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A primeira vez a gente nunca esquece e no último final de semana realizei a minha primeira Cicloviagem em grupo , a Cicloexpedição pela Ilhas Comprida e do Cardoso, nessa minha nova fase que se iniciou quando resolvi que tornaria minha grande paixão (a bicicleta) minha fonte de subsistência.

Não foi a primeira excursão cicloturística que organizei, já levei mais de 80 ciclistas numa viagem combinada com trem e pedal, só o famoso Bonde para Curitiba já organizei três, sendo que em duas oportunidades levamos dois ônibus cheios de ciclistas (fechando um hotel inteiro), sendo que numa das viagens juntamos um grupo com mais de 100 ciclistas, entre nossa galera e de Curitiba, para descer pedalando pela Estrada da Graciosa. Organizei viagens complexas e alucinantes mas sempre motivado pelo prazer absurdo que eu sinto quando organizo eventos como esses, sempre também contando com a ajuda dos próprios participantes que não se colocam numa posição de simples “consumidor”, mas que na maioria das vezes enfia a mão na massa, trabalhando como verdadeiros guias.

Acontece que tudo isso eu havia realizado num momento diferente, dessa vez seria “business”, estou vendendo um pacote turístico e a relação que eu teria com os participantes deveria ser diferente, não poderia apenas contar com a ajuda do pessoal, pois uma vez pagando, eu teria a obrigação de suprir todas as suas necessidades, seria um verdadeiro guia para eles e consequentemente, teria que prestar um serviço a altura das suas expectativas.

Para quem acha que organizar uma viagem é fácil, que a gente só precisa trabalhar no dia da viagem, e que nosso trabalho é curtir o local como os demais turistas que compraram os pacotes está redondamente enganado. Meu trabalho começou dois meses antes de lançar a viagem, tem levantamento de custos, criação de um plano de viagem, divulgação, firmar parcerias certas, tudo isso nos toma um tempo enorme, que vai nos consumindo com a aproximação da viagem a ponto de você não fazer outra coisa a não ser trabalhar pela viagem nos últimos 3 dias.

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Durante a viagem então é mais trabalhoso ainda, acomodar as pessoas no ônibus, tratar com carinho as bicicletas delas (carinho com que raramente trato as minhas), organizá-los nas pousadas, fazer aquela turma toda cumprir os horários (muitas vezes tratando pessoas bem mais velhas do que você como adolescentes e adolescentes como adultos) e sempre visando o bem estar de todos, visando com que eles se sintam deslumbrados com a viagem, da mesma forma que você ficou na sua primeira estada no local.

Agora que não tem preço atingir esse objetivo, isso é verdade, fazia até eu esquecer o drama que era ver meu lucro diminuir a cada custo novo que havia ignorado. Vejo a viagem em flash, uma hora vem aquela alegria que tomou conta do ônibus na saída de São Paulo em contraste com a estafa generalizada, no retorno, depois da janta.

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E a alegria da ciclista que aprendeu a pedalar sem as mãos na Ilha Comprida, o deslumbramento de todos ao assistir os shows dos Golfinhos e das “Galinhas Rosas” (só estando lá para compreender), a alegria do pessoal durante a caminhada de mais de 20 quilômetros passando por um longo costão de pedras, uma linda praia deserta, uma trilha de Mata Atlântica intocada até a frias (ao mesmo tempo deliciosas) piscinas naturais, finalizando com o silêncio da volta, onde todos os ciclistas estavam completamente exaustos depois de tantas atividades. Eu que acordei com o corpo repleto de dores, fico imaginando como foi o dia seguinte dessa galera, com um cansaço fora do comum, mas um encantamento de ter passado um final de semana que poucos imaginavam que teriam.

Fazendo um curto resumo da nossa viagem, saímos de São Paulo as 19h50 do Butantã e seguimos rumo a BR-116. Jantamos num posto de gasolina próximo a cidade de Miracatu, chegando a cidade de Ilha Comprida depois da meia noite.

No dia seguinte iniciamos o dia com um café da manhã e rapidamente saímos para o pedal, foram 51 quilômetros pedalando pela Ilha Comprida até a cidade de Cananéia. O Sol aparecia constantemente entre as nuvens e uma leve brisa a favor facilitou a vida dos ciclistas, chegamos todos na cidade antes das 14h00, dentro do que havíamos previsto.

