compreender como um movimento horizontal consegue funcionar. Eles realmente acreditam que há alguém manipulando os ciclistas. Sim, eles criam suas teorias da conspiração, acham que é coisa do PT (se o governo é do PT acham que é do PSDB) e por aí vai, então deixem eles aprenderem na marra.
Uma ideia é fazer como na Bicicletada Interplanetária, a galera imprimiu várias camisetas de “vice-líder” e distribuíram entre os ciclistas. Imaginem a cena de alguém perguntando “Quem é seu líder” e a galera respondendo “Não sei, mas eu sou o Vice-Lider”. Daí outro “Eu também, eu também”…
Outra sugestão, podem seguir o exemplo da galera de Sampa e vocês podem eleger um líder da Bicicletada, aqui todo mundo sabe que o Líder da Bicicletada é o Joaquim. Não conhecem o Joaquim? A foto abaixo foi tirada em um Pedal Verde especial, contra a retirada das árvores da Marginal Tietê para a criação de mais uma pista de carros. Mandei essa foto no meu Twitter e escrevi “Prenderam o Líder da Bicicletada”.
A Bicicletada ou Massa Crítica não precisa de autorização para acontecer, bicicletas são veículos e pela lei podem circular, inclusive em massa, da mesma forma que os outros veículos poluidores podem. Aliás o CTB diz, além que os veículos maiores tem que proteger os menores, diz também que eles não podem interromper uma aglomeração, seja de pessoas ou “veículos”.
Aproveitando façam essa pergunta a EPTC, os milhares de motoristas que se manifestam diariamente nas ruas de Poa, causando paralisação da cidade, precisam pedir autorização para circular? Porque a Massa Crítica precisa?
Tirem onda galera, se divirtam com a cegueira das autoridades, um dia eles vão aprender que é possível haver uma organização ante ao aparente caos. Em diversas Critical Mass ao redor do mundo, a polícia acompanha a massa e só interfere quando algum “Neis” da vida atenta contra a massa. Em São Paulo é comum termos acompanhamento da PM em vários trechos, tanto ajudando nos bloqueios, ou nos protegendo, mas nunca tentando interferir no comportamento da Massa, até porque eles já aprenderam que qualquer tentativa de “guiar” a massa jamais funcionará.
Evitem personalizar a Massa Crítica, converse com as pessoas que na boa vontade tentam fazer isso, o melhor caminho é deixar a massa acontecer naturalmente, acreditem, um dia as autoridades locais vão se tocar e ver que é impossível controlar o incontrolável.
Boa Massa Crítica a vocês.
André Pasqualini
Grande André
Parabéns pelo texto, pelas sugestões e pelos esclarecimentos
Alvaro Sanção
Oi André, é realmente lamentável a sua experiência. São coisas assim que nos deixam cautelosos ao lidar com qualquer tipo de autoridade.
Essa cautela, no entanto, é também uma forma de preconceito. Vivemos numa sociedade democrática, e é preciso acreditar em suas instituições, que exercem um poder que emana de nós mesmos. E mesmo quando a instituição é falha, precisamos dar uma chance às pessoas por trás delas.
Foi por essa chance que o Aires, o Marcelo, a Eloá, eu e mais alguns fomos à audiência no MP. Nenhum de nós foi como representante da Massa, mas apenas como cidadãos dispostos a fornecer ao MP informações que estejam em nossa capacidade.
E o resultado foi excelente. Mesmo que a EPTC e a BM não tomem nenhuma ação concreta, a linha de diálogo que foi criada legitimiza o nosso direito de manifestação e reduz o espaço para repressão futura. Ninguém na EPTC ou na BM vai poder tratar alguém como “líder” da Massa depois de ouvir o Promotor de Justiça do Estado reconhecer o caráter horizontal, sem representantes, do movimento.
O que acredito que realmente precisamos agora é de educação: precisamos educar o cidadão para que ele aprenda a respeitar o ciclistas, e reconheça os nossos direitos de transitar pela cidade. Mais do que isso, as pessoas precisam de educação para saber que elas têm direito a uma cidade muito mais humana, muito melhor para se viver do que aquela que temos hoje. Engarrafamentos e trânsito estressante não precisam ser “normal”.
Eu vejo essa audiência como mais uma ação educativa: por que não educar também as autoridades?
Quem disse que não acredito em educar as autoridades? Só discuto a forma que isso pode ser feito. Mas meu objetivo com esse texto não era de impedir que vocês fossem ao encontro com o MP, mas que fossem atentos e com os cuidados necessários.
