No dia anterior eu havia pedalado 140 kms, saindo as 11h00 de 3 Lagoas, chegando as 18h00 em Água Clara. Em tese eu levaria mais dois dias até Campo Grande pois ainda restavam 180 kms até lá. Mas porque não tentar ir direto?

Acordei cedo, aqui estou numa confusão com horários, tenho que levar em consideração a hora de São Paulo, devido ao meu relógio biológico e o horário local, já que tudo aqui gira em função do horário deles (obviamente).

Acordei as 5h30 (hora local) e comecei a me preparar, tomei café na pousadinha que estava, ajeitei a bike e cai na estrada. Eram 7 da manhã, dei uma parada num posto de gasolina e aproveitei para novamente encher minhas garrafinhas com água gelada de primeira.

Pedalei mais um pouco e cheguei ao Rio Verde, de lá dei umas twittadas e registrei o sol que tentava surgir entre as nuvens. Bom sinal, quer dizer que teria alguns momentos de sombra durante a viagem. Seria uma corrida pelo sol, dependendo da hora que chegasse em Ribas do Rio Pardo (86 km de Água Clara) eu continuaria ou não a viagem até Campo Grande.

A estrada tem acostamento praticamente até Campo Grande, e pra variar os fãs do Ayrton Senna faziam a festa, já que não há nenhuma fiscalização sequer e muito menos bom senso por parte dos motoristas. Por pouco não virei paçoca quando um caminhão cegonha descarregado, que vinha no sentido contrário, tentou ultrapassar outro caminhão, ignorando um carro que vinha lá atrás, no mesmo sentido que eu, obrigando-o a invadir o acostamento para evitar uma tragédia. Questão de segundos na relação tempo espaço, seria eu quem levaria a pior, graças a inconsequência de um motorista retardado e imprudente.

Cheguei em Ribas as 13h00 locais, arrumei um local para almoçar e as 14h30 sai com destino a Campo Grande. Arrisquei, pois mesmo se tivesse que pedalar de noite, valeria a pena pois na capital eu teria infra-estrutura e também vários contatos para me ajudar.

A fauna no trajeto, apesar de simples perto do que vou encontrar, acaba compensando a viagem. Descobri que onde tem um tucano sempre tem uns pássaros atacando ele, pois os tucanos roubam ovos e filhotes para comer. Eu já presenciei uns 3 tucanos sendo colocado para correr por pássaros nervosos. As seriemas também estão em vários lugares. Seu grito característico reconheço de longe. Essa daí subiu na cerca só para poder chamar mais atenção.

Também vi umas emas atravessando a pista, consegui fotografar essa abaixo logo após a travessia. As emas são da mesma família das seriemas, mas bem maiores, essas deviam ter 1,20 metros pelo menos.

De Ribas até Campo Grande o GPS marcava 89 kms e sabia que havia um posto de gasolina cerca de 40 kms de Ribas. Aí a água passou as ser um problema, me disseram que os rios de beira de estrada tem água limpa. Estava com quase nada de água e parei num desses num desses riachos, mas perdi a coragem. Resolvi pedalar até achar uma fazendinha próxima da estrada e logo depois do riacho encontrei o posto (ou oasis nesse caso) e lá mandei um isotônico, um guaraná com açaí e enchi minhas garrafas.

Faltavam 51 kms até Campo Grande e na saída peguei um vento a favor que deu motivação, pedalei como um louco, venci rapidamente os primeiros 20 kms e fui em busca da placa dos 300 km na estrada, pois sabia que de lá faltariam uns 25 para a cidade. Encontrei a placa, mas depois disso bateu um bode e passei a me rastejar.

Escureceu, liguei os piscas da magrela e segui pedalando bem devagar, me arrastando nas subidas. O odômetro do GPS marcava quase 180 km e nada da cidade, liguei o celular que já tinha sinal e consegui ver pelo mapa que estava do lado de um autódromo e ainda faltava um bocado para o perímetro urbano. Bem nessa hora sinto que meu pneu traseiro estava furado. No breu, resolvi encher para ver se consegui pedalar até um ponto iluminado. Nesse momento a bike tomba e quando tento levantar começa a dar câimbra em tudo que é músculo do meu corpo.

Com calma, ergui a bike, terminei de encher o pneu e segui na estrada, de repente ouço um “ANDRÉ!” Era o Yanko, o morador de Campo Grande que estava me acompanhando pelo blog e como viu que estava a caminho, resolveu me encontrar na estrada. Aproveitei a presença dele e consertei o pneu ali mesmo, descobri que o causador do problema era um ridículo caco de vidro.

Pedalei com ele até a cidade e acabei chegando na casa do Guilherme, um brother que conheci em Curitiba num bonde a dois anos atrás, que me deu casa comida e roupa lavada durante minha passagem por aqui. Nessas horas mesmo não sendo religioso, tenho que agradecer aos anjos vivos que aparecem nas nossas vidas de vez em quando.

Hoje vou dar uma volta na cidade, arrumar um raio quebrado, tentar consertar meu bagageiro traseiro, dar um trato na magrela e planejar com calma essa minha travessia do Pantanal. O seu Antônio, pai do Guilherme, conhece muito do Pantanal e está dando dicas maravilhosas. Tenho certeza que farei uma ótima travessia e tomara que eu consiga sinal de celular em alguns cantos para poder mandar para vocês tantas belas imagens que devo registrar.

Agora vou descansar um pouco as pernas, pois os 200 kms de ontem não foram fáceis, praticamente um Audax só que com 40 quilos de bagagem.