Sexta passada, rolou o 3º Bonde Curitiba, um encontro informal das duas mais tradicionais bicicletadas do Brasil. Tudo surgiu num papo de boteco ao final de uma bicicletada paulistana que ocorre sempre na última sexta do mês. “Vamos até o Tietê pegar um ônibus para Curitiba e participar da bicicletada de lá (que ocorre no último sábado do mês)? Com um pouco de autoorganização, criamos o primeiro Bonde em 2008. Em 2009 e 2010, a procura aumentou e foram dois ônibus. O Bonde é uma ótima oportunidade para pedalarmos em outra cidade, conhecendo as diferentes realidades do nosso Brasil, já que não existe melhor maneira de interagir com uma cidade do que de bicicleta.

Dois amigos vieram de Brasília exclusivamente para o Bonde. Um deles vai todos os dias para o trabalho de bicicleta, mas volta de metrô por falta de coragem de encarar os raivosos motoristas de Brasília. Triste alguém ter de abrir mão de pedalar só porque vive numa cidade selvagem e desigual. Curitiba é linda, planejada, calçadas largas, algumas ciclovias interessantes, embora mal sinalizadas. Várias vezes deixei de usar por achar que se tratava de uma calçada. Mas lá o problema é a selvageria por parte de muitos motoristas que ignoram as leis de preferência no trânsito. Em São Paulo, sempre que tenho preferência me imponho, forçando o carro a reduzir ou parar. No máximo me xingam, mas melhor uma ofensa do que uma tentativa de assassinato.

Em Curitiba, quando as ciclovias cruzam uma rua e há uma faixa de preferência para nós, forcei a passagem uma vez e, em vez de reduzir, o psicopata acelerou, jogando o carro em minha direção. No outro cruzamento fiz a mesma coisa, e mais uma vez o “monstrorista” acelerou e quase me matou. Curitiba é uma cidade ótima para ciclistas. O problema é essa categoria de monstros que insistem em tentar impor a lei do mais forte. São Paulo não é nenhuma maravilha, mas, ainda assim, considero umas das melhores cidades brasileiras para pedalar. Toda vez que saio, isso fica mais claro. Vejo aqui um número bem maior de motoristas dispostos a compartilhar a via dando preferência à vida. Como sei que São Paulo serve de inspiração (tanto para coisas boas como ruins), sempre que saio bate saudade e vontade de voltar para continuar lutando contra a carrocracia e – quem sabe? – ajudar meus amigos do resto do Brasil.

Todas as terças escrevo para o Jornal Destak de São Paulo, para a coluna “Seu Destak”. Clique e veja a coluna no site do Jornal.