Em 2010 fui convidado para uma pesquisa que uma empresa de desenvolvimento de produtos chama de “Entrevista com especialista”. Na entrevista fizeram diversas perguntas sobre os desejos de um ciclista urbano e ao final me apresentaram três protótipos de bicicletas, duas aro 700 e uma aro 26. Nenhuma das bicicletas tinha os desenhos de MTB, todas tinham características urbanas.

Fiz minhas considerações, falei da importância em se atentar em detalhes que farão a diferença para o ciclista urbano, como paralamas, bagageiros, cestas de guidão, quadro com cano central rebaixado que facilitam a vida do ciclista ao subir na bike e principalmente em relação a postura do ciclista que deve ser mais ereta buscando o conforto e não inclinada como nas MTBs e Estradeiras que buscam o desempenho.

Perguntei quem estava produzindo a bicicleta, mas o máximo que puderam dizer foi o nome de três empresas, uma delas a Tito Bikes do Antonio Caloi (também conhecido como Tito Caloi), que ela seria vendida em Supermercados, na faixa de 600 reais.

Semanas atrás recebi um link através das redes sociais de uma bicicleta Taek, marca do Pão de Açucar e quando abro o link, não era praticamente a mesma bicicleta que eu havia feito a pesquisa?

Pelas fotos deu para ver que era praticamente a mesma bicicleta que eu avaliei, com bancos e manoplas de couro, paralamas, aparentemente tinha furação para bagageiro e uma informação que já imaginava equivocada, que os pneus eram aro 27 e não 700 como a que eu avaliei. Então fui até um Extra conhecer a magrela e fazer minhas considerações.

O Preço – R$849,90

Quando acessei o site pela primeira vez, havia um link para a loja do Extra e ela estava sendo vendida por R$699,00, mas atualmente ela está indisponível no site. Já na loja física o preço é R$849,90. Apesar de mais caro ainda considero um preço justo, principalmente se compararmos com as opções que temos no mercado.

Última atualização, (24/10/2011) uma bicicleta praticamente idêntica, com pequenas mudanças e mais barata está sendo vendida na Centauro é a Tito Urban 700 por R$749,00. Essa tem aro aero, banco diferente mas não vem com paralamas, que podem variar entre R$25,00 e R$120,00, aí é a gosto do cliente.

Qualidade e componentes

Quadro é de alumínio, vem com cambio Tourney, não é da linha top da Shimano mas tem qualidade.  O freio não é top, mas também não compromete. Conjunto coroa e pe-de-vela também não são tops, pode ter uma vida curta nos pés de ciclistas que pedalam de forma mais agressiva, mas essa é uma bicicleta urbana, onde o desempenho e velocidade não é a prioridade, portanto atende bem o público alvo.

Detalhes importantes em uma bicicleta urbana

Paralamas: Bicicleta urbana tem que ter paralamas, não só para o ciclista que pedala na chuva, mas para pedalarmos depois de uma chuva, passar por aquela poça ou sujeira na pista mesmo em dias secos. Muito pior do que a água que vem de cima é aquela que vem de baixo, tanto é que assim que começamos a pedalar com mais regularidade, a primeira coisa que instalamos na bike são bons paralamas.

Instalar um paralama em uma bicicleta de MTB é complicado devido a sua geometria e até porque uma MTB não pode ter um paralama muito envolvente, pois numa situação de lama (para qual essa bicicleta é originalmente produzida) o barro fica preso entre o paralamas e o pneu, travando a roda.

Há outras bicicletas ditas urbanas no mercado, como exemplo a Easy Rider da Caloi, mas a dificuldade para se colocar um paralama nela é tamanha que é necessário trocar o câmbio da coroa só para poder instalá-lo.

Desenho do quadro: Bicicleta urbana precisa de conforto, praticidade e não de desempenho. O ciclista tem que ficar com o tronco mais na vertical possível e não na horizontal para ter menos resistência do ar. O quadro com cano superior rebaixado facilita o uso de roupas mais casuais, o ciclista entra de frente na bicicleta e não jogando a perna para o ar como se fosse subir num cavalo. Mulheres de vestido agradecem.

Furação para bagageiros: Um bagageiro bom é caro, custa cerca de 100 reais, mais de 10% do valor dessa bicicleta por exemplo. As grandes fábricas de bicicleta alegam que não entregam de fábrica as bicicletas com bagageiros e paralamas pois seu preço aumenta de forma considerável. Já que ela não vai sair com bagageiro, no mínimo que ela já venha com a furação para parafusarmos no quadro.

Algo simples que sempre imploramos para as fabricantes nacionais de bicicleta e raramente somos atendidos. Agora se você for comprar qualquer bicicleta importada, até mesmo as MTBs, as chances delas virem com a furação são enormes.

Considerações finais

No conjunto é uma boa bicicleta e apesar de terem aumentado o preço, ainda está num valor justo. A bicicleta que mais se aproxima dela é a Easy Rider da Caloi que tem como preço sugerido R$1.099,00.

A Easy Rider tem suspensão, já a Taek não tem, mas como estamos falando de uma bicicleta urbana, onde ela vai andar basicamente em asfalto, não vejo necessidade de suspensão. Tanto é que assim que as suspensões das minhas bicicletas perdem o efeito, eu troco por um garfo de alumínio, mais leves e com uma vida útil bem maior.

Outro detalhe, no site está dizendo que a bicicleta é aro 27 mas não é. Essa é uma bicicleta com aro 700, isso é algo relevante, aros 27 são maiores que as aros 700 e raros de serem encontrados. Já as bicicletas com aro 700 (maiores que as 26 e ideais para o uso urbano) são mais comuns e bem mais fácil de encontrar no mercado.

Considero uma excelente bicicleta para aqueles que estão começando no mundo das magrelas, um bom preço e boa qualidade. Posso dizer que é a bike mais urbana de fabricação nacional que há no mercado. Por trás dela se esconde a marca Tito Caloi, no mínimo algum conhecimento do mercado podemos dizer que há.

Precisamos de concorrência para a bicicleta crescer, no mundo das bikes, o mercado direcionado as urbanas é maior do que todos os demais seguimentos juntos. Eu considero a melhor porta de entrada para o mundo da bike, o ciclista começa usando a bike para pequenos deslocamentos e como lazer, até ser contaminado pelo vírus da bike, aí sim ele vai para trilhas, estradas, cicloviagens e bicicletas com maior valor agregado.

Já adianto, não estou ganhando ($) nada por esse artigo, minha principal motivação nunca foi dinheiro e agora não será diferente. Observei uma dúvida geral sobre essa novidade e vislumbrei uma excelente possibilidade de ver cada vez mais ciclistas nas ruas, por isso escrevi esse post. Espero que essa novidade aqueça o mercado das bicicletas urbanas no Brasil, considero até algo ousado e que vai chamar atenção das grandes fábricas nacionais reforçando a importância delas terem em seu portfólio uma linha urbana de verdade, da mesma forma que encontramos nas grandes marcas mundiais.

André Pasqualini

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