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Sei que o assunto Rota Márcia Prado, principalmente os entraves relacionados a ela, são de vasto conhecimento, mas ao escrever esse post tenho que considerar há muitas pessoas que sequer sabem o que é a Rota. Se você já tem conhecimento de quase tudo que se refere a rota, vá direto para a apresentação das soluções, agora se você não conhece a Rota ou quer se aprofundar no assunto, leia desde o começo.

O que é a Rota Márcia Prado (RMP)?

A RMP é uma rota cicloturística que liga as cidades de São Paulo a Santos e foi criada com base no desejo inconsciente da maioria dos ciclistas paulistanos de chegarem à praia pedalando. Também foi criada como uma forma de tirar da clandestinidade todos os ciclistas que atualmente tentam chegar ao litoral.

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A história e sua base para definição do trajeto

Vale lembrar que a Rota ainda não foi oficializada, portanto natural que enquanto isso não ocorre, o trajeto venha sofrendo alterações. O primeiro trajeto nasceu depois da Bicicletada Interplanetária que ocorreu em dezembro de 2008. Dias após a tentativa frustrada, um ciclista amigo nosso disse que havia entrado com um grupo de ciclistas numa estrada próximo do pedágio da Imigrantes e que seguiu pedalando até a estação Grajaú da CPTM.

Em janeiro de 2009, por conta própria, pesquisei os trajetos e no dia 7 de janeiro o percorri sozinho, desde o Grajaú até o início da Estrada de Manutenção da Imigrantes. Constatando a viabilidade do trajeto, mandei uma mensagem na Lista de Emails da Bicicletada São Paulo combinando um pedal para o dia 10 de janeiro. Aliás quem estiver a fim de relembrar todas as discussões a respeito da Rota, quando a Marcia ainda estava viva, pode conferir clicando aqui, inclusive vocês poderão conferir algumas das postagens da própria Márcia, até mesmo as postagens referentes ao seu atropelamento, considero essa uma ótima forma para entender quem era a Márcia e o que a morte dela significou para nós ciclistas.

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A história da Márcia vale um post só pra isso, mas voltando a criação da rota, dia 10 de janeiro de 2009, nos reunimos num grupo de 15 ciclistas na Estação Grajaú da CPTM e seguimos pela Ilha do Bororé, Estrada Taquacetuba e Rio Acima, saindo na Imigrantes logo após o pedágio. Em agosto do mesmo ano criamos o Instituto CicloBR e já partimos para a organização do primeiro Evento da Rota Márcia Prado. Já nesse evento fizemos uma alteração no trajeto, assim o ciclista, ao invés de acessar a Imigrantes no pedágio, acessou pela Estrada do Capivari, dessa forma diminuímos em 4 kms a obrigatoriedade do ciclista pedalar na Rod. Imigrantes.

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Foi com base nesse pedal que criamos o que seria o trajeto oficial do primeiro Evento da Rota Márcia Prado realizado em Dezembro de 2009, mas é bom deixar claro a diferença do “Evento”, para a “Rota” em si.

Evento versus Rota

A falta de uma definição clara da diferença entre o Evento e a Rota em si é o principal motivo para todas as confusões que rolaram até então, portanto vamos para as definições.

A Rota Cicloturística Márcia Prado

A rota é o trajeto que desejamos torná-lo oficial para que qualquer pessoa possa percorrer quando desejar. O trajeto seria sinalizado nos mesmos moldes de qualquer Rota de peregrinação, como o Caminho da Fé, Caminho de Santiago, etc. O trajeto tem que ser seguro e não pode fazer com que o ciclista divida espaço com veículos da Imigrantes e nem obrigar com que o ciclista tenha que cruzar a rodovia ou se colocar em risco de atropelamento. A rota é um trajeto que deve estar aberto todos os dias do ano, como seu percurso passa por dentro de uma área de preservação permanente (o trecho de serra pertence ao Parque da Serra do Mar), provavelmente será necessário algum tipo de controle ou regramento, isso é aceitável desde que seja acessível para qualquer pessoa.

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Atualmente a Rota só é legalizada, por lei, no trecho dentro do município de São Paulo, nem é possível torná-la oficial por completo devido ao trecho com cerca de 3 kms, onde o ciclista não tem outra opção senão pedalar pela Rodovia dos Imigrantes. Aliás solucionando esse trecho, é possível tornar a rota toda oficial. Hoje quem diz percorrer a Rota, vai na cara e na coragem, com base nos trajetos que você encontra na internet.

