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Esse é um post dedicado às mulheres, principalmente àquelas que ainda são dominadas pelo medo e insegurança de pedalar. E tenho certeza que a história de vida dessa mulher também irá deixar muito marmanjo se perguntando se podem realmente se considerar grandes ciclistas.

Fazendo minhas pesquisas sobre a Transamazônica, rodovia que percorrerei em minha próxima aventura de bicicleta, cai na página da Wikipedia da Rodovia e lá acabei descobrindo que ela foi inaugurada em 1972 com grande divulgação na mídia internacional. Isso atraiu uma gama de aventureiros para explorar a floresta pela rodovia, inclusive ciclistas, sendo que sua primeira travessia de bicicleta foi realizada em 1978. O nome dessa pessoa? Louise Sutherland.

Louise Sutherland é uma Neozelandesa que nasceu em 11 de junho de 1926 e logo cedo se mostrou apaixonada por bicicleta. Não me aprofundei muito na história dela, mas tem informações bacanas a partir da sua página da Wikipedia, fica a sugestão.

Nessas pesquisas tive outra descoberta, Louise escreveu vários livros, inclusive um que se tratava de sua travessia pela Transamazônica, o título em inglês era “The Impossible Ride”, que na sua tradução em português virou “Amazônia, A Viagem Quase Impossível”. Claro que sai como um desesperado atrás desse livro publicado em 1990 em inglês e traduzido pela Totalidade Editora em 1991. Encontrei em um sebo em Pinheiros e corri para comprar, não é que além de encontrar o livro ele ainda estava autografado pela autora!

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Infelizmente as referências de Louise ficarão apenas nos fatos e aventuras que ela descreveu em seus livros, pois em 1994 (ano que realizei minha primeira tentativa de cicloviagem) Louise teve um aneurisma cerebral e veio a falecer. Uma pena que não terei a chance de ouvir dela um pouco das suas aventuras, mas ao menos o destino fez chegar em minhas mãos um livro que ela tocou, não imaginam o quanto isso representa para mim.

Devorei esse livro em 3 dias e que delícia. Falando um pouco da sua viagem, observem a foto abaixo.

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Conseguem imaginar uma “senhora” de 50 anos, com uma bicicleta urbana, aro 700 (ou 27, não dá para saber), com paralamas, um sistema de 6 marchas, algo novo para a época, pedalando sozinho por dentro da Floresta Amazônica? Vocês tem noção de quantas vezes ela ouviu que seria impossível, que ela iria morrer, que jamais chegaria viva no final da rodovia e principalmente que aquilo não era algo impossível para uma mulher?

Mas Louise, uma pessoa séculos luz a frente do seu tempo, ignorou todo terror que colocaram nela e se concentrou apenas no que ela aprendeu com as demais viagens que realizou em sua vida até então. Qualquer cicloturista que já se aventurou sozinho pelas estradas do mundo sabe que na pior das hipóteses, sempre haverá uma boa alma para nos ajudar e que a coisa de perto nunca é tão feia como visto de longe. Claro que ela cometeu erros que hoje consideraríamos bobos, teve ajuda da sorte em alguns momentos, mas nada disso diminui o tamanho do seu feito. Os erros dela são cometidos constantemente por ciclistas iniciantes e até mesmo por experientes, eu mesmo já cometi várias cagadas como ela cometeu.

A Louise surgiu em minha vida num momento que não poderia ser melhor, depois de tanto tempo longe das estradas, em alguns momentos fiquei na dúvida da minha capacidade, tanto é que antecipei a viagem da Amazônia com medo da idade, mas ela fez a 30 anos atrás o mesmo trajeto que farei em breve, em condições bem piores que as atuais. Dos 4 mil quilômetros que ela pedalou, com uma bicicleta completamente inadequada, maior parte desse trajeto foi em terra e lama, hoje são cerca de 1000 quilômetros sem asfalto.

Ela saiu de Belém do Pará, de onde a princípio também sairia, mas como a Rodovia Transamazônica começa na região metropolitana de João Pessoa, resolvi percorrê-la por completo e devo cruzar o caminho de Louise depois de uns dois mil quilômetros pedalados, a partir de então tentarei refazer muitos dos seus passos descritos no livro. Não sou religioso, aliás, sou até cético demais, mas tenho certeza que se houver uma forma de me comunicar com ela, isso acontecerá durante minha viagem.

Fica a sugestão, nesse link aqui é possível encontrar o livro da Louise em alguns sebos espalhados pelo Brasil, mas acho melhor correr, pois a partir do momento que a galera descobrir essa joia, esse livro se esgotará rapidamente.

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E que a linda Louise inspire ainda mais ciclistas como acabou me inspirando e motivando.

André Pasqualini