Minha primeira vez que tentei vencer a Serra do Mar de bicicleta foi em 1994. Dia de jogo do Brasil na copa do mundo. Depois do jogo eu e o Cláudio, meu amigo e parceiro nas primeiras pedaladas cicloturísticas, partimos da Vila Mariana, rumo a Estrada Velha de Santos. Tivemos que dormir escondido perto da guarita para, de forma subversiva, esperar o guarda dormir e invadir a estrada. (Detalhes dessa aventura estão narrados no meu primeiro livro)

Anos mais tarde, em dezembro de 2008, lá estava eu doando meu sangue para reunir mais de 300 ciclistas na Paulista prontos para tentar chegar à praia. Todos sabendo dos riscos mesmo assim prontos para, de forma pacífica, exercer seu direito de ir e vir, algo que há anos nos é negado.

Nessa aventura minha amiga Márcia Prado não pode participar, mesmo assim ela foi responsável por um email enviado pela Artesp, dizendo que tínhamos o direito de pedalar nas rodovias de São Paulo, com base no CTB. Email esse que trouxe uma enorme dor de cabeça para a Polícia e a Artesp.

Quem se lembra sabe que essa viagem foi abortada, mandaram até o Batalhão de Choque para impedir o acesso de perigosos ciclistas ao litoral paulista, mas essa foi uma manifestação importante, fez muita gente abrir os olhos e prestarem mais atenção em nossas reclamações. Apesar de alguns poucos terem conseguido chegar à praia, ainda que de forma subversiva, a maioria teve que retornar. Alguns descobriram que havia um caminho que levava os ciclistas até a estação Grajaú da CPTM no extremo da Zona Sul de São Paulo.

Meu amigo João Lacerda da Transporte Ativo retornou usando essa rota com um grupo de ciclistas da região. Ele nos relatou que além de bonito, era super tranquilo, com poucos carros, muito verde, com um único ponto um pouco mais tenso, na Avenida Belmira Marin já chegando na área urbana.

Imaginei que se essa rota fosse viável, poderia ser uma alternativa a inóspita Imigrantes e uma ótima maneira de forçar o estado a criar uma solução definitiva, mostrando que os ciclistas estavam fazendo concessões e que eles também poderiam fazer algumas para que todos saíssem ganhando. Assim ninguém mais seria obrigado a tomar atitudes subversivas para realizar o desejo de chegar a praia, hoje benefício exclusivo de quem tem carro.

Pesquisei o trajeto na internet, coloquei um GPS na minha bike e no dia 7 de janeiro de 2009 (uma quarta-feira) percorri a trilha sozinho na busca da melhor rota para acessar o parque. Saí perto do Mac Donalds da Imigrantes, a cerca de 6 quilômetros da Interligação, onde há um acesso ao Parque da Serra do Mar. Nesse pedal eu descobri aquele acesso antes dos túneis da Imigrantes que acabou sendo usado nos eventos da Rota Márcia Prado.

Cheguei em casa, joguei as informações na lista e fiz um convite para a galera, juntarmos um grupo de ciclistas para percorrermos esse trajeto, aproveitando para sinalizar com bicicletinhas o trecho dentro do Parque da Serra do Mar. Com isso, qualquer ciclista que conseguisse chegar ao parque, mesmo sem conhecer o caminho, saberia como cruzar as áreas dos túneis chegando ao pé da Serra do Mar em segurança.

Então no domingo, dia 11 de janeiro de 2009, as 8h00 da manhã, aproveitando o fato que as bicicletas serem liberadas nos trens do Metro e da CPTM, um grupo com cerca de 15 ciclistas se reuniu em frente ao Bicicletário da estação Grajaú (outra conquista dos ciclistas). Todos amigos e companheiros, tanto de pedais, botecos e de intervenções  “cicloativistas”. Entre todos aqueles amigos, lá estava ela, a Márcia Prado com seu capacete vermelho.

Já que ela não pode participar da Interplanetária em dezembro de 2008, pouco mais de um mês depois lá estava ela, não para ser protagonista de nada, mas para somar com tantos outros que sempre lutaram contra essa injustiça que é imposta a todos (não apenas aos ciclistas) por essa “carrocracia” que nos domina. O vídeo dessa maravilhosa aventura está aqui embaixo, se ainda não viu dê uma pausa na leitura e assista.

