Oi, meu nome é Marcos, tenho 5 anos e vou contar um pouco sobre o final de semana que passei com meu pai. Fazia tempo que eu não via ele, não consigo ainda entender direito porque ele fica tanto tempo longe de mim, lembro que ele morava na minha casa com minha mãe, que a gente dormia juntos quase todos os dias, mas parece que ele brigou com minha mãe e foi embora de casa, depois disso não consigo mais ver ele bastante, antes ele até aparecia em casa, me levava para a casa dele, ficava lá uns dois dias e ele me trazia de volta, agora nem isso acontece mais.

Teve um dia que eu estava num ônibus com meu pai, indo para a casa da minha mãe. Eu estava deitado com minha cabeça na perna dele e ele me perguntou por que estava triste, então eu disse que iria demorar muito tempo para ver ele novamente. Percebi que meu pai ficou triste também, então ele disse que iria conversar com minha mãe para arrumar um jeito da gente se ver mais vezes. Não sei o que ele falou pra minha mãe, mas depois desse dia ficou ainda mais difícil ver meu pai. Ele aparecia uns dias na minha casa pra me ver e quase sempre minha mãe e minha avó acabavam discutindo com ele. Eu chorava porque não gosto de ver meus pais brigando, só sei que depois da última briga meu pai não voltou mais pra me pegar em casa.

Na escolinha me disseram que estava chegando o dia dos Pais e pediram para a gente fazer os presentes dos papais. Fiz dois desenhos, um coloquei numa bolsa, colocamos num saco com uma fita, o outro desenho coloquei numa carta. A gente tá aprendendo a falar inglês na escolinha, falar em inglês é a mesma coisa que falar em português, só que as palavras são diferentes, por exemplo, em inglês eu chamo meu papai de “Dad”. Fiz os presentes mas não sabia se iria entregar para meu pai porque fazia muito tempo que ele não vinha me ver, mas estava em casa vendo Discovery Kids quando tocou a campainha e ouvi a voz do meu pai. Peguei meu presente, corri para o portão, abracei ele bem forte e entreguei meu presente para ele que ficou muito feliz. Perguntei quando é que ele iria me levar para a casa dele e ele me disse – “Vou te levar agora!”

Que legal, nem sabia que iria poder ficar sozinho com meu pai, ninguém tinha me falado nada, foi uma surpresa gostosa. Até esqueci quando foi a última vez que eu fui na casa do meu pai, mas ele me disse que fazia 10 meses. Não sei direito quanto tempo é isso, mas acho que é bastante. Ele me colocou no carro e me levou no Shopping, disse que a gente iria ficar lá jogando no Hot Zone até a namorada dele chegar.

No carro entreguei para ele a carta que tinha feito pra ele, nela eu escrevi “Dad I Love You!” a professora disse que é a mesma coisa que “Papai eu te amo!” e como eu amo meu pai escrevi assim mesmo. Também fiz um desenho meu jogando videogame e ensinando meu pai a jogar. Desenhei também minha vó Cida (que é a mãe do meu pai) vendo a gente jogar. Quando ele viu a carta ele até chorou, achei que ele não tinha gostado, mas ele disse que era de felicidade.

Depois do Shopping ele me levou até a casa dele e lá vi de novo a Nataly, minha prima que eu não via desde que meu pai disse que iria conversar com a minha mãe. Também vi minha vó Cida, comemos pizza, brinquei muito com ela. Depois fiquei sozinho com meu pai jogando no computador até a gente ficar bem cansado e dormir.

No dia seguinte acordei do lado do meu pai, do jeito que eu acordava quando ele ainda morava na minha casa, dei um abraço nele e disse “Eu te amo”. Ele chorou de novo, acho que não vou mais falar eu te amo pra ele para ele não chorar mais.

Depois que tomei café, meu pai me chamou para cortar o cabelo dele. Um dia meu pai me disse que iria cortar o cabelo careca, mas eu disse pra ele não fazer isso porque eu não iria reconhecer ele. Então ele disse que quando pudesse me levar pra casa dele, que eu iria cortar o cabelo dele, assim eu iria saber que ele era ele. Fazia tanto tempo que ele disse isso que ele já tava com um cabelo grandão, maior que cabelo de menina. Então peguei a máquina que ele comprou e comecei a cortar o cabelo dele, foi bem legal. Depois minha vó continuou cortando até ele ficar careca. Foi engraçado cortar o cabelo dele, mas só não gostei dele careca, achei que ficou feio. Mas ele disse que seu cabelo vai crescer rapidinho.


A gente comeu, meu pai dançou comigo e foi bem legal. Só uma hora ele ficou bravo porque eu não quis comer toda a comida que ele colocou no prato. Ele disse que a gente tem que comer de tudo porque nem sempre a gente pode escolher. Meu pai sempre ficava bravo quando eu não comia tudo, mas depois que ele foi embora de casa, ninguém mais reclama quando deixo comida no prato e me deixam comer o que eu quiser. Lá eu comi bastante batatinha (adoro batatinha) e uns pasteis. Tinha um que não gostei, era um pastel de pomada, mas meu pai disse que era de queijo.

