Êxtase, essa é a sensação do meu dia 23 de janeiro de 2012, dia que finalmente marcará o encerramento de um ciclo e o início de uma nova fase em minha vida. Apesar de tantas novidades, o que considero mais relevante é que finalmente consegui terminar de escrever meu livro sobre o Projeto Biomas. Agora o material será entregue a editora para revisões e edições finais. Quando ele estará pronto não sei, mas deve ser bem mais rápido do que os 11 meses que eu levei para escrevê-lo.

Mas porque a demora? Primeiro que eu não fiz a viagem com o objetivo de escrever um livro. Até tinha esse objetivo, mas devido à montanha russa de emoções que vivi na viagem, não havia descoberto a melhor forma de fazê-lo, qual a narrativa usar.

Levei alguns meses na busca dessa narrativa, tinha a preocupação de fazer dele um livro para-didático, até porque esse é o nicho da editora que vai produzi-lo, mas descobri que a melhor narrativa seria a mais simples, a que eu estou acostumada a fazer. Simplesmente escrever com como sempre fiz, contando o que eu vejo com meu olhar e meu coração.

O processo de criação da narrativa começou assim, primeiro juntei todos os posts que escrevi no blog durante a viagem (foram 90 artigos) e joguei num documento digital gerando um arquivo com 100 páginas. Depois separei as mais de 2800 fotos, organizei por categorias, legendei todas as escolhidas e ainda fiz uma seleção com 60 fotos. Nem dá para dizer que são as melhores, mas procurei escolhê-las de uma forma com que uma simples passada por elas transmitisse uma pequena sensação do que foi a viagem, despertando de alguma forma que a curiosidade das pessoas em relação a viagem.

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Depois de encontrar a narrativa, algo que ocorreu uns dois meses após o retorno da viagem, posso dizer que embarquei novamente na cicloviagem, voltei ao meu primeiro post e resgatei tudo que ocorreu naquele dia, principalmente minhas sensações. Revia as fotos e percebia que não havia conseguido passar tudo que senti e vivi naquele post do blog. Comecei a acrescentar mais detalhes e enriquecendo a narrativa. Isso dia a dia o que fazia a quantidade de páginas só aumentar, transformando aquelas cem páginas se tornarem quase trezentas agora, quando finalizei a reedição, chegando no meu último post a São Paulo.

O mais maluco foi que apesar de ter aprendido muito sobre mim durante a viagem, esses 11 meses escrevendo o livro me acrescentaram muito mais. Entrei em conflito por diversas vezes, pois tanto meus sentimentos quanto meus objetivos em relação ao futuro mudaram muito durante esse tempo. Apesar de ter decidido que viveria da bicicleta quando retornasse de minha viagem, 2011 foi um ano com muitas dificuldades, tanto financeiras como nas minhas relações sentimentais.

Demorou mas consegui conciliar minha mente e meu coração para que ambos tivessem objetivos comuns, algo que não ocorreu durante a viagem e principalmente nos primeiros meses quando comecei a escrever o livro. Isso é algo que será fácil de notar durante sua leitura.

Foram várias as encruzilhadas que encontrei durante esse processo, principalmente quando ocorreram claros conflitos de sentimentos. Ao reler um texto onde estava sofrendo por um amor que deixou de existir surgia a dúvida. O que devo escrever agora? O que eu sentia ou o que eu sinto hoje? Ser fiel ao sentimento do momento ou deixar claro a mudança significativa que ocorreu?

Mais uma vez a solução foi deixar o coração responder. Alguns dias os dedos era ágeis e páginas e mais páginas surgiam no meu documento. Em compensação em alguns momentos travava tudo e ficava dias sem conseguir avançar uma linha sequer.

Quando participei do Encontro de Cicloturismo em Santa Maria Madalena, tive contato mais próximo com grandes cicloturistas que deram a volta ao mundo ou realizaram grandes cicloviagens e a todos perguntei o quanto sofreram com a distância das pessoas queridas. Todos foram unânimes ao responder que sentiam saudades, mas nada que os fizessem sofrer.

Foi quando notei uma diferença fundamental entre minha viagem e a deles. Todos tinham por volta de 20 a 25 anos, não eram casados ou deixaram amores para trás. Nenhum tinham filhos e suas viagens foram motivadas apenas pela vontade de desbravar o mundo que assola 99 em cada 100 jovens.

Já a minha foi muito diferente, saí para pedalar em busca de um verdadeiro sentido para minha vida que naquele ponto era como se tivesse acabado. A bicicleta e o cicloturismo não passou de uma última esperança de viver, pois foram vários os momentos que achei que minha vida não tinha mais o menor sentido.

Principalmente pela saudade do meu filho e a sensação de que eu havia perdido para sempre. Saber que ele estava crescendo, vivendo longe de mim e que eu não poderia mais interferir em sua vida, que eu não era mais relevante para ele.

Mas não apenas fiz a viagem como posso dizer que sobrevivi a ela e hoje terei um produto que poderá ser um dia motivo de orgulho do meu filho e até uma forma dele, mais tarde, conseguir compreender os motivos que levaram seu pai a se afastar dele, justamente num momento difícil em sua vida.

Outra coisa que percebi é que apesar de ter realizado a viagem sem acompanhante real, virtualmente centenas de pessoas viajaram comigo e ao compartilhar suas emoções comigo em dezenas de comentários ou emails que recebi. Foi muito bom saber que foram tantas as pessoas que passaram por situações semelhantes a minha e resolveram dividir não apenas sua dor mas seu amadurecimento emocional comigo.

Consegui encerrar um ciclo e apesar de ser ateu, acredito em energia e sinto que nunca estive tomado por uma energia tão boa como agora. Muitas coisas boas estão acontecendo num curto espaço de tempo e a finalização do livro é apenas mais um detalhe. Meu olhar está mais feliz, meu coração mais leve e minha mente confiante de que meu futuro será promissor.

Quantas foram as vezes que tive vontade de desistir, até porque observava que a vida dava tantas oportunidades a quem não merecia, enquanto a mim só colocava mais dificuldades em minhas conquistas.

Hoje encaro tudo isso como um teste, uma provação para algo muito maior que está por vir. Chega de reclamar das dificuldades, pois sei que da mesma forma que terei muitos amigos me ajudando, haverá também muitas pessoas torcendo e “trabalhando” pelo meu fracasso.

Isso é do jogo e mais do que nunca, agora estou no jogo pra valer e a melhor lição que eu tirei de todas essas experiências que eu tive nos últimos dois anos é que o que não me mata só tende a me fortalecer. E fica o recado, não apenas aos meus inimigos, mas principalmente aos amigos que sofreram quando achavam que eu havia desistido, que as baterias estão recarregadas e estou pronto para encarar  qualquer desafio. Não desistirei dos meus (e nossos) sonhos e que enquanto esse coração aqui no peito pulsar forte, estarei sempre pronto para todas as batalhas que virão.

Que venha o futuro, pois estou pronto para ele!

André Pasqualini