Apenas 3 dias após essa descida, nossa amiga Márcia Prado foi mais uma vítima dessa carrocracia que tanto me enoja, sua morte foi uma paulada em todos que tanto se doaram nessa luta. Apesar de convivermos com o risco de forma eminente, sua morte foi prova cabal que o inimigo é sim cruel e que lutará com as suas armas para poder continuar exercendo o seu poder, sem medo de nos tirar nosso maior bem, nossa vida. Pior, tudo isso “de consciência tranquila”.

O ano de 2009 foi marcado pela mudança de direção desse movimento que nasceu entre os ciclistas. Eu e muitos outros sentimos a necessidade de uma organização, pois em diversos momentos deixamos de realizar grandes projetos devido a essa falta de uma representatividade. Não bastava apenas reclamar, nem apresentar soluções, mas tínhamos que provar que eram factíveis.

Então passei a participar de reuniões com outros ciclistas a fim de criarmos uma entidade que nos representasse. Ocorre que meses se passaram e nada acontecia, enquanto isso minha impaciência me consumia. Desde aquela descida em Janeiro de 2009 eu mantinha o sonho de realizar uma descida organizada, um evento com mais de mil ciclistas, pois sabia que isso nos daria força cobrarmos uma solução de quem realmente pode resolver nossos problemas em definitivo. Claro que a Bicicletada Interplanetária teve seu papel importante, mas para avançarmos mais deveríamos evoluir em nossa forma de atuação, essa era a minha opinião e passei a trabalhar com esse objetivo a partir de então.

Meses se passaram e eu vi que a tão sonhada Ong dos ciclistas de São Paulo levaria anos para acontecer, então mandei um email a quarenta ciclistas e disse que queria transformar o CicloBR, até então meu site pessoal, numa associação. Dos quarenta, vinte ciclistas responderam e apoiaram a ideia. Assim no dia 8 de Agosto de 2009 nasceu o Instituto CicloBR de Fomento a Mobilidade Sustentável.

Uma das maiores motivações para a criação da ong era justamente poder articular um evento para descermos até a praia em dezembro do mesmo ano, sem a necessidade de tentar uma outra descida de forma subversiva como a ocorrida no ano anterior. Nem bem registramos a Ong em cartório e lá estava eu percorrendo o caminho das pedras e tentando descobrir uma forma de realizar esse evento em dezembro do mesmo ano, agora em nome da Ong que eu representava.

Primeiro passo foi conversar com o pessoal da Secretaria de Transportes Metropolitano de São Paulo, contato que já tinha estreitado graças ao meu trabalho voluntário de consultoria em vários projetos com bicicleta na secretaria, inclusive para a instalação de Bicicletários e os Paraciclos nas estações do Metro e da CPTM.  Mostrei a importância de ter a participação oficial deles no evento, pois isso poderia abrir portas dentro do próprio governo, formando uma frente de apoio a criação da Rota. Já sabíamos que encontraríamos forte resistência da Policia Rodoviária Estadual e da Ecovias, por isso seria importante conquistarmos um apoio institucional de peso.

Também aproveitei outros canais e consegui o apoio tanto da Secretaria Estadual de Transportes e a Secretaria do Meio Ambiente, responsável pela Estrada de Manutenção da Imigrantes, assim fomos formando uma frente para tornar o evento da Rota Cicloturística Márcia Prado algo realmente oficial.

Primeiro foi a luta para registrarmos o Instituto CicloBR em cartório, receita federal, etc. Depois caiu no meu colo (graças a indicação de uma amiga) uma campanha de divulgação do evento “Tô no clima”. Para o evento, convidei o pessoal do CicloBR e graças a esse trabalho conseguimos 5 mil reais, dinheiro que acabou sendo usado para a rota (confecção de placas, camisetas, etc).

Detalhe é que as plaquinhas que sobraram desse evento acabaram sendo recicladas e viraram as placas utilizadas para sinalizar a primeira Rota Márcia Prado.

