Muitos já devem saber que escrevo toda terça feira para o Jornal Destak, na coluna “Seu Destak”. Um espaço que foi cedido para eu falar o que bem entender, sem censura. Espaço maravilhoso, pois me dá a oportunidade de falar com pessoas bem diferentes das que costumo interagir no mundo da bicicleta.
Muitas vezes acabo recebendo respostas, algumas chegam com muito atraso, já que esses jornais devem ficar dias rodando de mão em mão. Nessa semana recebi um email de alguém que leu minha coluna semanas atrás e pelo jeito não concordou nem um pouco com ela. Com base no comentário, deve ter sido pela coluna de “Por que pedestre sempre se…” do dia 15 de junho de 2010.
Não vou colocar o nome do cara, pois é desnecessário. Também não editei nada, máximo que fiz foi inserir alguns parágrafos para facilitar a leitura. Mas o texto pode servir para compreendermos um pouco da visão de muitos motoristas que literalmente “enfrentamos” nas ruas de São Paulo.
Espero também que essa pérola abaixo sirva para vocês pensarem 10 vezes antes de colocar seus filhos dentro de uma perua escolar.
Email do leitor do Destak
Caro diretor-geral do ciclo br, antes de mais nada quero lhe dizer que trabalhava com transporte escolar e era impossível eu deixar o povo atravessar, uma vez que não poderia frear de repente, caso contrário todas as crianças se machucariam, mas quando o semáforo fechava para mim, era a vez dos pedestres.
Quero lhe dizer que cada um tem sua vez, aqui não dá para fazer isto (SP), porque o pedestre é mal educado e não sabe a vez de cada um. Uma vez o farol aberto para mim e a mulher achava que eu tinha de parar para ela atravessar, como fica? Acho que o motorista respeitando o farol já está bom, porque há 20 anos atrás não tinha este movimento de hoje, e você dirigindo em uma av. movimentada, só louco para frear de repente para deixar um pedestre atravessar, chega a ser perigoso para todos.
Quando olho pelo retrovisor e não tem ninguém atrás até deixo o pedestre passar, desde que não exista faixa, moro na Rod. Raposo Tavares, e existem pessoas que atravessam em baixo da passarela, até um de muleta já vi uma vez. Como vai se parar para este cidadão atravessar? Eu também brincava na rua, e minha mãe sempre me ensinou a saber qual meu espaço e dos outros.
Outra coisa, o ciclista é mais irresponsável que o motociclista. Se acham os donos do mundo, os “salva” mundo e que todos tem que praticar esportes, não respirar fumaça (o que é horrível eu sei) e detestar carros, mas não é por aí, existe o pq Ibirapuera para se andar no meio. As avs. são para os carros.
Até concordo com você que existem motoristas assassinos, só que os pedestres também são folgados.
Aproveite esta sua coluna, para pedir às autoridades para ensinarem educação de trânsito nas escolas, assim nossas crianças crescerão sabendo aonde começa e termina os direitos e deveres de cada um.
Grotesco
André, o que esse cara escreveu é um absurdo e motoristas como esses não podem dirigir, principalmente veículos escolares. Acho que vc deveria encaminhar esse e-mail as autoridades (mesmo não divulgando o nome do cidadão). Há políticos, que vc conhece, que deveriam ler isso e tomarem alguma atitude para que pessoas que pensem assim, não mais possam dirigir, ou que sejam devidamente conscientizadas para o trânsito. Também não acredito em generalizações, por isso não devemos nos calar.
Chega a ser triste ver a mentalidade de um cidadão desse, que é a de 90% dos motoristas.
“Uma vez o farol aberto para mim e a mulher achava que eu tinha de parar para ela atravessar, como fica?”
Se fosse um pouco mais educado, poderia sim perder 30 preciosos segundo pra mulher passar…
e essa é a pior:
Acho que o motorista respeitando o farol já está bom
então faixa nem pensar né?
Eu fiquei pensando no cidadão de muleta subindo a escadaria de uma passarela, deve ser muito tranquilo né?! Pense, tinha que virar um saci, pra subir de uma perna só as escadas… (a não ser que a passarela fosse de rampa, mas mesmo assim…a maioria é de escadaria). Imagino que fácil é, pra ele preferir se jogar pro meio de uma avenida, cujos donos são aqueles anônimos atrás de um vidro fumê, entre os quais a maioria tem as pernas perfeitamente saudáveis e poderiam estar, estes sim, usando-as pra subir passarelas!