O Evento da Rota Márcia Prado

O evento foi criado porque, nas primeiras conversas com as autoridades para a criação da rota, o que mais escutávamos era, “Pra que investir em algo que vai beneficiar só meia dúzia de gatos pingados?”

A forma de provar que haveria uma demanda foi a criação de um evento, quando num único dia, milhares de ciclistas lotassem as estradas percorrendo o trajeto. Dessa forma, desde 2009 até 2012, sempre nas primeiras semanas de dezembro, o Instituto CicloBR organiza um evento convidando qualquer ciclista a percorrer a rota num único dia. Esses eventos levaram de mil a dez mil ciclistas, sempre com as autorizações necessárias e sob responsabilidade do CicloBR, o qual responde legalmente inclusive.

A partir de 2013 o Instituto CicloBR não conseguiu as autorizações para organizar o evento, mesmo assim algumas pessoas, por conta própria, passaram a convoca-los usando o nome do evento organizado pelo CicloBR.

A posição atual do CicloBR (e também a minha já que sou o vice-presidente), primeiro é que somos contra qualquer tipo de evento que leve o nome que criamos, isso porque, além de criar problemas jurídicos, já que existe uma liminar que nos impede de realizar o evento, só vai nos atrapalhar na busca de uma solução.

Já sobre o evento de 2015, é que iremos organizar pois assumimos a gestão em setembro do mesmo ano e a gestão anterior não deixou nenhum encaminhamento para que o evento acontecesse. Decidimos que iremos trabalhar para organizar o evento em 2016, mas não necessariamente no final do ano. Aliás nada nos impede de organizarmos até mais de um evento por ano, desde que tudo aconteça dentro das regras do jogo.

A proposta para a Rota Márcia Prado

Logo após os primeiros eventos em 2009, começamos a discutir com todos os órgãos ligados, (Fundação Florestal, Secretaria de Transportes, Ecovias) uma solução para resolver o problema no trecho mais complicado, aquele o qual o ciclista, para acessar o Parque da Serra do Mar, é obrigado a pedalar pela Rodovia dos Imigrantes, um entrave para a consolidação da Rota permanente (e não necessariamente só para o evento).

Todos os estudos realizados, invariavelmente exigiam a construção de alguma infraestrutura, seja um túnel para cruzar a rodovia, passarela, construção de ciclovias, etc, ou seja, qualquer que seja a solução haveria um custo considerável.

Me afastei do CicloBR em 2011, apesar de ainda associado, pedi autorização para continuar as discussões para uma solução da RMP em nome do CicloBR, mas isso foi negado pelos gestores da época (porque, pergunte para eles). Por conta própria continuei conversando com os órgãos envolvidos, até que no começo de 2015 consegui um contato com a Ecovias e a partir de então nos reunimos inúmeras vezes para elaborar uma solução que fosse boa para todos os envolvidos, até que chegamos a essa proposta aqui detalhada.

No mapa abaixo dá a dimensão do problema, o máximo que o ciclista consegue pedalar por fora das rodovias é no ponto alto, na Estrada do Capivari, a partir de então ele precisa encontrar uma maneira de acessar a Estrada de Manutenção no topo da Serra.

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Vale lembrar que toda área sombreada em verde pertence ao Parque da Serra do Mar, uma Floresta em área de proteção integral. Vamos dividir a proposta em 3 situações para facilitar o entendimento.

Parte 1) Acesso a Imigrantes e o trecho até a Interligação.

Pelo trajeto novo, ao final da Estrada do Taquacetuba, ao invés de virar à direita como no trajeto anterior, o ciclista vira a esquerda, na Estrada do Rio Acima, sentido Riacho Grande, dessa forma o ciclista passa por debaixo da Imigrantes (fazendo o trajeto que a Marcia Percorreu em 2009) e segue adiante até virar à direita na Estrada do Capivari, a mesma estrada que o ciclista acessava no primeiro trajeto, só que na sua parte final.

Ali o ciclista segue paralelo a Imigrantes, até o acesso das represas de Furnas, um trajeto com cerca de 4,8 km em estrada de terra.

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Essa estrada nem está no mapa clássico, só é possível ver por satélite, mas é uma via aberta, sem portões e usada não apenas para a manutenção dos funcionários da represa, bem como da população que quer pescar.