Estreitar o diálogo com o poder público e as autoridades eu considero obrigação dos ciclistas, só não acho correto usar a Bicicletada (ou Massa Crítica) como o meio, pois isso pode causar desgastes desnecessários.
A sugestão que eu dei é que alguma associação de Poa fosse até a reunião, deixasse claro que é impossível falar em nome da Massa Crítica, mas que deixasse pública, não apenas a sua forma de organização como dicas de como o poder público poderia se comportar para evitar problemas como o que ocorreu no caso Neis.
Essa mesma associação poderia levar exemplos de como algumas autoridades locais atuam sobre o Critical Mass, desde mostrando a repressão que ocorreu em Nova York, como o verdadeiro acompanhamento com objetivo de proteger os participantes da massa, como ocorre em Londres. Mas sempre falando em nome de uma Associação e deixando sempre claro que sua explanação não passa de sugestões ao poder público.
Por mais que cada local tenha sua cultura e suas particularidades, não conheço nenhum lugar do mundo onde alguma personalização da Bicicletada deu certo. E pelo pouco que conheço o povo gaúcho, tenho certeza que aí irá trazer mais problemas do que solução.
Aproveitando, se alguém puder fazer um relato de como foi a Massa Crítica de dezembro aí em Poa, me passe que divulgo no meu blog, até porque não achei ainda em nenhum site.
Alguém provavelmente vai escrever um relato melhor, mas:
A Massa de Dezembro foi bem normal. Não foi das maiores que já tivemos, com uma estimativa na base do chutômetro de cerca de 200 pessoas. Seguimos um trajeto espontâneo que não foi acordado previamente, apesar de uma tentativa durante a concentração.
A EPTC destacou cerca de 6 agentes de trânsito que acompanharam a Massa, de bicicleta. 3 ou 4 deles seguiam à frente, perguntando e prestando atenção na direção que o grupo ia tomando. Os demais seguiam no meio da massa. Havia também uma viatura da EPTC no final. A Brigada Militar também nos acompanhou com mais uma viatura atrás.
As autoridades presentes foram na maior parte do tempo invisíves, como têm que ser. Ocasionalmente os agentes da EPTC fechavam um cruzamento mais movimentado, mas em geral a coisa correu como sempre, com os próprios ciclistas fazendo rolhas. Algumas vezes vi os agentes apitando para parar o trânsito, e assim que os motoristas paravam, eles deixavam alguém da Massa para continuar com a rolha e seguiam em frente.
A BM ficou só seguindo o grupo, intercedendo apenas em uma ocasião onde um taxista mais nervoso começou a discutir com um ciclista também nervoso. A presença da BM rapidamente acalmou os ânimos e todos prosseguiram, apesar de não necessariamente felizes.
Vi gente reclamando durante o trajeto, e depois em alguns blogs, que a Massa estava muito “despilhada”, e atribuíram isso à presença das autoridades. Realmente não foi a Massa mais animada que já participei, mas acho que é assim mesmo, sempre tem altos e baixos. Além disso, acho que a recente exposição na mídia trouxe um público mais amplo para a bicicletada, gente que está só mesmo afim de pedalar.
E isso nós fizemos! Pedalamos, e também entregamos flores e desejamos feliz ano novo a muitos motoristas. Ao contrário do que saiu no ZH, sinto uma aceitação cada vez maior. Vi diversos motoristas nos incentivando, alguns particularmente efusivos. Houve quem reclamasse também, mas sempre haverá.
Enfim, acho que foi isso — ou pelo menos, essa foi a Massa que eu vi. Percorri toda a extensão da massa várias vezes, fiz rolha, conversei com motoristas, com agentes da EPTC, com brigadianos, com gente de todo tipo. Fui pra casa feliz.
André, seria perfeito que uma associação fizesse isso, infelizmente temos apenas uma associação de ciclistas em Porto Alegre, ela representa uma parcela de ciclistas mais voltada ao esporte, embora sempre coloca a bicicleta em evidência realizando passeios e outras ações. Ela, infelizmente, está afastada dessas discussões com a EPTC, BM e MP. Temos uma outra associação em processo de formação que Talvez possa assumir melhor este papel. Porto Alegre ainda está engatinhando nesse sentido.
Olha aí o caminho. Em certo momento a Bicicletada a voz mais poderosa dos ciclistas de São Paulo, mas com o tempo naturalmente surgiu a necessidade de nos organizarmos e na falta de uma nasceram duas Associações, o CicloBR e a Ciclocidade.