Feito isso realizamos o anúncio da Rota, criamos uma página no site do CicloBR e depois disso não havia como voltar atrás. Eu mesmo nunca havia realizado algo tão grande, só sabia que seriam inúmeras dificuldades e que precisava contar com a ajuda de amigos. Fiz várias reuniões, Ecovias, CPTM, Parque da Serra do Mar, manda email daqui, liga pra ali, fazia a assessoria de imprensa e de repente surge uma chamada para a Rota Márcia Prado na Home da Uol. E o CicloBR, que tinha cerca de 1000 acessos por dia bateu 50 mil e 4 horas. Pela quantidade de emails percebemos o tamanho da responsabilidade.

Muitas foram as correrias até que finalmente consegui um apoio da Artesp que autorizou a rota aos 45 minutos do segundo tempo. Para complicar na sexta feira, as 18h00 (nos descontos do segundo tempo da prorrogação), um dia antes da Rota, lá estava eu no meio da Serra do Mar pintando e sinalizando a estrada, quando recebo uma ligação de uma pessoa da Fundação Florestal (responsável pelo Parque da Serra do Mar) dizendo que não poderíamos realizar a descida no dia seguinte.

Imaginem o meu desespero e torna eu ligar para todo mundo. Liguei desesperado para uma amiga que na época trabalhava na Secretaria do Meio Ambiente e que no exato momento estava num jantar de confraternização “da firma” em frente ao Secretário. Depois de um enorme trabalho de bastidores em várias frentes (a essa altura nem mais pedindo ajuda e sim implorando), choveram ofícios na Secretaria do Meio Ambiente e conseguimos resolver mais esse problema. Claro que sozinho jamais seria responsável pela realização da rota, mas tenho certeza se não fosse pelos meus amigos de verdade e pela minha força de persuasão (melhor seria de pentelhação) tenho minhas dúvidas se o evento teria acontecido.

Bem, quando eram duas horas da manhã de sábado, dia 18 de dezembro de 2009, enquanto a maioria dos mil ciclistas que percorreriam a rota logo cedo estavam dormindo, lá estavam eu, meu amigo Willian Cruz do blog Vá de Bike, o Felipe Aragonez que hoje é o atual Diretor Geral do CicloBR e o Aleba (que não percorreu a rota mas foi o responsável pelo silk das placas) no Canal 1 em Santos, colocando a última placa da Rota Márcia Prado.

Sei que tem muitos ciclistas que me odeiam e sinceramente alguns nem sei porque, pode ser porque acham que eu faço tudo isso só para aparecer, mas vou dizer o que realmente me move.

Quando estava eu lá na rota, fazendo a segunda palestra, antes do pessoal despencar ladeira abaixo, observava o olhar atento daqueles ciclistas que prestavam atenção em cada palavra que eu dizia. Assim que terminava minha palestra e os deixava seguir em frente, quase sempre eles abriam um sorriso e diziam.

“Obrigado André, graças a você eu estou realizando um sonho…”

Dinheiro? Poder? A merda tudo isso, só quem nunca sentiu na pele um trabalho árduo ser compensado com palavras como essas, só pessoas mesquinhas e materialistas é que acham que o que me move é outra coisa senão isso. Só mesmo sendo muito estúpido para pensar assim.

Mesmo assim, ficava envergonhado, pois lembrava de tantos outros que se doaram para que isso ocorresse, acontece que eu era a linha de frente, era eu quem iria responder até criminalmente se algo desse errado, por isso muitos associavam o sucesso de um evento como a rota a mim. Mas uma coisa que eu mais prezo é a lealdade, jamais esqueço daqueles que fizeram algo por mim na confiança, ou mesmo por uma causa, sem esperar nada em troca. Desde os ciclistas que ficaram entregando folhetos do “Tô no clima” durante uma semana na hora do Rush em São Paulo, ou daqueles que nunca pedalaram mas mesmo assim contribuíram de forma efetiva para que a Rota acontecesse, até mesmo da querida Márcia que mesmo sem sua presença física acabou sendo vital para tudo aquilo, então eu respondia:

“Por favor, não agradeçam a mim, mas sim a todos que vocês encontrarem de camiseta branca orientando os ciclistas. Eles representam cada um que, de alguma forma, foram fundamentais para vocês estarem vivendo esse momento”

A partir daquele dia, ao menos o Passeio Cicloturístico da Rota Márcia Prado deixou de ser um sonho e virou um direito adquirido. O caminho das pedras já havia sido percorrido e detalhado, portanto com as portas abertas, qualquer pessoa poderia seguir os passos e continuar realizando o evento, mas como sempre, nunca me contentei com esmola e lá fui eu novamente para a linha de frente colocar a cara a tapa.

