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O post de hoje teria o seguinte título: “Que estrada horrível” que serviria de gancho para criticar as condições das estradas brasileiras, o comportamento assassino da maioria dos motoristas brasileiros e principalmente a omissão das autoridades que permitem que nossos motoristas dirijam como quiserem.

Mas sempre tem a cereja do bolo, aquela foto da capa tirei logo após levar uma “geral” de uns policiais rodoviários. Isso mesmo, em 17 anos de cicloturismo, pela primeira vez tive minhas malas e meus miojos revirados por um policial. Sabe como é…

“O que é isso?”

“Cisal”

“Pra que?”

“Amarrar coisas”

“Que coisas?”

“Minha rede, lamparinas de vela, fazer varal, me enforcar ao ser interrogado…”

Vou começar contando como foi meu dia, armei minha rede embaixo de umas arvores ao lado de um restaurante na BR-163. Poderia ter vindo de Cuiabá por ela mas tinha outra alternativa, a MT-010, estrada nova que não tem trafego de caminhão e um acostamento ridículo (pelo menos tem).

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Já essa BR, além do tráfego pesado, praticamente não tem acostamento e é muito estreita. Aliás qualquer BR que não passou por reformas é estreita demais, mal cabem os caminhões de hoje nas faixas de rolamento.

Havia colocado os pneus slicks, mas como a todo o momento tinha que me jogar no mato (onde seria o acostamento), obviamente eles não duraram muito, Uma pena pois a diferença de rendimento no asfalto é gritante.

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A velocidade permitida na via é 80 km/h, mas para variar, as placas não passam de enfeites, pois raros são aqueles que andam abaixo do limite. Os caminhões que até então não eram problemas, aqui passavam a toda, sempre muito acima dos limites de velocidade e ocupando toda a faixa, extremamente perigoso.

E a polícia? Hoje até estranhei, mas vi umas 5 vezes uma viatura da PRF passando por mim. Não que eles estivessem fiscalizando algo, pois eles não metem medo em ninguém. Vi até uma viatura ser empurrado por outros motoristas insandecidos. Motorista folgado sabe como é, não respeita nem polícia.

Essa é mais uma estrada da morte, cheia de cruzes. Agora corto o meu braço se em um desses acidentes os motoristas estavam dentro dos limites. O respeito ao limite de velocidade não salvaria apenas vidas humanas, mas a da infinidade de animais que “ousam” atravessar a via.

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Até parei de tirar fotos de carcaças atropeladas pois teria que comprar outro cartão de memória, mas difícil colocar na cabeça desses motoristas que andando dentro dos limites, metade desses animais não morreriam e todos chegarão aos seus destinos. Já acima do limite, sempre alguém vai ficar no caminho.

Essa rodovia faz parte do PAC. Agora a pergunta, cade o resto do acostamento? Tenho certeza que, na hora de pagar, pagamos por ele inteiro.

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No caminho encontrei mais um Cicloturista, o Juliano de Sinop. Ele esta fazendo um pedal pra lá de puxado, pedalou de Sinop a Lucas do Rio Verde e ontem foi até Rosario para hoje chegar em Campo Verde, depois da Chapada. Ele me encontrou e deu uma força por causa de mais um pneu furado, onde tive que trocar novamente o slick pelo cravão.

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Segundo ele, depois de Lucas a estrada é plana e tem um acostamento impecável. Realmente a medida que avanço em direção a uma das regiões mais ricas do Mato Grosso, o asfalto e o acostamento melhoram. Bom para mim, mas temo pela sua segurança, pois pra ele ocorre o contrário. Quanto mais pobre a região pior a estrada.

E a polícia? Acho que todo mundo que deseja ser policial, imagina uma vida prendendo bandidos. Eles deven achar um rebaixamento “perder” tempo fiscalizando excesso de velocidade, algo que salvaria vidas.

Passei por várias viaturas, NENHUMA e estava tentando coibir abusos de motoristas, como se isso fosse um problema pequeno, mas o surpreendente ocorreu a uns 40 kms de Nova Mutum. Vejo uma viatura parada mandando eu encostar. Perguntei se era comigo mesmo e disseram que sim.

Já fui parado várias vezes por PMs na estrada, só uma vez tive problemas, em 97 quando ainda vigorava o antigo código de trânsito e tentaram boicotar nossa viagem. Mas sempre que sou parado é mais pela surpresa, as vezes o PM é ciclista e sempre acabo recebendo apoio, elogios e principalmente dicas de quem conhece a estrada, mas dessa vez foi bem diferente.

Primeiro começaram as perguntas de praxe mas não olhavam para mim e sim para a minha bagagem. Depois venho a pergunta “posso olhar as suas malas?”

“Vocês querem me dar uma geral? Em 17 anos de estrada essa é a primeira vez que isso me acontece” (parece até desenho do pica pau)

Sim, abriram minhas malas, revistaram meus miojos, minhas roupas sujas, estranharam até o meu cisal. Ainda bem que não viram o meu facão, já imaginaram?

Como explicar que fui constantemente aconselhado a levar um facão para o Pantanal e que ganhei um de uma criança de 11 anos?

Dicas de estrada ou rotas alternativas? Nenhuma. Dicas de pontos de apoio? Nenhuma. Perguntar se estou precisando de algo? Nada. Mas me disseram que a revista era para a “minha segurança”.

Gozado, fico imaginando o que eles poderiam encontrar na minha mala que me traria segurança. Acho que meus conceitos sobre segurança são bem diferentes, não apenas desses policiais, mas de toda essa instituição que tanto diz que trabalha para nos proteger.

Alguém conta pra eles que para a minha segurança, melhor do que amassar meus miojos é fiscalizar os absurdos que ocorrem nas rodovias. “Mas não temos efetivo suficiente…”

Simples, peguem o dinheiro que sobrou do acostamento pela metade e contratem mais policiais. Depois só com o dinheiro arrecadado punindo os motoristas que colaboram com a “Industria da Multa”, daria para montar um batalhão do BOPE em cada rodovia.

Enquanto a única coisa que a Policia Rodoviária faz, além de dar geral em ciclista, é aparecer na TV contando quantos morreram na estrada, vamos continuar a ser chamado de loucos, de aventureiros (não pela aventura mas sim por causa do risco que corremos) e torcendo para um dia que essas instituições tomem vergonha na cara e resolvam trabalhar.

Bem, voltando ao trajeto, ontem foram uns 150 kms com muita subida e estrada horrível. Hoje pretendo chegar em Sorriso, outro pedal longo que promete ser menos puxado. Portanto vou para estrada e torcer para nenhum policial encher meu saco. Já que não vão me ajudar, ao menos não me atrapalhem!