Sou um ferrenho defensor dos pedestres. Creio que mais até do que defendo os ciclistas. Primeiro, porque todo mundo é pedestre. Segundo, porque, quanto mais gente nas ruas, mais valorizado será o espaço público. Óbvio que nossa cidade não dá a mínima para o pedestre, mas me revolto quando alguém, para justificar sua estupidez, aparece com o ridículo argumento do “pedestre folgado”.

Quer dizer que, se um pedestre cometer uma infração, o motorista ganha salvo-conduto para “dar-lhe uma lição” ou mesmo matá-lo? Então, se um “pedestre folgado” der um tiro em cada motorista que estaciona na calçada, ele estará no seu direito! Pior é que esse comportamento assassino não passa de reflexo da impunidade que impera no trânsito brasileiro. Enquanto um cara que é acusado de matar uma mulher – cujo cadáver nem existe ainda – vai preso (não que eu ache que ele não deva ser preso), outro que atropelou e matou um garoto, com carro modificado, que subornou um PM, não deve dormir um único dia na cadeia. Duvido que o garoto que atropelou o filho da atriz Cissa Guimarães vá preso.

Tem também a omissão dos agentes de trânsito, às vezes nem por culpa deles. No domingo, conversei com um agente da CET, e ele me disse que não pode multar o motorista que tira fina do ciclista. Até me mostrou a relação das multas que pode aplicar, e essa não está lá. Apenas a PM pode aplicar essa multa.

Cansei de ver motoristas cometendo as mais bizarras infrações de trânsito na frente de PMs, e raros são aqueles que colocam a mão no talão de multa. Já os amarelinhos que até querem autuar não podem. Aliás, até podem realizar algumas punições, mas se concentram no rodízio, algo que impacta diretamente na fluidez. Por que não priorizar o desrespeito à faixa de pedestres? Ordens de cima? Já que o poder público se concentra nas infrações que atrapalham a fluidez e ignora as que faltam com o respeito à vida e à cidadania, o ciclo se inicia. O motorista estressado assume o papel de juiz e executor. Coitado do pedestre que está na hora e no lugar errados. Pouco importa se ele atravessa fora da faixa porque não há faixa perto ou, quando há, a travessia nela é mais perigosa, devido ao fato de os motoristas fazerem conversão em terceira marcha. O que importa, pensa o motorista, é que “sou mais forte, tenho mais dinheiro, mais direitos”. No fundo, ele está certo. Pois, se der sorte de não atropelar alguém famoso, dificilmente terá problemas se matar um pedestre.

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