Essa foi apenas mais uma batalha vencida, assim como foi a primeira Interplanetária. Devíamos continuar caminhando em busca da solução que agora nem era mais a realização do passeio, mas sim da obra para que qualquer pessoa pudesse percorrê-la a qualquer tempo, e não apenas uma vez por ano.

Apesar de termos vencido uma batalha, a guerra estava longe de ser vencida pois o inimigo ainda continuará lutando contra nós. Tanto é que meses depois fiquei sabendo que a Ecovias entrou na justiça, dias antes da realização da Rota, numa tentativa de barrá-la e me responsabilizar caso alguma coisa desse errado. Graças a lucidez de uma juíza a Ecovias, literalmente quebrou a cara, dando até um tiro no pé, pois em tese essa decisão aponta que temos mais direitos do que imaginamos. O número do processo é o 583.00.2009.227088-8/000001-000. Para ver os andamentos clique aqui e digite no campo “Ano” de processo 2009 e no campo “Número” 227088.

Realizada o primeiro passeio oficial qual o próximo passo para torná-la definitiva? Nada melhor do que usar a força de mil ciclistas! Depois da rota consegui diversas reuniões na Artesp, realizamos algumas vistorias na Imigrantes com membros de diversos órgãos envolvidos, prefeitura de São Paulo, Artesp, Parque da Serra do Mar e até Ecovias. Mas não bastaria apenas reuniões e boas intenções, até porque sei muito bem como a coisa funciona, pois os agentes contrários a rota usariam a tática da “engabelação”.

O famoso “Estamos estudando”, mesmo que esse “estudo” dure 100 anos. Não adianta mandar quem está contra algo fazer o trabalho. Um belo exemplo foi o que ocorreu na Ciclovia da Marginal Pinheiros, tanto é que a Emae já gastou milhões com dinheiro público encomendando projetos maravilhosos de ciclovias a beira do Rio Pinheiros e depois os projetos eram abandonados por inviabilidade. Foi necessário conseguir o apoio da CPTM para abrir a Ciclovia com os únicos acessos existentes para então vermos projetos de novos acessos e ampliações.

Comecei o ano de 2010 com as diversas reuniões onde elaboramos algumas propostas para estudo. Mais tarde fiquei sabendo que técnicos da própria Artesp, os mesmos que me acompanharam nas visitas técnicas, prepararam um parecer inviabilizando a obra. Seria necessário muitas manobras e dedicação para encontrar novos caminhos para  fazer as coisas andarem.

Ocorre que, como é de conhecimento de todos que me acompanham aqui no blog, na metade de 2010 passei por um doloroso processo de separação e enquanto estava no meio do furacão emocional não encontrava forças para nada, muito menos para me envolver nas ações do CicloBR.

Então decidi realizar a viagem do Projeto Biomas e jogar a “bomba” da realização do Evento da Rota Márcia Prado nas mãos do pessoal do CicloBR. Mas mesmo de longe (enquanto a rota de 2010 estava sendo realizada eu cruzava o Pantanal), além de participar de toda articulação inicial e mostrar o caminho das pedras para a direção do Instituto, eu continuava ajudando o pessoal da maneira que podia, até porque ainda respondia legalmente pelo Instituto CicloBR e pelas prováveis cagadas dos seus membros, pois ainda era o seu Diretor Geral.

Aos trancos e barrancos a Rota aconteceu, cerca de 700 ciclistas conseguiram chegar a praia. Eu esperava um número bem maior e o próprio pessoal do CicloBR alegou que esse número não chegou aos 2000 esperados porque eu estava longe e não pude ajudar na divulgação.