Eu cheguei a responder e dei um exemplo da época que morava perto da BR e mesmo com uma passarela, várias pessoas iam por baixo. Quando perguntava o porque, diziam que faziam por “medo de ser assaltado”, algo que já vi ocorrer várias vezes. Em compensação, nunca vi alguém ser atropelado naquele ponto onde tinha a passarela.
Por isso que disse a ele a vale para todos que pensam assim, quando ver um pedestre ou ciclista cometendo uma barbeiragem, antes de crucifica-lo, tente averiguar o porque ele fez aquilo. Geralmente o motivo é por segurança e nunca tentando ganhar vantagem.
Recomendo esse post que vai na mesma linha.
http://www.maucantara.com/2010/02/27/diarios-de-bicicleta-parte-2-primeiro-esboco-sobre-cinismos-e-complexidades/
É claro que o cara perde a razão ao dizer “as avenidas são para os carros”. Embora as nossas avenidas sejam, mesmo, (projetadas e direcionadas) para os carros. Arriscar-se de bicicleta ou mesmo à pé nas ruas de São Paulo é para maluco (assim como eu). Contudo, o paulistano (falo do que conheço) tinha que ser um pouquinho mais educado, mesmo. As pessoas se tratam mal nas calçadas. Quantas vezes alguém vem andando na mesma calçada que a sua, você sai da frente, mas mesmo assim a pessoa acha que você está errado por estar na frente dela e quase te joga para fora da calçada. Outro dia quase fui atropelado por um “velocista” (esses de “shortins” de lycra) em plena Vereador José Diniz. Todo mundo é mal educado. O motorista mal educado será um ciclista mal educado e um pedestre mal educado. Precisamos de cordialidade e educação, e isso não se consegue com leis e obras de engenharia.
Sim! As avenidas são para os carros, e os zoológicos para antas como esse rapaz que respondeu isso. Bicicleta não é esporte, não é diversão É MEIO DE TRANSPORTE. Não quero salvar o mundo, só não quero ficar no meio do trânsito parado dentro de um carro, preferio a liberdade do que a prisão automotiva. É por causa desses pensamentos, que muitas ciclovias levam de parques para parques (no caso de Curitiba) e não vão para lugares como prefeituras, centros comerciais e indústriais. Realmente era necessário que tivesse educação de trânsito nas escolas, para todos saberem que bicicleta FAZ PARTE DO TRÂNSITO E TEM PREFERÊNCIA, depois do pedestre claro!
Ótimo trabalho na sua coluna sr. @bicicreteiro!
Tudo bem que os pedestres também deveriam ter mais consciência, questão de educação né, não se pode exigir isso de todos, acho que todos deveriam sim respeitar o sinal, mas o motorista tá dentro de uma máquina pesada e mortífera, tem que ter cautela e respeito sim. Agora, isso de que bicicleta tem que andar em parque é a resposta mais babaca é uma tamanha ignorância que já da pra ver o nível cultural do cidadão que fala isso. A bicicleta é um meio de transporte magnífico, e por isso deve ter seu espaço e ser respeitada, nem todos querem ou podem andar de carro ou ônibus, seja por motivos financeiros, ou cultural, ou de consciência mesmo. A rua é de todos. O respeito deve vir de ambas as partes.
“As avs. são para os carros.” Piada!!!!
As avs são para todos!!!!
No fim das contas, o que define o pensamento dele é o de todos os motoristas: Avenidas são para carros. No mais, vejo alguns argumentos dele como bastante razoáveis. Ele é resumo de uma categoria, de um pensamento que predomina na nossa sociedade. Ah, em tempo, muitos de nós achamos mesmo que só as bicicletas salvam o mundo. Não somos parte do problema, mas não somos a solução toda. Vida que segue, vamos adiante.
Toda generalização é estúpida e a dele com certeza foi. Não acho que todos os motoristas pensam dessa maneira como sei que alguns ciclistas pensam que são os salvadores do mundo, mas em ambos os casos não é uma totalidade.
O lado bom é que da mesma maneira que recebo alguns emails de pessoas que pensam como ele, que os motoristas tem mais direitos do que todos os demais mortais, recebo muitos emails de motoristas pra lá de conscientes e que prezam a vida e ainda bem que percebo essa categoria aumentar e por isso acredito que um dia nossa situação pode mesmo melhorar. Não a dos ciclistas, mas de todo mundo que vive nessa cidade.