Primeiro justificar o rótulo. Quando falo em “Estradeiro” me refiro a ciclistas que pedalam bicicletas de estrada, também conhecidas como bicicletas “speed”, bicicletas leves, pneus finos, feitas para velocidade. Esses ciclistas também são chamados como “Speedeiros”, mas meu amigo Cleber Anderson me disse que o melhor termo é mesmo “Estradeiro” pois essa é um tipo de bicicleta para Estrada, também conhecida como “Road Bike”.

Nesse domingo, dia 20 de março de 2011, fui passear com meu filho na Ciclofaixa de Lazer e conhecer o novo trajeto até o Parque Villa Lobos. Como agora estou morando na Vila Madalena, fico na “cara do gol” da Ciclofaixa. Coloquei a cadeirinha na bicicleta e fui passear com meu filho.

Quando estava na Avenida Cidade Jardim, sentido Parque do Povo, haviam vários ciclistas na minha frente. Aos poucos fui ultrapassando-os e quando passei o último, um desses estradeiros, com uma Trek de Triatlhon, me ultrapassou em alta velocidade, deitado no clip e seguiu socando a bota em plena Ciclofaixa de Lazer.

Apertei para tentar alcançá-lo mas lembrei que estava com um “passageiro”, então segui numa boa pois tinha certeza que iria encontra-lo no semáforo para acessar o Parque do Povo e foi exatamente o que aconteceu. Aí começou o bate-papo.

Eu: Brother, para que correr desse jeito? Isso aqui é uma Ciclofaixa de Lazer, você poderia ter derrubado alguém.

Estradeiro: Eu sei o que estou fazendo, eu acertei alguém? (Nem sei quantas vezes ouvi exatamente isso de vários motoristas depois que passam a 5 cm de mim)

Eu: Mas poderia ter derrubado, a velocidade máxima aqui é 20 km/h, aqui não é lugar para treinar.

Estradeiro: Quem é você para me dar lição de moral? Eu sei o que estou fazendo (de novo) a quanto tempo você pedala?

Eu: O que isso tem a ver com o que você fez?

Estradeiro: Eu pedalo a 10 anos, “vai aprender a pedalar para depois falar comigo”.

Eu: (aí já entrando na onda) – Eu pedalo a dois meses, me ensina a pedalar então.

Bem, depois dos argumentos dele não havia mais motivos para discutir, falei pra ele “quer correr vá andar junto com os carros” e ele mandou eu pra outro lugar e nem vale a pena reproduzir aqui.

Nesse momento abriu o semáforo e dois agentes do CET que estavam vendo a discussão, mandaram a gente seguir, sem antes um deles pedir para o ciclista andar devagar. Ele atravessou a via, entrou no parque e “cortou caminho” pela via de pedestres do Parque do Povo para não ter que pedalar na Ciclovia.

Em tempo 1: Encontrei vários estradeiros na Ciclofaixa, a maioria pedalando numa boa, o único treinando que encontrei foi ele. Sei que existem alguns ciclistas que se acham diferente e sei lá por que alimentam ódio por essa ou aquela categoria. Se você é um desses nem perca tempo fazendo comentários estúpidos generalizando pois vou moderar sem dó.

Em tempo 2: O objetivo desse post é para levantar uma discussão antiga que acontece desde que a Ciclofaixa de Lazer foi criada. Qualquer pessoa com o mínimo de bom senso sabe que ali não é lugar para treinar. Há crianças pequenas, ciclistas inexperientes e mesmo o ciclista mais experiente pode se enganchar em um desses ciclistas inseguros e causar um acidente. Portanto ali não é mesmo um local para treinos de velocidade, a Ciclofaixa de Lazer é exclusivamente para passeio.

Em tempo 3: Já aconteceram vários acidentes envolvendo ciclistas em alta velocidade com ciclistas inexperientes, na semana passada ocorreu um acidente assim onde um estradeiro derrubou uma ciclista que caiu com a cara no chão. Pior, o estradeiro nem parou para socorrer.

Ser humano inconsequente temos em todos os lugares, seja dentro de um carro, de um ônibus, numa moto, numa bicicleta e até mesmo a pé. Portanto eu coloco esse ciclista que derrubou outro na ciclofaixa “quase” no mesmo patamar de irresponsabilidade do motorista que cometeu aquela atrocidade em Porto Alegre. Ambos poderiam até matar alguém, pois se a ciclista batesse a cabeça na guia, sabe-se lá o que poderia ter acontecido.

E vamos parar um pouco para repensar se não estamos agindo em cima de uma bicicleta, da mesma forma irresponsável (que tanto condenamos) como agem alguns motoristas. Sinceramente eu não ligo se um ciclista para na faixa de pedestre (desde que não o atrapalhe os pedestres), se ele anda na calçada (desde que ela não seja movimentada e pedale devagar, protegendo o pedestre), pois sei que a maioria das vezes que isso ocorre é uma atitude de pedalada defensiva e que isso raramente iria ocorrer caso nossa cidade fosse pensada para o ciclista.

Mas cansei de ver ciclistas abusando e colocando outras pessoas em risco. Minha avó foi atropelada a quase 30 anos por um ciclista que descia uma rua na contramão. Ela não morreu no acidente, mas quebrou a bacia. Depois desse acidente ela passou a ter uma série de problemas de saúde e anos depois venho a falecer. Tenho certeza que se ela não tivesse sido atropelada teria vivido mais uns 20 anos no mínimo.

Não importa o quanto o governo seja omisso, sei que o ciclista no Brasil, principalmente nas grandes cidades, vive numa selva e precisa criar artifícios para se proteger. Mas as vezes vejo muitos ciclistas abusando, atentando contra a integridade física de outras pessoas da mesma maneira que muitos motoristas inconsequentes fazem com a gente. Será que  estamos sendo coerentes, nas nossas atitudes, com o que pensamos ou reivindicamos?

Fica a sugestão de reflexão.