Em maio de 1852 foi inaugurada a primeira linha de telégrafo no Brasil, com mensagens trocadas pelo então imperador Dom Pedro II e o Quartel General no Campo da Aclamação no Rio de Janeiro. A partir de então começaram os trabalhos para se instalar uma rede de telégrafos que cobriria praticamente todo o litoral brasileiro, partindo da capital (Rio de Janeiro) primeiro rumo ao norte.
As obras caminhavam em ritmo bem lento, até que em 1865 o Brasil entrou na Guerra do Paraguai, isso além de acelerar o processo de implantação da linha, alterou também seu rumo, que passou a ser o Sul do país. Essa linha teve o seguinte trajeto a partir do Rio de Janeiro a Itaguaí, Mangaratiba, Angra dos Reis, Parati. Em São Paulo passou por Ubatuba, São Sebastião, Santos e Iguape, seguindo até Paranaguá, no Paraná. Em Santa Catarina passou por São Francisco do Sul, Itajaí, Desterro (Florianópolis) e Laguna, chegando ao Rio Grande do Sul por Torres, Conceição do Arroio e Porto Alegre. Sugiro a leitura desse artigo para aqueles que queiram saber um pouco mais sobre a história das linhas de telégrafo no Brasil.
Essa introdução é porque queremos contar como foi nossa cicloaventura que tinha como objetivo percorrer trechos onde deveria passar essa antiga linha do Telégrafo Nacional, principalmente seu trecho (atualmente) mais famoso, nas divisas dos estados de São Paulo e Paraná. O trajeto que percorremos de bicicleta (e um trecho de barco) começou em Curitiba e se encerrou na Barra da Jureia, trajeto descrito no mapa abaixo.
Essa aventura durou cerca de 11 dias, nesse e nos próximos posts vocês irão encontrar um resumo dessa aventura. Em breve divulgaremos um vídeo, bem como uma página só com dicas para quem se interessar em percorrer de bicicletas alguns dos trechos que passamos, espero que vocês se divirtam.
Trecho 1: Curitiba – Antonina – A Estrada Graciosa
No domingo de feriado saímos de nossas casas em São Paulo e fomos pedalando até o Terminal Rodoviário do Tietê para pegar um ônibus rumo a Curitiba. Fomos de Cometa sem pensar e a propaganda não é à toa. Todo cicloturista experiente já passou perrengues tentando colocar a bike no bagageiro dos ônibus, comigo já aconteceu de tudo, desde ajuda dos motoristas para colocar, como exigência de nota fiscal, cobrança de valor pela bicicleta maior que a passagem (mesmo com bagageiro vazio) até mesmo a simples negativa, a ponto de eu ter que voltar sem a bike para um amigo depois despachá-la.
Escolhemos a Cometa pois ela foi a primeira empresa de ônibus a anunciar publicamente que as bicicletas são aceitas em seus bagageiros sem encheção de saco. Há várias outras empresas que também não criam caso, como a Intersul, todas as empresas que fazem a linha Santos – São Paulo, mas sempre tem uma ou outra que cria caso, tudo isso porque não existe uma regra clara sobre o assunto, até existem projetos no congresso pra resolver a questão, mas pedir pra deputado trabalhar também é demais.
O preço da passagem de ônibus fica em torno de R$84,00, poderíamos ter ido de avião, com antecedência você encontra passagens a partir de R$89,00 (Gol), mas aí tem outro drama. A Gol por exemplo te obriga a embalar a bicicleta, certa vez gastamos 100 reais só pra colocar aqueles plásticos no aeroporto. Já na Tam a passagem ficava em torno de 197 reais, a diferença é que ela só exige que você tire os pedais e esvazie (um pouco) os pneus. Se optar ir de avião, mesmo mais caro, eu recomendo ir de Tam.
Mas partimos de Curitiba porque queríamos descer a Estrada da Graciosa, saímos de lá numa quinta-feira com destino a Antonina, já na Baia de Paranaguá. O trajeto no trecho de planalto é bonito e tranquilo em relação aos carros, mas com muito sobe-desce.
Próximo do topo da serra, onde iniciaria a descida há duas opções, seguir pela estrada até a Rodovia que liga a BR-116 a Estrada da Graciosa, ou você pode optar por uma trilha chamada como “Trecho Original da Graciosa”. A primeira opção é tudo asfalto, mas o trajeto tem cerca de 5,4 km. Já pela trilha de terra, o percurso é de pouco mais de 3 km e com menos subida, escolhemos então a trilha.
Mas logo no início o primeiro contratempo, fui trocar a marcha e o passador, que já estava com defeito, entrou no meio da roda, quebrando meu câmbio. Como o besta aqui não levou um extrator de corrente (o que eu tinha foi emprestado pra uma “ong” que não devolveu ainda), fui obrigado a empurrar a bike pelos 3 km de trilha até o início da descida. Restavam 36 quilômetros até Antonina, pra descer foi tudo tranquilo, mas na parte baixa começaram os problemas.
No trecho de baixada, tínhamos duas opções, a primeira seria seguir até Morretes, trajeto que já conhecia e totalmente plano. A segunda era seguir pela Estrada da Graciosa até Antonina. Poderíamos ficar em qualquer uma das cidades para no dia seguinte seguir rumo a Guaraqueçaba, a diferença é que ficando em Morretes, o trajeto total aumentaria em dois quilômetros, por isso resolvemos ir pra Antonina pelo trecho da Graciosa que não conhecia.
Nos demos muito mal porque o trajeto tinha muita subida, com a bicicleta quebrada, no plano eu usava a bicicleta como um “skate” e até conseguia pedalar, mas na subida não teve como, tinha que empurrar. Pra complicar anoiteceu e não levamos lanternas pois não tivemos tempo para comprar e porque tínhamos como plano não pedalar de noite em hipótese alguma, mais um erro que jamais deveríamos ter cometido. Como minha mulher é completamente cega no escuro, improvisei uma dessas lanternas de camping recarregável e conseguimos chegar em Antonina.
No dia seguinte consertamos a bicicleta e demos uma volta na belíssima cidade histórica. Visitamos primeiro a Estação Ferroviária. A primeira estação, de madeira, foi construída em 1892 e destruída por um incêndio. A atual foi erguida em 1926 por causa das atividades das indústrias Matarazzo que prosperavam na região e foi desativada em 1970, devido ao declínio dessas indústrias. Hoje ela está praticamente as moscas, infelizmente.
Depois curtimos o pôr do sol no “Trapiche” (ou píer) municipal, resgatando forças para o dia seguinte, mal sabia que seria bem mais pesado que o anterior.
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