O CicloBR nem tanto para representar os ciclistas, mas sim para dar apoio técnico ao poder público, ciclistas dizendo como eles devem fazer. Ciclofaixas de Moema, Ciclofaixa de Lazer, Treinamento de motoristas de ônibus, Rota Marcia Prado e por aí vai.
Já a Ciclocidade nasceu para representar os ciclistas de São Paulo e se estivéssemos passando por uma situação parecida, com certeza as duas se uniriam para sentar numa possível mesa.
Hoje a Bicicletada assumiu seu verdadeiro papel, a da celebração da bicicleta. Hoje ela não esta mais tão “ativista” como antigamente, mas cumpre o seu papel que é ser realmente aquela bagunça divertida. Aliás eu sempre dizia que o “ativismo” tem que ocorrer durante os demais dias do mês, deixando a Bicicletada como, além de um momento de celebração, também de reflexão de tudo que fizemos até então.
Poa já passou da hora de ter suas organizações, aliás sinto falta dos Gaúchos nos encontros de cicloativistas, conheço gente de todo o Brasil mas ainda não tive o prazer de conhecer nenhum de Poa, espero que isso ocorra em breve.
😉
Eu voto no Mário, como líder do Movimento!
Parabens a todos os envolvidos, linda ação! Gostaria que voces pudessem se envolver ou conhecer a proposta de Democracia Experimental – DemoEx, Estamos nos organizando no facebook, Demoex brasil,
Abraço a todos, quando acontecer aqui em Londrina estarei unido – Abraços
Eduardo Demoex Paraná
Sensacional ! Vice Líder foi ótimo hahaha !
André, quando teremos outra viagem ???
Galera de Sorocaba está na expectativa !
Abração e um ótimo ano pra você querido, com muita paz e bicicletagem !
Eu não pude ir na reunião, mas gostaria de ter ido, não representando a massa porque isto não existe, mas como um ciclista que está cansado de ouvir reclamações da eptc e de alguns motoristas mais reacionários. Aqui um link com um relato do que aconteceu:
http://vadebici.wordpress.com/2011/12/29/audiencia-no-mp-relato-preliminar/
Olha la meu tio pintando bike no pessoal 😀
Concordo plenamente em ignorar esse pessoal “importante”. Talvez com o tempo eles vejam as vantagens de uma vida tranquila e juntem-se a nós.
André, obrigada por suas sugestões e dicas. Lamento pelo ocorrido com você, mas ninguém merece ver tanto “Bumba feia” na rua né!!! Brincadeiras a parte. Sou muito favorável a essas manifestações apolíticas e com um propósito de proteger interesse de todos, até daqueles que criticam o passeio coletivo, carinhosamente chamado “Massa Critica”.
O seu texto é bem bacana e dentro do espírito da MC. Mas, diferentemente de Porto Alegre, vocês nunca foram atropelados como aconteceu aqui. Só quem viveu aquilo pode ter a dimensão do horror que é um carro acelerando sobre os ciclistas. Então… menos, menos.
Na massa daqui vão senhoras, idosos, crianças e não queremos viver outra situação como aquela. Vcs precisam entender o enquadramento cultural de cada MASSA e a MASSA pode e deve se adaptar aos seus locais e a cultura de cada local. O motorista de Porto Alegre é arrogante e violento, não admite nada que o atrase. Não foi de graça que aqui que se deu este atropelamento – tentativa de assassinato -e que só não morremos por pura sorte. Então entre a vida das pessoas e seguir o manualzinho da Massa ou querer evitar pagar uma multa ou ser perseguido ou qualuqer coisa dessas, mil,um milhão de vezes a vida dos ciclistas.
Sandro, realmente em São Paulo nunca aconteceu um strike cinematográfico como ocorreu aí, mas já ocorreram vários casos de motoristas jogando seus carros em cima da massa, com ciclista atropelado (alguns até com certa gravidade), noites dormidas na delegacia fazendo BO, polícia e tudo que tem direito. Eu ao menos duas vezes tive que ficar acalmando motorista com retrovisor quebrado por ciclista, para ele não jogar seu carro contra a massa, portanto o que ocorreu aí era algo que infelizmente, um dia iria acontecer.
Já ocorreram também situações semelhantes em diversas Critical Mass ao redor do mundo, com strikes parecidos e até com acidentes graves e apesar de ainda não ter pedalado em Poa, mas já ter pedalado em pelo menos umas 500 cidades brasileiras (incluindo várias capitais), posso te garantir que motoristas estúpidos e arrogantes como em Poa existem em tudo que é lugar.