Depois meu pai me levou no parque, disse que iria alugar uma bicicleta pra gente andar. Fiquei bem feliz porque fazia tempo que não andava de bicicleta com meu pai, mas um homem que emprestava as bicicletas disse que não podia mais alugar uma bicicleta para a gente porque estava tarde. Fiquei triste e comecei a chorar, daí o homem me viu chorando e perguntou se servia uma bicicleta grande com volante, disse que sim e fui pedalar com meu pai.

A gente deu duas voltas de bicicleta no parque, na primeira meu pai ficou pedalando e eu dirigindo, na segunda eu ajudei meu pai a pedalar e chegamos bem rápido no final da ciclovia. Foi bem legal andar de bicicleta com o papai, mas ele disse que no dia seguinte seria melhor ainda porque a gente ia andar na bicicleta dele e com a minha cadeirinha. Adoro pedalar com meu papai na minha cadeirinha.

No dia seguinte meu pai me acordou bem cedo, mas eu estava com muito sono e não queria acordar. Ele disse que iria pedalar sozinho, então eu levantei rapidinho. Tomei meu chocolate e já saímos, meu pai disse que a gente estava atrasado, mas eu queria dormir um pouco mais. Fomos até uma ciclovia, meu pai disse que isso é o nome de uma rua para bicicletas. Quando chegamos lá tinha um monte de amigos do papai de bicicleta também, estavam só esperando a gente.

Meu pai me contou que já tinha me trazido nessa ciclovia, falou que tem umas capivaras e daí eu me lembrei. Capivara é um bicho grande, parece um ratão grandão, só que é marrom e não tem rabo. Eles moram ali na beira do rio e ficam comendo só grama. Não vi nenhuma capivara, a gente só viu um monte de cocô delas.

Ainda estava com um pouco de sono e no meio do caminho falei pro meu pai que queria voltar pra casa da vovó Cida pra brincar com a Nataly. Meu pai ficou bravo de novo comigo (não gosto quando meu pai fica bravo), disse que a gente tinha acabado de sair de casa e falou que não ia mais me levar para andar de bicicleta com ele. É que naquela hora estava meio chato e não sabia se ia ficar legal, mas acho melhor não falar mais pro meu pai que quero ir embora senão ele não me leva mais para pedalar.

Ele disse que a gente iria parar num lugar bem legal para fazer um piquenique. Eu adoro piquenique, disse que o nome do lugar é Solo Sagrado e que tinha uns pilar grandão, parece aquelas torres que a gente tem que derrubar no joguinho do celular do Thiago, o amigo do papai. A gente estava em um monte de ciclistas e para ajudar meu pai eu fui tirando fotos para ele da minha cadeirinha.

Meu pai tira um monte de foto dos passeios de bicicleta e coloca na internet, eu gosto de ajudar meu pai e tirei um montão de fotos dos amigos dele. Disse pra ele pegar essas fotos e fazer um livro e ele disse que vamos vender e ganhar um montão de dinheiro, daí vou poder comprar um monte de joguinho de videogame.

Continuamos pedalando e a gente chegou no lugar do piquenique, um lugar bem bonito, tinha bastante flores e muitas árvores. Meu pai me mostrou um negócio que chama “espelho d’água”, perguntei se podia colocar a mão e ele disse que se a gente colocasse a mão ela desintegraria. Ele colocou a mão e começou a gritar, me assustei um pouquinho só, mas vi que meu pai estava brincando porque a mão dele ficou normal, depois ele falou que era só água. Coloquei minha mão e foi bem legal, ainda fiquei brincando bastante naquela água enquanto uma amiga do papai tirava um monte de foto.

Depois a gente foi até os pilar grandão e é muito grande mesmo, nem meu pai consegue alcançar lá em cima. Tiramos umas fotos mas eu queria mesmo era fazer o piquenique porque minha barriga estava doendo de fome. Meu pai me colocou na cabeça dele, tenho medo de altura, mas eu gosto de ficar na cabeça do meu papai, dá pra ver tudo lá de cima. Ele me levou até o gramado que fica na beira de um mar, mas meu pai disse que aquilo não é mar e sim uma represa, falou que a diferença é que a água ali não é salgada como no mar que daria até pra beber. Só não dava porque a água é meio suja porque tem muita gente que joga lixo na rua. Ele disse que  quando chove, todo o lixo da rua vai parar na represa ou no rio. Eu vi quanto lixo tinha naquele rio do lado da ciclovia, falei pro meu pai que é feio jogar lixo no chão e que eu só jogo lixo no lixo.