Mas também durante minha viagem tive diversos atritos com algumas pessoas que fazem parte do Conselho e Direção do CicloBR. Já era de meu conhecimento que algumas dessas pessoas (poucos, não enchem uma mão) eram desafetos declarados meus, um deles inclusive disse numa Assembléia do Instituto que estava no CicloBR não pela causa, mas para ser a “mosca na sopa”, com claro objetivo de ir contra tudo que eu quisesse fazer dentro do Instituto.

Para evitar um desgaste desnecessário, primeiro porque não quero estar num grupo onde claramente há pessoas lutando contra mim e consequentemente prejudicando o Instituto, até porque eu não precisava do CicloBR para meus projetos, resolvi renunciar do meu cargo de Diretor Geral do Instituto. A princípio queria me desligar totalmente, mas a pedidos de alguns membros do Conselho e Diretoria, aceitei um cargo de Diretor de Relações Públicas, até para que eu pudesse continuar falando em nome do Instituto e ajudando a Ong. Meu papel principal seria justamente na articulação com o poder público, no fomento de novos projetos e parcerias para a Ong.

Aceitei pois teria minhas responsabilidades reduzidas, consequentemente mais tempo para recomeçar a minha vida pessoal e profissional que, naquele momento, era vital para que eu até pudesse ser novamente útil, tanto ao Instituto como para toda causa que nos move.

Achava que toda minha história dentro do Instituto e até mesmo nessa luta que muitos chamam de “cicloativismo”, seria suficiente para que houvesse algum respeito por mim. Como fui tolo. Não demorou e começou ocorrer diversos boicotes, sendo que recebi a proposta totalmente indecorosa por parte da direção do Instituto de fechar a Ong (com a ajuda deles), que me devolveriam alguns projetos, como o Desafio Intermodal por exemplo, mas que “eles” criariam uma nova ong e ficariam apenas com a ação do SOS Bike na Ciclofaixa e com a Rota Márcia Prado. Nem vou entrar em maiores detalhes, até porque isso tudo será material para meu próximo livro que começarei a escrever logo após finalizar o da viagem do Projeto Biomas.

Bem, hoje sou apenas mais um dos associados do CicloBR e embora tenha minha participação no Instituto literalmente boicotada, sei que independente do Instituto, ainda posso fazer muito pela Bicicleta e inclusive pela Rota Márcia Prado. Deixei claro que queria participar da organização da RMP 2011, tanto é que já havia conseguido uma reunião com a nova Diretora da Artesp (não como CicloBR e sim como André Pasqualini) onde iria apresentar uma nova proposta de acesso ao parque, muito mais factível que os outros estudos realizados.

Obviamente comuniquei a atual direção do Instituto dessa minha reunião, reafirmei minha vontade de participar da organização da RMP de 2011 e que poderia até aproveitar essa reunião (que ocorreu mais de um mês antes da Rota) para começar a discutir apoio a Rota. Tenho até um email do atual Diretor Geral da Ong garantindo que eu iria participar da organização, dizendo que logo que fosse marcada uma reunião da diretoria para discutir o assunto eu seria convidado.

Queria mesmo muito ter participado da RMP, até fiz uma pesquisa na net e constatei que a muitos ciclistas preferiam que ela fosse no Domingo, o que eu particularmente achava ótimo, pois poderíamos contar tanto com o apoio da CPTM como do Metro, até mesmo da Ciclofaixa de Lazer onde o CicloBR participa fazendo o SOS Bike.

Dei até uma sugestão para eles me deixarem cuidando da parte burocrática (ofícios, apoios institucionais, autorizações) e o resto do pessoal cuidaria apenas da operação, o que por si só já dá um imenso trabalho. Queria muito participar até para solucionar vários erros que cometemos nas demais edições além de trazer novidades.

Tinha uma solução para evitar os comboios, algo que prejudicava o trabalho de conta-gotas no início da descida, necessário para a segurança dos ciclistas. Queria apresentar e testar soluções, conseguir algum apoio fora da rota para os ciclistas com dificuldades físicas, ou seja, algo da grandeza que o Instituto CicloBR se propôs um dia a ser.