A diferença que eu faço entre os motoristas de São Paulo e das outras cidades que já pedalei, é que aqui há tempos vem rolando uma campanha envolvendo vários atores da sociedade, tanto poder público, como imprensa e sociedade civil clamando por respeito aos ciclistas e isso tem dado resultado. Tanto é que sempre que recebo visita de ciclistas de outras cidades, todos se espantam com o comportamento da maioria dos motoristas de São Paulo. Ainda não é o ideal, mas na minha avaliação, São Paulo é uma das melhores cidades do Brasil para se pedalar com quase nada de Ciclovia.
Mas nem sempre foi assim, a cerca de 4 anos vivíamos uma situação de enfrentamento parecida com a de vocês só que hoje a coisa mudou de lado.
Meu alerta não é para seguir manualzinho da massa, até porque a massa só tem duas diretrizes básicas. A primeira é a participação de veículos não motorizados e a segunda é que ela não tem liderança, é um movimento horizontal.
Quem se atrever a tentar ser o porta voz da massa, vai ser usado como bode expiatório dos atuais inimigos dos ciclistas (atualmente o poder público local) e dos demais ciclistas que participam da Massa Crítica, já que ninguém vai se sentir representado por alguém durante a bicicletada. Ou seja, quem tentar ser o porta voz do movimento vai só tomar na cabeça.
Agora se quer mesmo proteger os ciclistas, junte uma galera do paz e amor para fazer as contenções e ficar no final da massa conversando com os ciclistas, deixem os mais exaltados lá na frente, pois nada melhor do que a turma do deixa disso para acalmar os ânimos dos Neis da vida, já que dificilmente vocês vão contar com o apoio da prefeitura e polícia, pois pelo que eu percebi, eles querem mais é ver o sangue de vocês.
Olha, Sandro, concordo com a maior parte do que escreveste. Apenas acho que a apropriação cultural é importante e o que tem acontecido em Porto Alegre é que o jogo se virou contra os ciclistas em geral, por conta de um sentimento que se generalizou contra a Massa Crítica por pessoas que nunca participaram dela. Depois do atropelamento-tentativa de assassinato, carros passavam por nós e buzinavam fazendo sinal de positivo. A gente nem acreditava. Só que depois que se acirrou esse lance da MASSA com os fiscais da prefeitura, a opinião pública não está apenas contra a MASSA, mas está contra todos os ciclistas. O que é injusto, perigoso e não é o desejo de ninguém. Daí ciclistas em geral começam a ficar incomodados com a MASSA. Mas não com a MASSA, sabemos, mas com certas atitudes que aparecem na MASSA. Vc tem razão, tem que juntar os paz-e-amor para ficar no fim, mas também no início e no meio, porque no Rio Grande do Sul a testosterona pega nos motoristas, mas também pega nos ciclistas, principalmente em alguns que, ouvindo falar que a MASSA é uma bagunça (porque é o que parte da mídia está dizendo), se juntaram recentemente porque “descobriram” o lugar ideal para a bagunça, pq na MASSA não tem lei, vale tudo e blablabla. Isso é a preocupação hoje para nos, entende? Não é a MASSA em si, é ser ciclista numa cidade que está se voltando contra o ciclista. E o pior ainda: tudo isso está sendo a alegria da defesa do atropelador, que, se cair no juri popular, é capaz de ser absolvido e as vítimas se tornarem as culpadas. Vc não acha que nesse contexto vale tentar uma mediação como foi tentada?
Entendo perfeitamente o que o André quer dizer. Acho que, com erros, acertos, , retrocessos, avanços, estamos tentando, todos, compreender o que a bicicleta representa nesses tempos infernais. Vejo a mudança de postura da mídia em São Paulo mudar para melhor gradualmente, pela mobilização individual e coletiva das pessoas que advogam pela bicicleta. Isso ainda não aconteceu em Porto Alegre, mas a cada dia, fora da massa crítica, um ciclista conversa com um parente, um colega de trabalho, um amigo, sobre o seu direito de ir e vir e isso tem efeito.
Hoje fiquei muito feliz, pois, acompanhando o resumo (cheio de erros de conceito, incompreensões, etc), veio uma entrevista com o Chris Carlsson, o idealizador da Massa Crítica primordial, lá em São Francisco. Em Porto Alegre, num veículo dito “chapa branca” como o Jornal Zero Hora, isso é um gesto e tanto de buscar entender não o que a massa crítica funciona, mas o objetivo que ela persegue, que é tornar o trânsito mais humano. Tá aqui o link: http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/geral/noticia/2011/12/sempre-evitamos-a-coordenacao-com-a-policia-diz-fundador-do-massa-critica-3616410.html
Feliz ano novo, gente!
Show. Magnífico.