Tem gente que não gosta de tempo, eu não gostava, achava que era sinal de indecisão, de fraqueza. Mas quem nunca teve incertezas na hora de tomar uma decisão? Aliás, atire a primeira pedra aquele que nunca enfiou os pés pelas mãos porque não usou o Tempo e tomou a decisão errada.

Todos precisam de um Tempo, eu precisava de um Tempo, precisava desse Tempo sozinho. Foram 3 meses sozinho. 3 meses intensos, Tempo de muitas descobertas, de muitos sentimentos que variaram da euforia extrema até longos períodos de depressão. Tudo isso se misturando as sensações de conhecer lugares fantásticos e outros nem tão fantásticos assim.

Tempo onde levei ao limite minha mente e meu corpo, Tempo de busca, Tempo de descobertas. Quantas descobertas, alguns valores deixei no passado e novos apareceram com uma força imensa.

Tempo onde testei minha força, descobri minha verdadeira uma força, uma capacidade de suportar os limites do corpo e da mente. Superei todos os meus limites. Aliás, subestimei os meus limites e percebi que a maioria das vezes que desisti de algo, foi porque subestimei minha capacidade.

Tempo de sentimentos e quantos foram esses sentimentos. Como foi dureza domá-los, algo que não consegui. Aprendi a conviver e sobreviver a eles, pois sobrou vontade de jogar tudo para o alto, vontade de cometer besteiras, ainda bem que quando isso ocorreu estava tão depressivo que nem forças tinha para fazer algo.

Mas o Tempo nos fortalece. Foram 3 meses onde convivi com centenas de pessoas maravilhosas e apesar de serem maravilhosas, não tinha o vínculo de uma família ou de uma grande e sincera amizade. Depois desses 3 meses cheguei em Patos de Minas onde, pela primeira vez nessa viagem, encontrei pessoas com forte vínculo, praticamente minha família.

Moacir e Cida são pais dos meus amigos de infância, me conhecem desde meus 10 anos, tiveram 3 filhos, Ale, Marcus e Flávio. O Ale é um grande amigo, mas como ele era mais velho, ficava mais em outra turma. Marcus e Flávio tem quase a mesma idade que a minha. Eu, o Flávio e o Cadu, seu primo, tinhamos até uma banda de rock. Hoje o Flávio vive em Londres, mas sempre que ele vem para o Brasil, também viajo a Patos de Minas para passar uns dias com ele e sua família.

Marcus morava em São Paulo e depois que o Flávio mudou para Londres, me aproximei demais dele. De todos meus amigos, Marcus era quem mais me incentivava nessa minha luta pelas bicicletas. Não pedalava mas sempre acompanhava as repercussões das ações que realizava, dava excelentes conselhos e muita força para seguir nessa luta.

Quando eu casei, quis fazer com que essa família tivesse um vínculo ainda mais forte comigo, então convidei seu Moacir e a “tia” Cidinha para serem meus padrinhos em nome de toda a família.

Infelizmente menos de um mês após meu casamento, Marcus faleceu.

Essa foi a maior perda da minha vida, a primeira grande perda, mas também descobri que ninguém morre de verdade se a gente deixar. Marcus ainda está vivo em mim, nas maravilhosas lembranças, nos valores que ele me passou e mais vivo ainda nessa maravilhosa família que cruzou o meu destino.

Família essa que me deu o abraço que tanto sonhei nesses 3 meses, aquele colo que eu queria meses atrás encontrei aqui. Foram 7 noites maravilhosas que passei em Patos, elas mandaram a depressão para o espaço e mostraram que sem ela, tenho a força necessária para conduzir meu destino.

Saio de Patos rejuvenecido, com a certeza de que posso ter o futuro que tanto sonhei e sabendo que esse Tempo não foi perdido, não será em vão e que ele sempre foi necessário para a formação dessa nova velha pessoa que eu sempre quis ser.