image

No Brasil, se existe uma Instituição que não serve pra nada, é a polícia militar. Tirando a Policia Federal, a investigativa e não a rodoviária, que não fede nem cheira, nenhuma outra instituição policial tem o meu respeito e me desculpem os bons policiais, pois infelizmente vocês são minoria.

O que mais me revolta é o preconceito e a diferença de tratamento que a população recebe dessa instituição. A polícia pode até ser boa para quem tem dinheiro, mas uma instituição que não trata as pessoas como iguais, pra mim não serve pra nada.

Há dois dias encontrei um casal de canadenses que irão dar uma volta pelo Brasil. Chegaram em Florianópolis, subiram a Serra do Rio do Rastro e seguiram ao Sul, rumo ao Vale dos Vinhos na Serra Gaúcha. Depois eles seguirão rumo a Foz do Iguaçu, Pantanal, Mato Grosso, Brasília (incluí o Jalapão na rota deles), Amazônia, finalizando um pedal pela costa brasileira até o Rio de Janeiro.

Um projeto lindo, uma oportunidade de levar informações do Brasil e conhecimentos da nossa cultura para a terra deles. Nem preciso dizer que enquanto eles estiverem no Brasil serei padrinho deles.

Nem preciso dizer também o quanto de terror colocaram neles sobre o Brasil, violência, assaltos, essas coisas ruins que tanto falam de nós lá fora, mesmo assim eles vieram para o Brasil. O dia de ontem ocorreram várias coisas, meu bagageiro quebrou, depois meu cambio, começou com um sonho horrível, mas irei focar apenas sobre o momento de pânico (deles) e revolta (minha) que vivemos.

Assim que passamos em frente a uma fábrica de celulose a 15 kms de Cambará do Sul, um comboio com uns 2 caminhões e vários carros sendo duas viaturas da polícia rodoviária passaram por nós. Mais tarde viemos a saber que se tratavam de cigarros apreendidos que seriam incinerados.

Passando a fábrica encaramos uma longa subida e meus amigos canadenses estavam empurrando a bicicleta quando o comboio começa a retornar. Passaram os carros da receita federal e atrás as duas viaturas, uma foi em frente e a segunda parou. Achei que seriam como os policiais rodoviários de Santa Catarina, que haviam nos visto pedalando várias vezes durante o feriado, nos monitorando para saber se estava tudo bem conosco e ainda nos deram várias dicas sobre a região.

Antes de continuar, vou contar a minha situação. Meu cabelo esta comprido, não corto tem uns 6 meses e prometi ao meu filho que só iria cortar quando eu resolvesse nossa situação, portanto, promessa pra filho é divida. Já a barba eu deixei crescer desde que decidi vir pra cá para ajudar a suportar o frio, portanto estou quase um hippie. Mas quem me conhece sabe que, apesar da cara de maluco, a única droga que uso é a legalizada, a famosa cervejinha.

Voltando a abordagem, os policiais desceram da viatura, com armas em punho gritando – “MÃO NA CABEÇA! DOCUMENTOS!”

Imaginem como meus amigos ficaram, eles já são brancos, ficaram parecendo fantasmas. Eu fiquei muito puto e parece que essas coisas tem que ocorrer comigo, nada de conversa, apenas uma truculência totalmente desnecessária.

Fiquei revoltado e deixei claro que assim estava, questionei o porque daquela abordagem, perguntaram de onde éramos e eu disse que eles eram canadenses e eu de São Paulo. Disse que já pedalei no Brasil inteiro e nunca fui abordado assim, e ainda ouvi do policial que os Paulistas acham que o mundo gira ao nosso redor. Só faltava essa, declaração bairrista.

Não estava comparando essa abordagem com a da policia paulista, que não é nada santa, mas nem na Bicicletada Interplanetária de 2008 agiram assim. Comparava com a abordagem dos Matogrossenses e da polícia de Tocantins que apesar de ridícula, longe de ser truculenta.

Foram várias pérolas que eles mandavam, disseram que primeiro eles abordam com truculência (tratam como bandido) e depois tratam normalmente. Agora se eu tivesse numa mclaren como o Thor, será que teria esse tratamento? Perguntei se era assim que eles tratavam turistas e me disseram – “Você não é turista!” – Ah, mandaram aquela normal do “fazemos isso pela sua segurança” – Vá a merda, corto minhas bolas fora se eles dariam o mesmo tratamento se eu estivesse de cara limpa e num carro de bacana. Preconceito puro.

Fiquei com vergonha, meus amigos estavam em pânico, olha só a imagem que eles estavam recebendo do nosso país, será que esse é algum treinamento especial para a copa do mundo? Ainda tiveram a coragem de dizer que no mundo inteiro a polícia age assim. Vá a merda novamente, jamais eu receberia um tratamento estúpido e humilhante dessa maneira se estivesse no Canadá.

Sou paulista, cresci e vivi na periferia e sei muito bem como o pobre é tratado pela polícia e infelizmente, apesar de continuar achando isso um absurdo, estou acostumado. Mas eles jamais passaram por uma situação como essa e por isso sinto pelo quanto eles ficaram assustados.

Ah, perguntei – “Se nós somos tão perigosos, porque não nos abordaram quando nos viram pela primeira vez? A resposta é que eles estavam escoltando uma carga importante, ou seja, depois do trabalho vamos tirar uma onda com os ciclistas ali.

Não tirei fotos dos PMs, até porque, apesar dessa abordagem não ter sido algo que venho de cima, (duvido que houvesse alguma denúncia de cicloterroristas na estrada), sei que se esses PMs receberem ordens para beijar nossas bundas, é isso que eles fariam, portanto a culpa não é deles em especial, mas da Instituição que eles representam.

Não fui o único a me revoltar, mas todos os gaúchos que contamos o ocorrido tiveram o mesmo sentimento. Disse aos meus amigos canadenses, que se eles tiverem algum problema, jamais procurem a polícia, infelizmente não podemos contar com eles, pois no Brasil, a polícia não serve a toda a população e sim a uma pequena parcela.

Mas caso eles tenham algum problema, seja lá qual for, eles poderão sempre contar com o povo brasileiro, esse sim estará preparado para acolhe-los e ajudá-los. Seja lá onde eles estiverem, seja no Rio Grande do Sul, seja na Amazônia ou no Vale do Jequitinhonha, povo igual ao brasileiro não há. Não considerem esse ato isolado como padrão de um povo, apesar do Brasil ser um país fantástico, nem tudo é perfeito e a polícia é apenas mais uma das Instituições que nenhum brasileiro consegue se orgulhas.

Durante minha viagem fui abordado duas vezes por PMs, apesar de receber duas abordagens ridículas, ao menos os policiais do Mato Grosso e de Tocantins foram educados, nada de truculência, nada de abuso de autoridade. Nada de “tratamento especial” como esses PMs disseram para dar ao meu documento.

Ao mesmo tempo que tenho orgulho de ser brasileiro, tenho muita vergonha de algumas instituições que temos, mas a vida é assim e enquanto estiver vivo não conseguirei me calar contra qualquer atitude estúpida dessa ou de qualquer outra instituição. Um dia, ou perdem a paciência comigo e colocam uma bala na minha cabeça, ou nossos governantes tomarão vergonha na cara para refundar essa falida instituição que é a polícia militar.

André Pasqualini