Meu pai achou seus amigos e a gente sentou na grama. Quer dizer, ele sentou na grama e eu no colo dele, daí a uma amiga do papai fez pão com polenguinho pra mim e ficou bem gostoso, mais gostoso que o pastel de pomada que eu comi no restaurante. Depois que comi, peguei a máquina fotográfica do meu pai e fui tirar foto pra ele, precisava tirar bastante foto pra gente colocar no nosso livro. Tirei fotos de todos os amigos do papai, eles eram bem legais, ficavam brincando comigo e fazendo pose. Tirei fotos de umas pessoas pulando na grama, meu pai disse que eles estavam jogando capoeira, não vi eles jogando poeira pra cima, mas mesmo assim foi bem legal.

Depois que a gente comeu chegou a hora de ir embora, meu pai me colocou de novo na sua cabeça e me levou até onde deixamos as bicicletas. Um amigo do meu pai me deu uma mexerica e meu pai disse para comer enquanto ele estivesse pedalando. No caminho ele jogou as cascas junto com as árvores, achei estranho pois é feio jogar lixo no mato, mas meu pai disse que comida não é lixo e que se jogarmos perto da raiz das árvores, que a comida vai pra dentro da terra e a árvore come a comida pela raiz. Eu não conseguia entender como a árvore come pela raiz se ela não tem boca, mas meu pai disse que a comida vira nutriente bem pequenininho, que entra na raiz e depois a árvore come. É meio esquisito, mas ele disse que quando ficar maior vou aprender isso na escola vendo essas comidinhas pequenininhas no microscópio.

A gente continuou pedalando mas o pneu da bicicleta do papai furou e ele teve que parar para arrumar. Enquanto isso fiquei tirando mais fotos dos amigos dele, tinha um com umas tatuagem no braço, mas gostei mais da bicicleta dele e tirei muitas fotos.

Meu papai arrumou a bicicleta e voltou a pedalar, mas nessa hora fiquei com muito sono. Meu pai pediu para eu não dormir até chegarmos no Mac Donalds, mas eu não consegui ficar acordado e dormi na cadeirinha mesmo. Depois meu pai me acordou, disse que a gente estava quase chegando e pediu que naquela parte eu não podia dormir, então ele me deu a máquina para tirar mais fotos. Falei pro meu pai pra ele separar as fotos e fazer dois livros, um só com as fotos ruins e outra com as boas, mas para deixar as melhores fotos no final.

Uma hora a gente parou, meu pai disse que a gente estava perto do Mac Donalds e deu tchau para os amigos dele. Tirei mais uma foto dos amigos dando tchau, alguns deles disseram que gostaram de mim e que é pro meu papai me levar em outros passeios com eles. Tomara que meu pai não se lembre de quando disse que não me levaria mais pra pedalar com ele, porque foi bem divertido pedalar com os amigos do papai, quero ir de novo.

Depois a gente foi no Mac Donalds, meu pai disse que o vovô Roberto, o pai dele, ia encontrar a gente lá. Pedi um Mac Lanche Feliz e fui brincar nos brinquedos e lá já fiz um monte de amiguinhos. Logo o vô Roberto chegou e meu pai me chamou para comer, comi meu lanche mas pedi pro meu pai levar o brinquedo pra casa dele, daí quando for de novo dormir lá a gente monta o brinquedo junto. Ficamos mais um pouco no Mac Donalds e depois fomos embora.

Já estava escuro, perguntei pro meu pai quantas horas a gente estava pedalando e ele disse que já tinha passado 13 horas. Nossa, quanto tempo fiquei pedalando com meu pai e nem pareceu muito. Meu pai me disse que estava me levando de volta pra casa da minha mãe, mas queria ficar mais tempo com ele, falei pra ele ligar pra minha mãe e pedir pra ela deixar eu dormir na casa dele, mas ele falou que não ia ligar pois sabia que minha mãe não ia deixar.

Meu pai ficou sério e parecia meio triste, ele disse que queria ficar mais tempo comigo mas  não queria brigar com a mamãe. Falei pra ele que iria ficar falando para a minha mãe sem parar, “quero dormir no meu pai, quero dormir no meu pai, quero dormir no meu pai” que iria ficar falando até ela deixar.

Antes de chegar em casa a amiga do papai disse que eu tenho um coração grande, mas eu disse que meu coração é pequeno pois eu sou pequenininho ainda. Mas ela disse que eu vou crescer e meu coração vai crescer mais ainda. Nossa, não quero que meu coração cresça não, pois ele vai estourar minha barriga!

A gente continuou pedalando até chegar na casa da minha avó, meu pai me deixou lá e foi embora. Eu gostei muito de dormir na casa do meu pai, queria ficar mais tempo com ele,  espero que ele combine direito com minha mãe pois não gosto de ficar tanto tempo longe dele. Meu pai disse que eu fui o melhor presente que ele já ganhou ele disse que prefere ficar comigo do que ganhar presente, eu já gosto dos dois. Tomara que eu volte a pedalar com meu pai de novo porque quero tirar bastante foto pra ele fazer um livro bem legal.

Obviamente que esse texto não foi escrito pelo meu filho, mas é uma livre adaptação de um pai apaixonado que viveu intensamente cada minuto que pude com meu filho depois de uma saga que durou 10 meses e infelizmente esta longe de acabar.

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André Pasqualini