Mas as promessas de que eu participaria da organização não passarem de mentiras. De repente vi que anunciaram a rota para o sábado dia 10 de dezembro e sequer me comunicaram que eu não iria participar da organização da Rota.

Dias depois da definição da data, lá estava eu em uma reunião com a diretora da Artesp apresentando uma proposta de acesso ao parque da Serra do Mar (para ver mais detalhes clique na imagem abaixo). Como não tinha autorização do Instituto nada pude fazer pela Rota, me concentrei apenas no que eu havia ido fazer lá, conseguir apoio para fazermos um projeto básico dessa proposta. Com os valores eu poderia correr atrás do dinheiro, que poderiam vir de outro órgão do estado ou até mesmo da iniciativa privada.

No sábado fiquei em casa me comunicando com algumas pessoas que lá estavam participando da Rota, acompanhando as notícias via twitter e facebook, morrendo de vontade de estar na festa e ao mesmo tempo me sentindo impedido de participar. Um amigo a quem eu lamentava disse “É como dar uma festa de aniversário e não chamar o aniversariante”

Não penso assim, mas faço um paralelo a um filho, que você sabe que não pertence a você e sim ao mundo. Mas você sempre irá querer o melhor ao filho, quer educá-lo, ficar perto dele, passar seus valores, mostrar os melhores caminhos. Mas a impotência de não poder mais educá-lo, influenciá-lo, mostrar seus erros, apontar outras soluções, tudo isso me consumia. Como toda criança rebelde que busca trilhar seu próprio caminho mas quase sempre acaba seguindo orientações de pessoas que claramente não querem seu bem, mas sim se aproveitam dele para tirar proveitos pessoais, com clara vontade de levá-lo a sua destruição. Até parece mesmo um filho que chateado porque eu o abandonei, resolveu se revoltar contra mim.

Naquele sábado chorei muito, para a alegria daqueles que tanto fizeram para me afastar do CicloBR. Essas pessoas tem claros motivos para comemorarem, a essas pessoas só deixo que o tempo as mostrem quem realmente são. Apesar da minha sensação ser de impotência, o melhor maneira que vejo de ajudá-lo, infelizmente é deixá-lo a própria sorte. Pior que a vida tem que continuar, maravilhosas possibilidades estão se abrindo. Com muita tristeza vejo que não posso mais colocar o CicloBR nessas oportunidades até porque eu sei que se isso acontecesse, algumas pessoas não economizariam energia enquanto não conseguissem inviabilizar esses projetos que beneficiariam milhares de pessoas, só pelo prazer de me ver fracassando em algo.

Hoje estou trilhando meu caminho, meu consolo é que existem outras pessoas maravilhosas no mundo com quem poderei contar e juntos poder fazer muito pela bicicleta. Lealdade é uma palavra que me move, podem me acusar de tudo mas nunca de desleal e é assim que sigo nessa luta, apenas me juntando a pessoas que tenho a certeza que serão leais sempre.

Poderia até tentar voltar ao CicloBR em 2013 quando acabar essa atual gestão, mas não posso garantir se ainda existirá essa motivação, até porque em dois anos muitas coisas podem acontecer. Aquele tão amado filho pode sucumbir ou nossas vidas tomarem rumos onde algumas pessoas do passado não terão mais espaço. Uma pena, pois a morte do CicloBR, algo que até pouco tempo considerava impossível, hoje percebo que é algo factível, até porque é o claro desejo de algumas pessoas com muita importância dentro do Instituto, que em tese, deveriam lutar por ele.

Que sigamos a vida, eu ainda irei trabalhar muito para que tenhamos um trajeto definitivo da Rota Márcia Prado, até porque não dependo do CicloBR para isso. Irei continuar trabalhando muito pela bicicleta, além de continuar doando boa parte da minha vida para criarmos modelos de cidades humanas. Mas agora é o momento de me livrar das “moscas” e me juntar a quem realmente eu posso confiar. E bora colocar mais gente pedalando nas ruas, pois são milhares de pessoas clamando por isso.

André Pasqualini