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Nessa estrada o ciclista passaria pela primeira represa acessaria uma trilha (que precisa ser criada) no ponto mais próximo que essa estrada chega na Imigrantes.

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Seria uma trilha com cerca de 300 metros, que levaria o ciclista até a pista da Imigrantes no sentido Capital. Apesar da trilha ainda não existir, ali domina uma vegetação rasteira, nem seria necessária a supressão de árvores. Já a percorri uma vez e basta abrir a picada com um facão e deixar que a passagem dos ciclistas consolide a trilha.

Ao acessar a Imigrantes, aí é necessário criar uma infraestrutura, a melhor sugestão que tivemos foi a construção de uma Ciclovia com cerca de 2 kms pela faixa de domínio. Nem precisa ser uma ciclovia asfaltada, pode ser uma pequena trilha cascalhada, por onde o ciclista pedalaria sem precisar usar o acostamento da via.

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Além da ciclovia (asfaltada ou cascalhada) seria necessária a instalação de barreiras em todo o trajeto. O trecho de faixa de domínio que precisaria de barreira é de 2,6 quilômetros, mas vale lembrar que a maior parte do trajeto já possui a barreira instalada.

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Dessa forma o ciclista venceria esse trecho sem a necessidade de pedalar pela rodovia, até o ponto onde seria instalada uma passarela.

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Parte 2) Uma passarela sobre a Rodovia dos Imigrantes

Já na Rodovia da Interligação, poderíamos construir tanto um túnel como uma passarela. O túnel poderia servir até mesmo para os animais realizarem a travessia com segurança, mas um dos gestores não considerou uma boa ideia pois também serviria como um atrativo aos caçadores, infelizmente comum nessa região.

Pensei na possibilidade da construção de uma passarela de madeira, como várias que já vi pelo Brasil, bem mais barata que uma de alvenaria, mas pelo contrato de concessão, as passarelas das rodovias tem que seguir um padrão. Fiz uns orçamentos e o preço dessa passarela ficou em cerca de R$1.200.000,00.

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Levando em conta que o km de uma ciclovia custa cerca de 250 mil, o gasto máximo dessa infraestrutura não passaria de 2 milhões de reais.

Parte 3) Trilha dentro do Parque da Serra do Mar

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Essa é a melhor parte, essa trilha já existe e está consolidada, tanto é que existe uma placa em frente ao acesso informando que essa é uma trilha de bicicleta, feita pela própria Ecovias.

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Esse é um trecho de 4,8 kms de pura aventura, ali não tem jeito, o ciclista vai ter que enfiar o pé na lama.

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Em alguns trechos há cruzamentos de rio, que hoje devem ser feitos com a bike nas costas, mas no futuro nada impede que possamos construir, junto com o parque, pontes de madeira, até mesmo aproveitando as árvores caídas dentro do parque.

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A trilha se encerra próximo ao no início da Estrada de Manutenção e o ciclista já estaria na segurança do Parque. Após esse trecho o ciclista pedalaria apenas por trechos de parque e áreas urbanas.

No trecho de baixada o ciclista poderá percorrer praticamente todo por vias urbanas, no máximo utilizando a pista marginal da Anchieta, uma via de velocidade controlada (60 km/h) e com acostamento, aliás o investimento numa ciclovia nesse trecho não seria nenhum desperdício, já que ele é muito usado pelos ciclistas da baixada, no link abaixo você confere o trajeto completo.

http://www.bikely.com/maps/bike-path/rota-marcia-prado-2

Como sabemos que a parte mais complexa é justamente na Imigrantes no planalto, resolvendo essa questão, as demais se tornam de fácil resolução. Essa seria a proposta que apresentaria naquela reunião aberta e se todos concordassem, passaria a ser uma proposta oficial do Instituto CicloBR, usada para cobrar do poder público uma solução. Quem vai meter a mão no bolso aí é outra história, mas tenho certeza de que, com o mínimo de vontade política, seria fácil tirar essa proposta do papel.

Agora é aguardar, em breve o CicloBR deverá organizar um evento onde iremos debater essa proposta, mas enquanto isso não acontece, deixo esse canal para debatermos o assunto, pois se surgir uma ideia melhor, com certeza podemos incluí-la na proposta.

Espero que esse post ajude a colocar uma luz no assunto, e a única coisa que posso prometer é que usarei minha participação na gestão do CicloBR (que dura dois anos) para solucionarmos essa questão.

André Pasqualini