Depois do almoço na cidade, com um atraso de meia hora, seguimos de barco para a Vila do Marujá na Ilha do Cardoso. Apesar de eu já ter feito essa viagem dezenas de vezes, essa foi uma das mais agradáveis, com direito a muita cerveja, descontração, companhia de golfinhos, carranca viva, uns pássaros rosas que ninguém conseguiu identificar a espécie e muita descontração.

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Na Ilha do Cardoso a noite foi tranquila até certo ponto, descobrimos que não é uma boa ideia ir para lá em Lua Cheia, sofremos muito com as “porvoras” e os mosquitos, da próxima vez juro que olho pro calendário lunar antes de agendar uma viagem, até porque nunca sofri tanto como dessa vez.

No domingo madrugamos as 6h00 da manhã e partimos para uma caminhada de 12 quilômetros até as Piscinas da Lage, sendo 2,6 quilômetros de praia, 1,3 quilômetros de costão de pedras, 5,5 quilômetros pela Praia da Lage e mais 2,2 quilômetros de trilha em Mata Atlântica nativa até as piscinas naturais da Lage. Uma caminhada bem dura, foram quase 9 horas de caminhada com cerca 20 guerreiros e guerreiras.

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Com o grupo já meio em frangalhos, chegamos na vila do Marujá por volta das 15h30, meia hora depois do que havíamos pensado em realizar nosso retorno a Cananéia, mas com base no tempo que gastamos na ida, aparentemente todo mundo já estava conformado com o atraso e lá estávamos todos, as 17h00 em ponto, dentro do barco, pronto para partir. Todos menos o capitão do barco, que havia saído desesperado atrás de uma bateria emprestada para fazer o barco pegar.

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As 17h30 começamos o retorno, mas dessa vez tivemos uma ajuda da maré, como o canal que contorna a Ilha do Cardoso é extenso, no trajeto até a metade da distância a maré escoa contra o barco e passando essa metade ela vai ao nosso favor (explicação na imagem abaixo) e isso fez nosso retorno ser quase uma hora mais veloz que a ida.

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Desembarcamos em Cananéia antes das 20h00 e rapidamente estávamos na estrada, retornando a São Paulo. Mesmo com a parada para janta em Registro, chegamos pouco além da meia noite o que frustrou os planos de alguns em ir embora de metro, mas assim mesmo, quem não estava de carro, ainda ganhou uma carona do ônibus até próximo de suas casas.

Pela forma que estavam todos quando encaramos a estrada depois da janta, dá para imaginar o quão desgastante e intenso foi o passeio, mas podem se acostumar, pois todas as viagens que eu organizar terão a intensidade e o ritmo que costumam ocorrer em minhas próprias viagens. Eu sempre digo que não tiro férias para descansar, mas sim para “me cansar” e espero que o pessoal tenha curtido toda intensidade da nossa viagem, mas só vou ter certeza disso se encontrá-los na minha próxima aventura.

Fiquei muito feliz com o resultado, curti cada minuto que passei com vocês e vejo como promissora essa “vertente” das minhas formas de ganhar a vida, mesmo vendo que o balanço final não foi tão positivo quanto eu imaginava, mas de boa, não tive prejuízos e isso que mais importa nesse momento. Era a minha primeira viagem e ela deveria ser perfeita, não foi aos meus olhos e nunca será, o que faz com que os eventos que eu organizo sejam cada vez melhores e maiores, já que nunca desisto da busca da perfeição.

A próxima viagem será em janeiro, ainda estou tentando definir nosso destino e espero ter essa definição dentro de duas semanas. A certeza é que será no sul de Minas e que dessa vez vocês terão um desafio um pouco maior, algo que sempre me fascinou e espero que os fascinem também que é vencer grandes montanhas.

Agradeço a todos pela companhia e pela paciência, espero vê-los mais vezes em outras viagens e aguardem a próxima. Deixo o campo de comentários livre para a galera que foi se manifestar da forma que achar melhor e também para sugerir próximos destinos, pois lugares maravilhosos para pedalarmos é o que não falta.

André Pasqualini