Ficar na casa do Jefferson não foi apenas bom por causa do conforto, nada melhor do que receber dicas de um Cicloturista, ainda mais de alguém que realizou o mesmo percurso que iríamos fazer. Sempre digo que quando um motorista fala algo sobre o caminho a seguir, você constatará que apenas 10% é próximo da realidade, já quando a informação é de um ciclista, ela é 90% precisa.
O trajeto da porta do Parque Salto Morato, até a vila de Batuva, segundo o Jefferson, era de 24 quilômetros e pode confiar. Sobre o relevo, ele disse que basicamente é plano, com poucas subidas. A única coisa que ele nem deve ter sentido é que apesar de plano, como estávamos seguindo rumo ao interior, o trajeto é levemente inclinado com um ganho de uns 25 metros em 15 km, dando um desnível de 0,16%, parece insignificante, mas pra quem tá carregando uns 30 quilos de bagagem consegue reparar. Mesmo assim, comparado aos dias anteriores, o trajeto seria muito tranquilo.
Mas já que estávamos num belíssimo parque e porque não conhece-lo melhor? A Reserva Natural Salto Morato pertence a Fundação Boticário. Ela cobra uma entrada de 10 reais e tem duas trilhas abertas a visitação, a Trilha do Salto, que leva a uma cachoeira de 150 metros e a Trilha da Figueira, que nos leva até uma imensa Figueira que curiosamente lançou suas raízes para o outro lado do rio.
Aproveitamos a manhã para percorrer as duas trilhas, primeiro fizemos a do Salto Morato, é um trilha fácil, autoguiada com aproximadamente 4 quilômetros ida e volta. No meio do caminho você encontra um belo “Aquário Natural”, um pequeno remanso do rio que forma uma espécie de aquário graças a transparência da água, infelizmente esqueceram de avisar os peixes para aparecerem nesse dia.
Continuando a caminhada chegamos a imponente cachoeira que dá nome a reserva, são 150 metros de queda, mas estava tão frio que nem arriscamos entrar na água. Voltamos para tentar fazer a outra trilha, antes de sair o Jefferson disse que havia encontrado vários Catetos tomando sol na beira do rio que dá início a trilha, infelizmente não vimos um animal sequer.
Pra fazer a Trilha da Figueira, tivemos que voltar até a entrada pois saímos sem café da manhã e achávamos que dariamos conta de fazer as duas trilhas de barriga vazia (#sqn). Então partimos para outro trecho da trilha que começa próximo da entrada do parque, no começo já tem um pouco de aventura, numa travessia conhecida por “Falsa Baiana”, nem me pergunte desse nome, tentei até uma googada e não consegui, se você souber conte aí nos comentários.
Essa trilha é maior, tem uns 5 km no total e até chegar na Figueira é bem plana e tranquila, pelo menos partindo da portaria. Ao chegar na Figueira, entendemos porque ela dá nome a trilha, uma imensa árvore secular que cria um túnel por onde o rio passa. Na volta resolvemos fazer a segunda trilha (a que iríamos fazer a princípio) assim conheceríamos todas as trilhas abertas do parque, só pra constatar que essa trilha era mais complicada do que se quiséssemos voltar pelo mesmo caminho que viemos.
Recomendo muito a visita ao parque, quem é de Curitiba percorre uma distância de uns 150 km até o local, é possível também acampar e se soubéssemos dessa possibilidade teríamos incluído o parque em nosso roteiro, independente do convite do Jefferson. Só um detalhe, pra acampar é preciso reservar antes. Ficamos bastante tempo no parque, a tempo até de almoçarmos, mas naquele dia iriamos chegar de qualquer maneira a porta do telégrafo, então seguimos viagem.
Realmente o caminho era tranquilo como o Jefferson havia dito, poucas subidas e mais áreas preservadas, com o direito até o encontro com um bicho muito parecido com um furão. Ele cruzou calmamente a estrada, parou, me encarou e seguiu normalmente pra dentro do mato, pena que não tive tempo nem de filmar ou tirar foto. Mais adiante encontramos outro rio com águas cristalinas, nesse dia fazia mais calor que de costume e resolvi que dessa vez me refrescaria, mesmo que a água estivesse um frio de trincar os ossos.
Ali havia um garotinho, seu nome era Guilherme, provavelmente morava na casa ao lado do rio. Perguntei se ele havia passado pela trilha do Telégrafo e ele disse que sim, foi de carro até Batuva e seguiu a pé até Taquari, uma vila já em São Paulo. Disse que dormiríamos na vila e ele perguntou – “Vão dormir na pousada?”
Pronto, não é que lá havia uma pousada? Mais um dia que não estrearíamos nossa barraca. Pedalamos até a vila, chegamos antes das 17h00 e ainda havia muito sol. Procuramos a pousada, aliás se você um dia passar por essa vila, procure pelo “Seu Tinha”, é assim que o dono da pousada é conhecido. Não dá pra dizer que é uma pousada, tá mais pra um chalé, com várias camas, dois banheiros, cozinha. Também nem dá pra reclamar da falta de luxo já que ele cobra 25 reais por cabeça.
Quando saímos de São Paulo tinha certeza que seria inevitável alguma vez dormir em barraca, mais tarde fui descobrir que com um pouco de planejamento, é sim possível fazer todo o trajeto só dormindo em pousadas, economizando assim muito peso. Mas isso só fui descobrir mais tarde, depois de finalmente encarar a temível “Trilha do Telégrafo”, algo que finalmente faríamos no dia seguinte.
André Pasqualini
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