Um palhaço recebeu 1,3 milhão de votos. Impossível compreender o que levou tantas pessoas a votarem em Tiririca. Um desses eleitores me disse: “Só tem palhaço na Câmara! Um a mais não fará diferença”. Será que ele sabe que não elegeu um, mas cinco? Nosso sistema político é bem confuso e poucos sabem como realmente ele funciona. São Paulo tem 70 vagas na Câmara dos Deputados, mas não são os mais votados que se elegem. Isso porque existe um tal de “coeficiente eleitoral”.

É difícil, mas vou tentar explicar. Esqueça que você deu seu voto a uma pessoa, seu voto vai primeiro para a coligação ou partido (caso a legenda não tenha se coligado com outra, como o PV nesta eleição). Ao final da votação, somam-se todos os votos válidos (descontados brancos e nulos). Então, divide-se esse total pelo número de vagas, no caso 70. O resultado é o coeficiente eleitoral. Para definir quantas vagas um partido terá, divide-se o total de votos recebidos por seus candidatos pelo coeficiente. Assim, votos dados para um candidato são “emprestados” para seus colegas de partido ou coligação. Os votos de Tiririca fizeram sua coligação (PT/PRB/PR/PCdoB/PTdoB) ser a mais votada, com 6,7 milhões.

Com a ajuda de Tiririca, sua coligação conquistou 24 das 70 vagas. Só depois de calculado o tal do “coeficiente” é que as vagas são divididas entre os 24 candidatos mais votados “dentro” da coligação. Quem votou no Tiririca acabou elegendo também Newton Lima Neto (PT), Otoniel Lima (PRB), Delegado Protógenes (PCdoB) e Vanderlei Siraque (PT). Será que todos que votaram no Tiririca sabiam que elegeriam essas pessoas? Você acha que os que fizeram de Tiririca candidato não tinham a intenção de tê-lo como puxador de votos? Será que as pessoas que votaram no Tiririca como protesto sabiam que foram usadas?

Nosso sistema político é horrível, acabamos elegendo quem não queremos e ficamos sujeito a votos de escárnio. Mudar, só com uma reforma política. Mas a maioria dos políticos não quer a reforma, e a população não tem noção do quanto ela é importante – se soubesse, faria mais pressão do que fizemos pela Ficha Limpa. Não posso afirmar que o brasileiro não sabe votar, mas com tristeza digo que um número considerável não tem a menor noção do que fazer em frente à urna e acaba usando-a como mero cesto de lixo.

Todas as terças escrevo para o Jornal Destak de São Paulo, na coluna “Seu Destak”. Clique e veja a coluna no site do Jornal.